Marrancos: Museu do Linho recupera memórias 'de uma tradição que tende a desaparecer'


É na antiga escola primária de Marrancos, em Vila Verde, que está instalado desde Setembro de 2013, o único museu existente no país dedicado exclusivamente ao linho.
A iniciativa, impulsionada pela autarquia minhota, só foi possível graças a Abílio Ferreira, o mentor do espaço, ao qual doou a sua colecção pessoal de artefactos rurais antigos, representativos de todo o ciclo do linho. «Aqui, recuperam-se as memórias de uma tradição que, de dia para dia, tende a desaparecer», lamenta Abílio.

Ana Clara; Fotos - Câmara de Vila Verde | segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013

Reformado, aos 77 anos, Abílio Ferreira tinha o sonho de colocar «entre quatro paredes» um museu dedicado ao linho. Um sonho que se tornou uma «luta» por parte deste minhoto. Até que, em Setembro de 2013, a Câmara de Vila Verde cedeu o espaço da antiga escola primária (entretanto encerrada) a Abílio. Este concretizava o seu sonho.

Mas não foi apenas a ideia que Abílio ofereceu a Marrancos, freguesia do concelho de Vila Verde, de onde é natural. Todo o acervo do Museu foi doado pelo próprio Abílio Ferreira. Objectos reunidos ao longo de «mais de 20 anos», conta.

«Sempre juntei e guardei “tralha” antiga, sobretudo instrumentos e peças agrícolas e do mundo em que vivi. Outras, comprei em feiras e mercados», descreve Abílio Ferreira. Desta forma, naquele Museu, único no país, é possível conhecer sementeiras, rios, teares, urdideiras, caneleiros entre outros artefactos que integram todo o ciclo do linho. 

A freguesia, com tradição no cultivo do linho, «recebeu, com muito entusiasmo, o Museu», garante Abílio, salientando que «sobretudo os mais velhos emocionam-se mais, já que quase todos, sobretudo os locais, trabalharam, de um ou outro modo, nesta área».

No espaço museológico, os visitantes podem, desde modo, ficar a conhecer todo o ciclo do linho, desde a sementeira até à colheita, mas também o tratamento e a tecelagem. Um cultivo que em terras minhotas, «está a desaparecer». Presentemente, no concelho, só se assiste ao cultivo e à produção do linho em Marrancos e na freguesia de Godinhaços.

Abílio lamenta o decréscimo da produção, já que os processos artesanais «são cada vez mais caros e não compensa o investimento». Contudo, sublinha, o linho «é a matéria-prima nobre que dá suporte aos tradicionais Lenços de Namorados» de Vila Verde, como recorda, orgulhoso.

O Museu do Linho reúne também uma área interpretativa, com suportes informático e multimédia, onde os visitantes podem assistir a vídeos e observar fotografias do cultivo, passando pela recolha no campo e a espadelada de linho tradicional, até ao tear e ao pano. 

Também os trajes típicos e os métodos associados a cada fase da produção das peças em linho completam o espaço. Há exemplos dos diferentes tipos de linho e diferentes tipos de peças de vestuário e uso variado, sem esquecer os lenços de namorados, uma das peças mais emblemáticas do concelho.

Quanto ao número de visitantes, Abílio Ferreira não tem, para já, valores concretos. Ainda assim refere que «muita gente da região tem visitado o Museu» mas também várias escolas agendam visitas de estudo para dar a conhecer aos mais novos esta tradição.

Marrancos já estava inserida na Rota das Colheitas (que se realiza no primeiro sábado de Setembro), uma iniciativa da autarquia de Vila Verde, sendo naquela localidade que se dá a conhecer todo o processo de produção do linho.

Entretanto, Abílio Ferreira já promoveu outra iniciativa no âmbito do Museu. Junto à escola primária, onde está instalado o espaço, há agora um «pedaço de terra onde semeam os linho, e onde tentamos mostrar às pessoas, na prática, o processo de semear a matéria-prima».

Por fim, Abílio, natural de Marrancos, e também presidente da Associação Recreativa e Cultural local, afiança que «até dá umas conferências» quando lhe pedem, sobretudo em escolas, para partilhar com os mais novos o saber antigo de trabalhar o linho.

«Não só lá grande orador, não nasci para falar bem, mas faço o que posso». Tudo, conclui, para que a tradição «não caia no esquecimento».

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