
Pela primeira vez, o Programa Polar Português, iniciado em 2007, vai organizar uma campanha à Antárctida com logística própria, em vez de os cientistas portugueses serem só convidados nas bases de outros países. Vão participar cerca de 20 investigadores de várias instituições — os dois primeiros partem já na quarta-feira, 23 de Novembro —, o que a torna na maior campanha portuguesa na Antárctida.
“Até agora temos tido campanhas limitadas, em que nos integrávamos em programas antárcticos de países parceiros. Tínhamos cinco ou seis investigadores no máximo [por ano]”, disse hoje, em conferência de imprensa, o coordenador geral da campanha, Gonçalo Vieira, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. “Este ano, pela primeira vez, vamos fretar um avião, o que vai abrir uma série de portas para desenvolver a investigação portuguesa na Antárctida”, disse o investigador, acrescentando que até agora os cientistas portugueses apenas têm oferecido aos outros países com bases a ciência que fazem e a colaboração internacional.
Uma campanha com logística própria, essencialmente o aluguer do avião para um voo entre Punta Arenas (Chile) e a ilha King George, em Janeiro de 2012, em que além de portugueses seguirão investigadores de outros países, foi possível devido a quase cem mil euros atribuídos pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Mas a campanha prolongar-se-á até Abril, com as equipas a partir em alturas diferentes para diversas bases, e irá recorrer, além do avião fretado, a lugares em navios e aviões de outros países.
O destino será a Península da Antárctida, mas aí as equipas portuguesas – do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, do Instituto Superior Técnico, do Instituto de Investigação das Pescas e do Mar, do Centro de Geofísica da Universidade de Évora e do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra – vão espalhar-se por várias ilhas, como Deception, Livingston ou King George.
Os estudos, em seis projectos de investigação, vão centrar-se nos pinguins e na forma como as alterações climáticas estão a afectar a sua alimentação; na contaminação da Antárctida por poluentes; no solo congelado em permanência (ou “permafrost”); nos bancos de neve que se mantêm durante o Verão; na reconstituição climática nos últimos milhares de anos; e na forma como os peixes estão a lidar com o aumento da temperatura e a descida da salinidade.
Que interesse pode ter para Portugal a Antárctida? Os cientistas envolvidos na campanha realçam, entre outros aspectos, as aplicações práticas e económicas que podem surgir destas investigações: por exemplo, os peixes da Antárctida, munidos de proteínas que os impedem de congelar, podem ensinar a desenvolver produtos que conservem melhor o pescado. “Portugal tem interesse em fazer parte das redes internacionais em variados domínios, nomeadamente na investigação da Antárctida, que é importante para entender fenómenos à escala global, que têm a ver com o ambiente e as mudanças climáticas”, respondeu João Sentieiro, presidente da FCT, na conferência de imprensa, referindo ainda que Portugal vai assinar protocolos com o Brasil e o British Antarctic Survey, que facilitarão o acesso às bases desses países.
Fonte Jornal Público por Teresa Firmino
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