Minho: Coro da Santa Casa da Mis. de Vila Verde marca presença na Semana Santa de Braga 2014

coro da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde

O coro da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde vai marcar presença na Semana Santa de Braga 2014, segundo revela Jorge Coutinho em entrevista a Paulo Silva no Correio do Minho, todos os pormenores:



P - Temos mais uma edição das Solenidades da Semana Santa com um programa cultural e religioso. Podemos dizer que a Semana Santa de Braga ganhou novo fôlego?
R - Algo de novo acontece. O Cortejo dos Guiões, pela experiência do ano passado, é alguma coisa digna de ser vista no dia 12 de Abril, numa organização da Irmandade de S.Vicente. Os guiões vão ficar expostos nos claustros da Sé e, no Domingo de Ramos, integram-se na procissão dos Passos.

P - Como vê chegar estas ‘ofertas’ ao programa das Solenidades?
R - Vejo-as como uma valorização da Semana Santa. 

P - Não correndo o risco de adulterar as Solenidades?
R - Se falarmos em rigor, a Procissão da Burrinha poderia ser considerada uma adulteração. Todavia, é muito bem recebida pelo público. Em termos rigorosos, a Procissão da Burrinha não tem nada a ver com a Semana Santa, isto é, com a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. No texto que escrevi para a nossa brochura tentei fazer essa ligação, que poderia ter a ver com a pré-história da história do que vai seguir-se. Eu defendo essa ligação com uma burrinha na qual Jesus fosse a caminho de Jerusalém. 

P - Acredita no sucesso do Cortejo dos Guiões?
R - Sim, porque se integra perfeitamente. É uma espécie de remate de algo que tem a ver com a Semana Santa: as procissões dos Passos.

P - Este ano há mais ruas ornamentadas na cidade de Braga?
R - Sim. Temos de honrar o aumento de 10 mil euros do contributo da Câmara Municipal de Braga. Este ano, dá-nos 40 mil euros.

P - O orçamento total mantém-se nos 170 mil euros?
R - Já passa. Vai para muito perto dos 200 mil euros.
P - Grande parte dos custos tem a ver com o programa cultural?
R - Uma boa parte, sim. Os concertos são dispendiosos, sobretudo o de Terça-Feira Santa pelo Coro da Sé Catedral do Porto. É também um grande concerto. 

P - Os concertos da Semana Santa têm tido uma grande participação.
R - Sim. Começámos a semana passada com um concerto do Coro dos Pequenos Cantores de Esposende e o Decateto de Metais Portuguese Brass. Foi um grande concerto que encheu a Sé. O Coro e Orquestra do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian cantaram a missa de S. Cecília, de Charles Gounod, na sexta-feira. O concerto da Irmandade de Santa Cruz com o Coro e Orquestra da Universidade do Minho tem sido sempre um grande concerto, tal como o da Misericórdia, este ano com a Orquestra Viv’Arte da Academia de Música e Coro da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde. Para o concerto do Coro da Sé Catedral do Porto e para as grandes celebrações vamos tentar pôr plasmas nas naves laterais da Sé Catedral. Todos os concertos têm tido grandes assistências.

P - Para isso têm de manter a qualidade.
R - E a qualidade paga-se. O programa cultural é profano em relação ao religioso estrito, mas é um profano ambivalente, porque os concertos são de música religiosa e as exposições são de temáticas de algum modo ligadas à religião.

P - Para além do programa oficial, nota um maior envolvimento da cidade de Braga nas Solenidades da Semana Santa?
R - Há um maior envolvimento da parte de alguns. Devo confessar que gostava de mais, gostava que a cidade de Braga sentisse a Semana Santa como sua também no que ela custa, não só no que é bonito para ver.

P - A adesão da população aos concertos e às procissões está garantida. A questão económica é mais complicada?
R - Por razões várias. O pequeno comércio está em dificuldades. Noutros tempos, era uma boa parte da garantia de sustentação da Semana Santa. Há empresas que, fazendo aqui o seu negócio, ignoram a cidade de Braga quando lhes vamos pedir para umas Solenidades que a população aprecia grandemente. Algumas ajudam com boa vontade, outras ignoram. Há outras a quem já nem batemos à porta.

P - A hotelaria tem vindo a mudar o seu relacionamento com a comissão da Semana Santa?
R - Com a hotelaria entendemo-nos muito bem.

