Vila Verde: Vilaverdenses caminham até Santiago


Um dia, algures em Maio, Flávia Peixoto, vilaverdense, de 33 anos, saltou da cama e decidiu que iria percorrer o Caminho até Santiago de Compostela. Deu a conhecer a sua intenção no Facebook - onde criou uma página para postar todos os passos que dava e todas as imagens que a fossem marcando - e depressa angariou mais três ‘cúmplices’ para a acompanharem nesta grande jornada. Maria Luísa, Aurora e Manuel Gonçalves (Nélito) juntaram-se a Flávia e juntos percorreram os maravilhosos Caminhos de Santiago numa viagem apeada, aventureira e, acima de tudo, “transformadora”.
“Quando tornei público no Facebook que ia a Santiago, muita gente vinha ter comigo a falar-me disso, do quanto queriam ir, mas não tinham coragem ou não tinham disponibilidade nesse período em que eu ia... Mas a Aurora, a Maria Luísa e o Nélito decidiram acompanhar-me também. A Maria Luísa e o Nélito são namorados e já tinham tido esta experiência, mas decidiram apoiar a sua amiga Aurora, juntando-se todos a mim nesta grande aventura”, contou Flávia.

“Na verdade foi como um chamamento interior que escutei. O Nélito costuma dizer que o Caminho chama pelas pessoas, e deve ter chegado a minha vez. E assim foi”, recordou, indicando que antes da partida fez um grande trabalho de pesquisa, colhendo também conselhos junto de quem já percorreu estes caminhos, tendo inclusivamente criado uma página no Facebbok (CaminhoSantiagoFPXT) e um blog (a-caminho-santiago-compostela.blogspot.pt) para relatar impressões, pesquisas, a preparação física e espiritual e a viagem.

“O que mais me fascinou no Caminho foi (e é) a sua capacidade ecuménica e global, capaz de atrair peregrinos (ou turigrinos, os turistas que fazem a peregrinação) vindos de todas as partes do mundo. É um fenómeno único, comparado quiçá a Meca para os muçulmanos, e eu queria participar neste fenómeno. Decidi ainda que haveria de fazê-lo sozinha, para mergulhar de cabeça na experiência e vivê-la na sua essência, como uma ‘eremita nómada’, para bater de frente com as dificuldades, conhecer pessoas de várias nacionalidades, idades e estratos sociais, e reflectir sobre a vida, sobre o mundo, rever prioridades, valores e encontrar respostas a perguntas que acabaram por nunca se colocar. Mas encontrei outras coisas maravilhosas e esta foi a minha escolha para gozar as férias - que é, para muitos, considerada uma forma barata e espectacular de fazer turismo”.

Braga, mais concretamente em fr ente à Sé, foi o local escolhido por Flávia Peixoto para percorrer o Caminho Central Português. Foi aí que colheu o primeiro carimbo do seu passaporte de peregrina. Por motivos de disponibilidade teve que realizar as duas primeiras nos dois domingos anteriores à data de partida: a primeira etapa foi Braga-Goães (em Vila Verde), com cerca de 24 km, tendo-o percorrido sozinha, a 6 de Julho. Uma experiência que caracterizou de “emocionante e reflexiva”. Oito dias depois percorreu já com companhia o percurso entre Goães e Ponte de Lima. “Foram 18 km de divertimento e muita partilha”. 

A 20 de Julho, os peregrinos partiram então de Ponte de Lima para percorrer os trilhos até Santigao de Compostela Ponte de Lima, onde mais alguns amigos se juntaram, acompanhando o pequeno grupo de vilaverdenses até Rubiães, Paredes de Coura, por causa da subida da Serra da Labruja. “Só parámos no sábado seguinte, dia 26, em Compostela. Foram sete dias com uma média de 25 km diários feitos”.

Maria Luísa Gonçalves, de 35 anos, é de Soutelo, conta que “em 2012 fiz a pé o caminho Português da Costa com início em La Guardia. A partir do momento em que colocamos ‘pés ao caminho’, sentimos sempre a necessidade de voltar. É desta forma que fala a pessoa que despertou em mim a necessidade de me fazer ao caminho - o meu namorado (Nélito) - e eu fui comprová-lo. Sem dúvida, ele tem toda a razão”.

Para Maria Luísa, a falta de preparação física pode condicionar o desempenho. “Nesta peregrinação a minha maior dificuldade foi emocional. Sabemos que no caminho encontramos muitos peregrinos com quem nos vamos cruzando, mas que também vamos deixando ‘para trás’ e às vezes é difícil, mas cada um tem que fazer o seu caminho, ao seu tempo”.

Diz Nélito que “O Caminho chama por nós” e que durante o percurso, “as dificuldades chamam-se ensinamentos”. “O Caminho é a analogia perfeita do que é a nossa vida. Diz-nos de forma simples, que após uma subida, há sempre uma descida. Que devemos seguir as nossas metas. Que temos que ser nós, os primeiros a acreditar nas nossas capacidades, nas nossas forças e também os primeiros a admitir as nossas fraquezas”.

Aos 45 anos, Aurora Reis, voltou a repetir o caminho até Santiago. O caminho é um espaço sereno duro, que nos desafia e sobressalta a memória e mais vontade de caminhar. Um misto de meditação e aventura. O próximo será o Caminho da Costa.

Fonte Correio do Minho por Marta Caldeira

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