Um executivo português pega num telemóvel topo de gama para falar com um parceiro de negócios em França. Ambos carregam num botão no ecrã do aparelho para activar a funcionalidade de tradução automática. Cada um pode agora falar no conforto da sua língua mãe: o aparelho faz o reconhecimento de voz de cada um dos lados e uma voz computorizada traduz o discurso, em tempo real.
A tecnologia ainda é ficção científica. Mas faz parte da visão de futuro do Google, uma das empresas que tem estado a investir muitos recursos em várias ferramentas de tradução automática.
A empresa já desenvolveu para o sistema Android (um sistema operativo que qualquer fabricante pode usar em smartphones) uma aplicação, gratuita, para fazer traduções de vários tipos. Uma das funcionalidades permite a tradução de SMS.
A tradução é eficaz, desde que a escrita seja ortograficamente correcta. Abreviações e trocas de letra (tão comuns na linguagem das mensagens de texto) dão maus resultados.
A aplicação – chamada Google Translate – contempla várias dezenas de línguas, para a tradução de SMS. Mas também tenta fazer reconhecimento de voz – uma funcionalidade que ainda está em fase alfa (o que significa que é muito experimental) e que só suporta inglês e espanhol. O utilizador fala numa destas línguas e a aplicação sugere, em texto escrito, a tradução na outra.
“O nosso reconhecimento de voz recolhe muitos exemplos de sons falados e das palavras que representam”, explica ao PÚBLICO o director da investigação científica do Google, Peter Norvig, um ex-cientista da NASA e uma das grandes autoridades mundiais no campo da inteligência artificial.
Norvig parece reconhecer que ainda há muito caminho a percorrer na afinação da tecnologia, ao qualificar o tradutor de voz “como aquilo que está, por agora, mais perto de um tradutor universal de ficção científica”.
Traduções mais eficazes
O Google, porém, já é muito mais eficaz a traduzir texto. Em translate.google.com é possível encontrar um tradutor de blocos de texto ou de páginas Web que faz traduções entre dezenas de línguas (embora ão tão bem como um tradutor humano).
Há ainda uma ferramenta experimental (que tem de ser activada pelo utilizador), que permite configurar o Gmail para que e-mails que não estejam em determinadas línguas sejam automaticamente traduzidos (já pode perceber todo o spam asiático que recebe na sua caixa).
Por fim, o browser do Google (o Chrome), tem uma ferramenta que traduz automaticamente sites em línguas estrangeiras – quase perfeito para ler o que os jornais dos países europeus estão a escrever sobre a crise portuguesa.
“Estamos a investir imensa energia no que chamamos ‘tradução por máquinas’, já que vemos um enorme potencial em derrubar as barreiras de linguagem de quem usa a Web”, diz Norvig. O raciocínio faz sentido: quanto mais páginas os utilizadores conseguirem consumir, mais olhos o Google tem para mostrar os anúncios publicitários de onde provém a esmagadora maioria das receitas da empresa.
Quando o Google cria uma tradução, procura padrões em milhões de documentos que já tenham sido traduzidos por humanos. Esses padrões são usados para decidir qual a melhor tradução para uma palavra ou frase.
O serviço de tradução “cobre 50 línguas, traduzindo entre qualquer par delas”, frisa o responsável. “O sistema que construímos dá-nos a possibilidade de adicionar novas línguas rapidamente. Fomos capazes de adicionar o Farsi [falado no Irão e no Afeganistão, por exemplo] e o crioulo haitiano em apenas uma semana, quando se tornaram importantes por causa dos acontecimentos mundiais”.
O gigante da Internet, contudo, não é o único a desenvolver sistemas de tradução. O motor de busca Bing (o rival da Microsoft que tem vindo a crescer em quota de mercado) também oferece um tradutor automático de textos e sites.
Fonte Jornal Público por João Pedro Pereira
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