P - O que é que mudou para chegar a esse entendimento que não era assim tão fácil?
R - Foi preciso nós aproximarmo-nos deles e eles aproximarem-se de nós. Dizemo-lhes: ‘Nós trabalhamos para vocês terem os hotéis cheios’. Os hotéis dão-nos cinco euros por quarto e nós fazemo-lhes referência nas brochuras e no nosso sítio internet. Quase todos os hotéis aceitaram.Alguns hotéis novos mostrarem interesse em colaborar.

P - Vamos ter os hotéis cheios em Braga, na Semana Santa?
R -Isso é habitual. É habitual muitos forasteiros terem de ir bater à porta de hotéis de Famalicão, Barcelos ou Viana do Castelo para se alojarem durante a Semana Santa. Espero que a meteorologia também nos ajude. 
P - Este ano, a comissão da Semana Santa lançou o repto para a criação de um clube de empresas...
R - Está em estudo.

P - Isso era importante para dar segurança ao vosso trabalho’
R - Era importante que as empresas nos garantissem um mínimo de sustentabilidade da Semana Santa. Isso em Espanha funciona, porque lá a Semana Santa é uma instituição nacional. Não vejo que haja em Portugal uma grande sensibilidade e interesse na Semana Santa. Para os espanhóis, a Semana Santa é como ‘los toros’! É vivida de uma forma muito intensa. 
P - Está a dizer que a declaração de interesse para o turismo nacional que a Semana Santa de Braga obteve em 2011 não rendeu muito?
R - Pode render, na medida em que sempre pomos no timbre das cartas essa declaração e a medalha municipal grau ouro. Os destinatários das cartas sempre ficam a saber que não somos uma Semana Santa de uma aldeia qualquer. Para além disso, a Entidade Regional de Turismo Porto e Norte de Portugal tem aumentado o seu contributo e apostado muito na Semana Santa. A Entidade e a Câmara Municipal de Braga são os primeiros a pedir a classificação da Semana Santa como Património Imaterial da Humanidade.

P - Isso seria a cereja em cima do bolo.
R -Vamos ver.
P - É um processo complicado? Fala-se para 2017...
R - Confesso que o processo não está sequer iniciado.

P - Mas há possibilidade de êxito desta candidatura?
R - Acho que Melchior Moreira, presidente da Entidade Regional de Turismo Porto e Norte de Portugal, quando lança este repto sabe do que está a falar. Julgo que ele não está a falar de cor. Desculpem-me, mas quando ouvi falar de umas festas de Guimarães, que não são as Gualterianas, que requereram isso mesmo, valha-me Deus! Se elas tiverem mérito -pelos vistos não têm por causa do excesso de cerveja - comparadas com a Semana Santa de Braga...

P - A candidatura a Património Imaterial da Humanidade vai obrigar a um trabalho de documentação e estudo. Há muita investigação sobre a Semana Santa de Braga?
R - Não há muita. Neste momento há um projecto de tese de doutoramento sobre a Semana Santa de Braga por pessoa altamente competente, que já foi meu aluno na Faculdade de Filosofia de Braga, o Rui Ferreira, presidente da Associação de Festas de S. João. Alegra-me muito que ele tenha esse projecto, porque penso que é uma pessoa capaz de o levar avante, apesar de prever que terá dificuldades, porque a documentação sobre a Semana Santa de Braga não será tão abundante para tempos mais recuados.

P - Não há muitas informações sobre as origens da Semana Santa de Braga...
R - Uma História da Semana Santa teria de investigar isso.

P - Há elementos interessantes como o Lausperene e a Procissão Teofórica...
R - O Lausperene tem três séculos. A Procissão Teofórica é única. Quanto à origem da Semana Santa de Braga, eu defendo a tese de que uma mulher de Bracara Augusta, nos tempos posteriores à paz na Igreja dada pelo imperador Constantino, escreveu uma espécie de diário onde relata uma peregrinação aos lugares santos, na década de 80 do século IV, com pormenores sobre a comemoração da paixão, morte de ressurreição de Cristo. Já havia a procissão dos Passos, já procuravam pôr em cena aquilo que liam nos evangelhos. Esse escrito pode ter sido o ponto de partida, pode ser que tenha começado aí a representação da Semana Santa. 

P - Alguns momentos da Semana Santa remetem-nos para o rito bracarense. Ultimamente, têm surgido algumas pessoas a falar da necessidade de o revitalizar. 
R - Isso é um bocadinho de bairrismo. A própria Santa Sé quer que os costumes regionais sejam mantidos, mas chamar rito bracarense é um bocadinho excessivo. Um estudo recente, científico, rigoroso e volumoso, feito pelo cónego Joaquim Félix de Carvalho, chega à conclusão de que não se pode falar de um rito bracarense no sentido estrito. Não é algo que exprima a cultura local. Não podemos ter a pretensão de falar de um rito que seja só nosso, que exprima a nossa cultura.

