Apesar das paredes grossas, faz algum calor dentro do edifício onde funciona o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território. Os aparelhos de ar condicionado parecem estar todos desligados. À volta da mesa de reuniões, os homens não chegam a estar em mangas de camisa, mas a gravata já desapareceu.
Um dia depois de a ministra Assunção Cristas ter assinado um despacho a dispensar os seus funcionários do uso deste símbolo universal de formalidade, todo o seu staff posa para as câmaras, em conformidade com a nova norma.
O objectivo é poupar energia, sem gastar nada. Segundo Assunção Cristas, há estudos que mostram que prescindir da gravata permite descer em 2º C a temperatura do ar condicionado. O Japão já tinha feito essas contas em 2005, quando lançou a sua campanha “Cool Biz”, sugerindo aos trabalhadores do Governo e das empresas que deixassem o casaco e a gravata em casa e regulassem o ar condicionado para 28º C. Até 2009, a adesão estava em 57 por cento, segundo um inquérito do Governo.
Já este ano, com os poblemas de abastecimento eléctrico devido ao acidente na central nuclear de Fukushima, o governo japonês avançou com uma nova campanha – “Super Cool Biz” – sugerindo o uso de jeans, corsários, t-shirts, camisas havaianas e até sandálias.
A iniciativa da ministra Assunção Cristas tem clara inspiração na experiência japonesa, até no nome – “Ar Cool”. Mas não vai tão longe. Uma comunicação enviada ontem a todos os serviços do ministério estabelece que os homens estão dispensados do uso da gravata e que o ar condicionado deve ser regulado para 25º C.
Assunção Cristas diz que não se trata de uma medida simbólica. “Estamos a falar de mais de 1500 edifícios e 10.500 funcionários”, afirmou hoje, numa conferência de imprensa, ao lado dos seus secretários de Estado – sem gravata mas com casaco.
Pouco antes, o ministério organizara uma pequena visita a alguns gabinetes, onde os adjuntos já andavam sem gravata. Daniel Campelo, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, estava reunido com um membro do seu gabinete, de janela aberta e sem o ar condicionado ligado. Alguns dos corredores tinhas as luzes desligadas.
Numa sala ao lado, Miguel Moreira da Silva, membro do gabinete da ministra, só via vantagens na decisão de dispensar as gravatas. “Nem que seja um euro ou um grama de CO2, já é positivo”, disse.
Com esta medida, o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT) quer dar um exemplo prático de poupança energética a outras áreas do Executivo.
O programa do Governo prevê uma redução de 30 por cento, até 2020, no consumo eléctrico da administração pública. O impacto concreto da iniciativa “Ar Cool” – que se estenderá de Junho a Setembro, todos os anos – só será avaliado depois desta primeira experiência. Uma estimativa inicial aponta, no entanto, para uma redução de emissões de CO2 equivalente a um dia de tráfego rodoviário de uma cidade média, como Aveiro ou Braga.
Assunção Cristas diz que, independente da sua magnitude, o impacto será sempre positivo. “É um corte que não custa nada às pessoas”, afirma.
Para associação ambientalista Quercus, o exemplo que o Ministério da Agricultura e do Ambiente está a dar é positivo. “Mas não percebemos por que é que não é, desde já, uma medida para toda a administração pública ou todos os ministérios”, afirma, porém, Francisco Ferreira, vice-presidente da associação.
Assunção Cristas diz que irá esperar pelos resultados deste ano, para apresentar a ideia ao resto do Governo.
A dispensa da gravata é facultativa, ninguém é obrigado a prescindir dela. Mas nas ocasiões em que esteja em causa a imagem do Estado, ela voltará a estar presente. “Para Bruxelas, vamos de gravata”, diz a ministra.
Fonte Jornal Público por Ricardo Garcia, Nuno Simas
0 comentários:
Enviar um comentário