O oleiro barcelense de 81 anos tem clientes de todo o lado e até em Barcelona. Lamenta não ter seguidores nem alunos para ensinar uma arte secular que está em risco de desaparecer na região.
"Os meus pais (Manuel e Maria) eram oleiros e foi ali mesmo, em casa, enquanto trabalhavam, que eu nasci". Júlio Alonso, artesão de 81 anos, de Galegos Santa Maria, Barcelos, faz púcaros desde que deixou a antiga terceira classe, e hoje será o único no Minho a conceber loiça negra utilitária.
A necessidade virou paixão. Mas os quatro filhos não lhe seguem a peugada ("mal paga o trabalho"), os utensílios em ferro, inox e plástico massificaram-se e o conterrâneo João Lourenço só pontualmente cria peças pretas, sempre inovadoras.
A arte chegou à região em 1645 e corre sério risco de desaparecer. No país resiste ainda em Vilar de Nantes, Bisalhães, Gondar, Fazamões, Molelos, Olho Marinho e Miranda do Corvo.
A olaria é preta devido ao fumo. As peças moldadas vão ao forno a altas temperaturas e cozem duas horas; não pode haver labareda nem fuga de fumo, senão ficam manchadas, conta Júlio Alonso.
O artesão de mérito pela Comissão Nacional para a Promoção dos Ofícios e das Micro-Empresas Artesanais nasceu a 31 de Outubro de 1928, em Escariz S. Mamede, Vila Verde, de raiz espanhola. Trabalha a roda "só para entreter os dias" e aceita ensinar o mister, "mas nenhuma entidade aproveita".
A função utilitária de talhas, alguidares, cântaros e cabaças "passou com o tempo a decorativa", logo reduziu o tamanho dos exemplares e criou chaminés, presépios, cristos, santos, animais ou galos "muito perfeitinhos". O preço unitário das peças varia entre um e 25 euros.
Júlio tem encomendas de Chaves, Vila Real, Barcelona e clientes habituais nas feiras de artesanato nacionais. Logo após casar com Gracinda, em 1951-55 trabalhou em várias fábricas de Galegos. "Quanto mais fazia, mais ganhava. A esposa andava quilómetros com o filho ao colo para me dar o almoço".
À noite faziam em casa vasos, jarras e potes em loiça vermelha polida e branca. Em 1955-61, antes de os filhos irem estudar, laboravam no Inverno para vender nas romarias, de início com o cesto à cabeça : Matosinhos, Porto, Guimarães, Viana, Póvoa, Lisboa, Vila Franca de Xira, Lamego, Ourém, Santarém, Tomar. Um cliente encomendou muitos cinzeiros e Júlio decidiu construir um forno. A experiência resultou e, desde então, produz sobretudo em preto. Fonte JN por Sérgio Freitas
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