
Lenços dos namorados, filigrana e trajes típicos. Os costumes do Minho estão a ditar tendências, nos desfiles e nas bocas do mundo.
Chegados ao Minho sentimo-nos em casa. "Ora dê cá dois beijinhos, que nós aqui somos muito beijoqueiros", exclama Teresa Costa enquanto se prepara para mostrar os produtos tradicionais com um evidente orgulho pessoal. Nas instalações da Adere Minho, em Vila Verde, as paredes estão cobertas de lenços dos namorados, não fosse este o único local onde se pode encontrar este produto certificado. "Em oito anos de certificação já vendemos mais de 3500 lenços", explica Teresa, directora-geral da associação. "Mas a verdade é que ultimamente a procura tem sido incrível e temos a noção de que estamos perante uma clientela cada vez mais exigente", salienta enquanto mostra alguns produtos associados aos famosos lenços.
Pulseiras, carteiras, botas, malas, caixas e quadros. Os lenços dos namorados não se restringem ao básico. Adaptam-se às novas tendências e abrilhantam desfiles de alguns dos mais importantes estilistas nacionais. Ana Salazar foi pioneira e, mais recentemente, os Storytailors adoptaram o lenço dos namorados como acessório das novas colecções. "Queremos provar que os produtos tradicionais têm um lugar no presente e poderão evoluir no futuro", explicou ao i João Branco, da dupla de criadores. "Com esta iniciativa o lenço deixou de ser apenas decorativo para passar a ser um objecto de moda, que pode ser adaptado às novas tendências", explica Teresa Costa.
O que poucos sabem é que inicialmente este colorido acessório pouco tinha de decorativo. A história dos lenços dos namorados está relacionada com o pedido de namoro da rapariga minhota, que bordava uma frase para oferecer ao pretendente. "As minhotas sempre foram muito atrevidas", brinca. Se o rapaz aceitasse o pedido, saía à rua com o lenço à lapela ou a cair do bolso. "O curioso é perceber que o lenço dos namorados surgiu por volta do século xviii, altura em que não havia sequer o conceito de namorado", salienta Teresa, acrescentando que os erros ortográficos das quadras escritas nos lenços são fruto do analfabetismo das bordadeiras, "muito prendadas mas muitas vezes com poucos estudos".
Lenços e mais lenços
Rosa Lopes, a artesã-bordadeira a quem a dupla de criadores Storytailors confiou os bordados, tem o ateliê nas instalações da Adere Minho. Dos seus 38 anos, 22 foram passados em dedicação à sua arte. Além de mérito, os lenços trouxeram-lhe um namorado. "Quando dava formação sobre o bordado dos lenços dos namorados, um dos meus alunos, no final do curso, ofereceu-me o lenço que lhe ensinei a bordar. Com o lenço veio um pedido de namoro. Estamos juntos até hoje", conta envergonhada, preferindo não tirar os olhos do lenço em que está a trabalhar.
No Minho a tradição tem muita cor. O chamado traje de lavradeira do Minho é dos mais vistosos de todos os trajes de Viana do Castelo, pela predominância do vermelho e pela riqueza dos bordados, numa combinação perfeita com o preto. Antigamente utilizados apenas em dias de festa, os lenços que complementavam os trajes adornam agora tendências mais modernas. Do tradicional lenço vermelho passou-se a uma infinita paleta de cores e formas. Adaptado a camisolas, malas, acessórios, o estampado exclusivo das minhotas passou a ser uma das imagens de marca da tradição portuguesa e acessório obrigatório para quem acompanha as novas tendências.
Filigrana
O traje tipicamente minhoto não estaria completo sem a famosa filigrana, técnica de ourivesaria popular que combina delicados fios de ouro ou prata em desenhos originais. Nas ruas de Viana do Castelo, as ourivesarias estão em cada esquina. Manuel Freitas, proprietário do Museu da Ourivesaria Tradicional, numa das principais ruas da cidade, apresenta-se como um apaixonado pela tradição minhota. "Sou daquelas pessoas que acreditam que a cultura genuinamente portuguesa pode ser fonte de inspiração." Para Manuel Freitas, estas peças não passam de moda e por isso não sentiu os efeitos da crise. "Vendo que as outras ourivesarias apostavam em peças modernas, com as quais Portugal não pode competir no mercado estrangeiro, decidi mostrar que podemos ter orgulho em ser portugueses e em usar as peças que nos tornam únicos", explicou.
Casado há 45 anos com uma "cachopa de Viana", este aveirense há muito que se sente minhoto. "Apaixonei-me por esta terra. Esta foi durante muitos anos a região desprezada e esquecida do país e por isso criámos uma identidade muito própria. Colares, brincos e medalhas de vários tamanhos, de prata ou ouro, enfeitam a montra da ourivesaria, despertando a curiosidade de todos, principalmente dos turistas. "Se eles ficam encantados como é que nós não ficamos?", desabafa quando mostra com orgulho algumas das suas peças favoritas. "As arrecadas [argolas de filigrana] e os brincos à rainha são a nossa marca. Antigamente, nada era mais significativo de miséria do que não ver brincos a pender das orelhas. Ainda agora as jovens raparigas continuam a envergar com orgulho as peças de Viana." Apesar de não serem já considerados sinónimo de riqueza, os brincos à rainha são uma escolha actual, combinando o tradicional com as peças mais modernas. "As mulheres portuguesas, além de bonitas são extremamente vaidosas", brinca.
