Pires
Braga é um dos três locais da Europa onde se verificam mais casos de misticismo e bruxaria.
Por diversas vezes deparamo-nos com abusos e prepotências vindos daqueles que administram alguns serviços públicos. São situações que revelam alguma falta de respeito pelos utentes e pela sociedade em geral.
O episódio que aqui vou apresentar ocorreu há mais de cem anos, na freguesia de Moure, concelho de Vila Verde.
Decorria a Primavera de 1889 quando, nesta freguesia vilaverdense, ocorreram boatos que duas raparigas, solteiras, estavam grávidas. Como em quase todos os boatos, a sua origem foi duvidosa, pois presume-se que terá partido de umas mulheres da freguesia que, envoltas num ambiente de ciúmes, terão feito queixa às autoridades do concelho de Vila verde.
Perante esta denúncia anónima, o administrador do concelho de Vila Verde não se coibiu de mandar averiguar o que se passava de facto com estas duas raparigas. Em pouco tempo, o administrador do referido concelho resolveu chamar à sua administração as duas raparigas, para serem submetidas a exames médicos.
As duas jovens, uma delas de menor idade, vieram acompanhadas, uma pelo avô, outra pelo irmão mais velho. Envergonhadas com a enorme exposição a que estavam a ser sujeitas, as raparigas lá entraram no edifício da administração concelhia, para serem submetidas a exames que comprovassem, ou não, a sua gravidez.
Os respectivos exames a que as jovens, contra a sua vontade, foram sujeitas, comprovaram que nada de anormal se tinha passado com elas. No entanto, o administrador do concelho, pouco convencido da veracidade desses exames, ordenou que as mesmas se apresentassem de novo nessa administração, daí a três meses, para serem novamente sujeitas a exames médicos que comprovasse, ou não, a grav idez das mesmas.
Esta decisão do administrador do concelho provocou uma forte indignação dos familiares das jovens raparigas, uma vez que eram famílias humildes, com parcos recursos económicos, mas com princípios éticos de grande elevação.
O caso, muito falado em Vila Verde, indignou uma grande parte da população deste concelho, acabando muita gente por incentivar os familiares das jovens a actuarem criminalmente contra o administrador do concelho, facto que se veio a confirmar.
Recorde-se que a lei referia que as jovens solteiras, suspeitas de gravidez, deveriam ser sujeitas a um exame médico, de maneira a controlar o nascimento dos filhos, uma vez que na altura verificavam-se vários nascimentos indesejados, aos quais se seguiam o desaparecimento das crianças. Mas a decisão deste administrador do concelho de Vila Verde é que não agradou nada à população, uma vez que este se baseou apenas em boatos.
De facto, a sociedade minhota estava num nível de menor desenvolvimento, relativamente ao que se verificava no resto do país, principalmente no centro e sul. Por curiosidade, basta apenas recordar que, nesse mesmo ano de 1889, abria em Lisboa a primeira clínica “médico-cirurgica” liderada por uma mulher. Tratava-se da médica Elisa Augusta da Conceição Andrade, que abriu um consultório para mulheres e crianças, em Setembro de 1889.
Por curiosidade constatamos que, ainda na actualidade, Braga é um dos três locais da Europa onde se verificam mais casos de misticismo e bruxaria. Os outros dois locais são Paris e Turim. Os montes entre o Bom-Jesus, o Sameiro e a Citânia de Briteiros estão constantemente com velas, com sacos pretos e galinhas mortas... Fonte Correio do Minho por Joaquim Gomes
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