P - A Semana Santa de Braga estabeleceu relações institucionais com a de Medina del Campo, em Espanha. Este ano vai haver algum intercâmbio?
R - Acabámos de receber uma sugestão da Semana Santa de Zamora para um encontro de entendimento.

P - A Semana Santa de Sevilha tem uma grande projecção mediática. Há dias, numa outra entrevista, considerou que Braga tem um programa mais consistente. 
R - As semanas santas em Espanha são feitas, essencialmente, de procissões penitenciais que podem corresponder ao que aqui se faz na Quinta-Feira Santa, mas não são do mesmo género. Noutros tempos, era de facto um procissão de penitentes que iam pedir perdão e a reconciliação com a Igreja, a indulgência ou em doença. As procissões em Espanha são filas de penitentes, a que eles chamam nazarenos, homens e mulheres com vestes muito vistosas e capuchos. Aqui, os farricocos são apenas memória de outros tempos. A meu ver, há mais variedade na Semana Santa de Braga. Então as grandes celebrações no interior da Catedral, onde há o tal costume bracarense...

P - Esses rituais mereceriam outra projecção?
R - Se calhar não, senão a Sé não chega! Do o Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa, a Sé está como um ovo, não cabe mais ninguém. Grande parte das pessoas julgam a Semana Santa só pelas procissões de rua. No interior há coisas lindíssimas que a multidão desconhece, embora a Sé se encha. 

P - A Semana Santa foi muito ‘exportada’ para a América Latina...
R - Sim, o Brasil tem muitas semanas santas. 

P - Mas não têm relações institucionais com Braga?
R - Não há. Não conheço nenhum protocolo

P - Seria um campo a explorar no futuro?
R - Talvez seja interessante. A investigadora Suely Campos esteve cá e fez uma tese de doutoramento sobre a Semana Santa em Braga e S. João del Rey. Eles fazem lá procissões dos Passos e sermões do encontro como cá. Em Espanha também se faz. Isso não é típico de Braga.

P - A Semana Santa é um momento alto para a Igreja bracarense mas também um fenómeno turístico...
R -É um fenómeno religioso com incidências turísticas.

P - Há alguns anos criticava-se um pouco o comportamento do público que assistia às procissões. O que é que tem verificado ultimamente?
R - O que tenho verificado é que o público se comporta muito bem. O ruído que se ouve nas ruas durante as procissões é o das crianças, o que é natural. Houve tempos em que um certo anticlericalismo provocava certos piropos que hoje não se ouvem. Em geral há muito respeito, quer as pessoas tenham fé ou não. Há quem diga que as procissões são folclore religioso. E são. Folclore quer dizer tradições do povo. As procissões são tradições religiosas do povo.
P - A Igreja olha para esse folclore religioso como um elemento de evangelização que agora pode ser expandido com vários meios?
R - A evangelização pode servir-se de muitos meios e muitos modos. Do meu modo de ver, uma procissão da Semana Santa é um modo de pregação, prega por sim mesma. É arte e espectáculo que tem a sua própria linguagem, não se tem de meter palavreado por cima. A procissão do Corpo de Deus, por exemplo, é diferente, não é uma representação como são as da Semana Santa, é uma celebração na rua: o povo celebra, canta, louva.

P - Tem havido mais facilidade de arranjar figurantes para as procissões?
R - Confesso que não tenho esse encargo. Sei que, nos últimos dois anos, as procissões têm tido muitos figurantes, os chamados ‘anjinhos’. As irmandades investiram bastante nisso. A da Santa Casa da Misericórdia de Braga, por exemplo, investiu bastante em figuras ligadas 
à sua história como a rainha D. Leonor e o arcebispo D. Diogo de Sousa. A Irmandade de Santa Cruz tem tido mais dificuldade na organização da Procissão do Senhor dos Passos. E por uma razão muito simples: a procissão não é à noite, é a tarde um domingo. As famílias saem mais da cidade e é difícil comprometer as crianças.

P - Este ano há interesse das televisões na Semana Santa de Braga?
R - É sabido que as televisões estão com dificuldades financeiras. Estarão menos disponíveis. Imagino que da Galiza virá alguma televisão.

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