Bento Augusto Sousa Morais, natural e residente em Esqueiros Vila Verde, de 69 anos, completa agora 15 anos de provedoria na Santa Casa da Misericórdia. Com o percurso de vida atribulado entre África e Portugal, tem feito de tudo para que a instituição continue sempre a progredir.
A remodelação e ampliação do hospital são obras que quer ver concretizadas rapidamente. Realçando sempre a importância da solidariedade social, tem dedicado a sua vida a essa causa, sendo a satisfação dos vilaverdenses e de todos os colaboradores da Santa Casa que lhe dão ânimo e força.
Como foi o seu percurso até chegar a provedor?
O meu percurso foi um bocado acidentado e não foi fácil… Para fugir á tropa, à mobilização da altura em 1965, fui acabar o 7º ano de escolaridade a Lourenço Marques. Como não havia cursos oficiais milicianos, tive de ir para Mafra para a infantaria 6, e quando acabei tive de voltar para casa para a indústria do meu pai. Entretanto ele faleceu e tive que ficar com o meu irmão a gerir essa indústria familiar. Entretanto, já tinha feito 3 anos e 3 meses de tropa e voltaram-me a mobilizar para eu ir para África. Não cheguei a ir para a guerra, mas enviaram-me postais para tirar o Curso de Promoção a Capitães (CPC) milicianos, mas como eu namorava, e a namorada teve de ir para Lourenço Marques, porque tinha lá os pais, eu fui atras dela e mais tarde casei lá. Como tirei o curso de CPC mandaram-me de volta para Mafra e mais tarde voltei para Africa para a descolonização e nacionalização de Moçambique.
Regressei em 1976 onde fui logo procurado para entrar nas listas para as eleições autárquicas. Fui candidato a presidente de junta de freguesia, depois fui para a lista do António Cerqueira onde fui vereador e mantive-me até 1995. Fui Presidente da câmara dois anos 96/97, e era já presidente da assembleia-geral da Misericórdia, mantive-me como presidente durante 15 anos até que o provedor faleceu e eu tomei o lugar dele em 1997.
Que balanço faz dos anos anteriores?
Eu acho que cumprimos. É uma empresa respeitada a nível nacional pela união das misericórdias, pelas entidades da tutela, pelo ministério da segurança social e ministério da saúde. Mas não somos compensados, pois temos muitas crianças que ainda não têm acordo e estão-nos a custar os olhos da cara. Também na área da saúde temos um atraso muito grande nos pagamentos e, por isso, cria-nos dificuldades quer nos pagamentos aos fornecedores, quer no pagamento aos salários dos trabalhadores.
Este ano a santa casa dispõe de um orçamente de 20 milhões de euros. São valores muito diferente dos que despôs anteriormente?
Tem crescido uma média de 7 %, desde que estou cá. O orçamento nunca parou de crescer e é por isso que antes tínhamos 50 funcionários e hoje temos 500 colaboradores, e para o ano esperamos manter o mesmo crescimento. Apesar das dificuldades da crise e do país andar para trás, nós tentamos sempre andar para a frente.
Sei que se diz apostado em contrariar as dificuldades da crise e garantir as melhores condições de resposta às carências da comunidade. Como pretende dar essa resposta?
Hoje por exemplo discute-se o encerramento de vários hospitais, são hospitais que têm custos para o erário público, enquanto a misericórdia é um serviço que não tem custos para o erário público porque não tem grandes funcionários públicos, não tem administrações públicas, ou seja, produz riqueza para sustentar e dar os vencimentos ao fim do mês. São empresas locais que devem ser acarinhadas e acompanhadas porque o estado sabe que se fosse ele a fazer este serviço iria custar-lhe o dobro, pois tem experiência de lares de terceira idade em grandes cidades que, aquilo que segundo dizem, custa-lhe 1500/1600€ por utente enquanto nós aqui conseguimos fazer entre 750/800€ por utente. Por isso mesmo, acho que há muita mais dedicação, há mais carinho, há mais amor e há mais acção nas misericórdias.
Que projectos destaca dos mandatos anteriores?
Na parte social temos aumentado o equipamento, entretanto construímos o lar, duplicamos a creche, duplicamos o pré-primário, enfim temos aumentado muito as ofertas da parte social.
Qual é o projecto que gostaria de ver concretizado até abandonar a provedoria?
Nós temos um plano estratégico para 5 anos, que é a remodelação de todo o hospital. Vai demorar dois anos e meio, que passa por aumentar 60% o número de camas do internamento, mais um bloco operatório de ambulatório, aumentar o número de consultórios…É um projecto que vai rondar os 5 milhões de euros, 70% dos quais serão financiados pelo programa operacional ON2.
Qual foi a sua maior batalha?
A maior conquista foi sem dúvida o hospital! Era um edifício abandonado, com portas escancaradas, tudo cheio de ratazanas. Metemos as mãos á obra, porque sabíamos que se fizéssemos um serviço bem feito iríamos ter utentes. Preparamos bem a unidade com duas salas de operações, 50 camas de internamento, vários consultórios e começamos assim a trabalhar. Os bons médicos foram aparecendo, fomos adquirindo bom equipamento e hoje passam por aqui, em média, 600 utentes por dia.
É difícil conciliar a vida particular com a profissional?
Tenho filhos graças a Deus, tenho mulher, tenho netos mas desde que haja vontade, dedicação e amor á causa nada é impossível de conciliar.
Como gostaria de ser recordado quando um dia deixar a Santa Casa?
A melhor marca é o pessoal que vai passando pela Santa Casa, os trabalhadores. Quando falo deles não me contenho, é muito gratificante saber que todos os funcionários estão felizes e satisfeitos por trabalhar aqui, e por isso procuro todos os dias cumprimentá-los, dar os bons dias sempre que possível logo de manhã. E eu costumo dizer que no meio de tanta gente que trabalha aqui não consigo encontrar nenhuma “ovelha ranhosa” que trabalhe ao contrário! Está tudo a funcionar em pleno, sendo que sozinhos eles aguentam a casa, por isso ser provedor não custa nada (risos).
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