A identidade alastrou e a moda minhota é já tendência nacional. Brincos, lenços ou peças do traje típico minhoto fazem parte de muitos guarda-roupas em todo o país. Quem ainda se sente pouco à vontade para usar estas peças no dia-a-dia aproveita as romarias que no Verão animam o Norte do país. Nas festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, nas Feiras Novas em Ponte de Lima e na Romaria de S. Bartolomeu, em Ponte da Barca, todos saem à rua com camisas bordadas, lenços à cintura e brincos nas orelhas. "O importante da tradição é vivê-la", lembra Manuel, acrescentando a frase que faz questão de dizer a todos os que visitam a sua ourivesaria: "Um país sem história é um país liquidado." Fonte Jornal i por Marta Cerqueira
Chegados ao Minho sentimo-nos em casa. "Ora dê cá dois beijinhos, que nós aqui somos muito beijoqueiros", exclama Teresa Costa enquanto se prepara para mostrar os produtos tradicionais com um evidente orgulho pessoal. Nas instalações da Adere Minho, em Vila Verde, as paredes estão cobertas de lenços dos namorados, não fosse este o único local onde se pode encontrar este produto certificado. "Em oito anos de certificação já vendemos mais de 3500 lenços", explica Teresa, directora-geral da associação. "Mas a verdade é que ultimamente a procura tem sido incrível e temos a noção de que estamos perante uma clientela cada vez mais exigente", salienta enquanto mostra alguns produtos associados aos famosos lenços.
Pulseiras, carteiras, botas, malas, caixas e quadros. Os lenços dos namorados não se restringem ao básico. Adaptam-se às novas tendências e abrilhantam desfiles de alguns dos mais importantes estilistas nacionais. Ana Salazar foi pioneira e, mais recentemente, os Storytailors adoptaram o lenço dos namorados como acessório das novas colecções. "Queremos provar que os produtos tradicionais têm um lugar no presente e poderão evoluir no futuro", explicou ao i João Branco, da dupla de criadores. "Com esta iniciativa o lenço deixou de ser apenas decorativo para passar a ser um objecto de moda, que pode ser adaptado às novas tendências", explica Teresa Costa.
O que poucos sabem é que inicialmente este colorido acessório pouco tinha de decorativo. A história dos lenços dos namorados está relacionada com o pedido de namoro da rapariga minhota, que bordava uma frase para oferecer ao pretendente. "As minhotas sempre foram muito atrevidas", brinca. Se o rapaz aceitasse o pedido, saía à rua com o lenço à lapela ou a cair do bolso. "O curioso é perceber que o lenço dos namorados surgiu por volta do século xviii, altura em que não havia sequer o conceito de namorado", salienta Teresa, acrescentando que os erros ortográficos das quadras escritas nos lenços são fruto do analfabetismo das bordadeiras, "muito prendadas mas muitas vezes com poucos estudos".
Lenços e mais lenços
Rosa Lopes, a artesã-bordadeira a quem a dupla de criadores Storytailors confiou os bordados, tem o ateliê nas instalações da Adere Minho. Dos seus 38 anos, 22 foram passados em dedicação à sua arte. Além de mérito, os lenços trouxeram-lhe um namorado. "Quando dava formação sobre o bordado dos lenços dos namorados, um dos meus alunos, no final do curso, ofereceu-me o lenço que lhe ensinei a bordar. Com o lenço veio um pedido de namoro. Estamos juntos até hoje", conta envergonhada, preferindo não tirar os olhos do lenço em que está a trabalhar.
No Minho a tradição tem muita cor. O chamado traje de lavradeira do Minho é dos mais vistosos de todos os trajes de Viana do Castelo, pela predominância do vermelho e pela riqueza dos bordados, numa combinação perfeita com o preto. Antigamente utilizados apenas em dias de festa, os lenços que complementavam os trajes adornam agora tendências mais modernas. Do tradicional lenço vermelho passou-se a uma infinita paleta de cores e formas. Adaptado a camisolas, malas, acessórios, o estampado exclusivo das minhotas passou a ser uma das imagens de marca da tradição portuguesa e acessório obrigatório para quem acompanha as novas tendências.
Filigrana
O traje tipicamente minhoto não estaria completo sem a famosa filigrana, técnica de ourivesaria popular que combina delicados fios de ouro ou prata em desenhos originais. Nas ruas de Viana do Castelo, as ourivesarias estão em cada esquina. Manuel Freitas, proprietário do Museu da Ourivesaria Tradicional, numa das principais ruas da cidade, apresenta-se como um apaixonado pela tradição minhota. "Sou daquelas pessoas que acreditam que a cultura genuinamente portuguesa pode ser fonte de inspiração." Para Manuel Freitas, estas peças não passam de moda e por isso não sentiu os efeitos da crise. "Vendo que as outras ourivesarias apostavam em peças modernas, com as quais Portugal não pode competir no mercado estrangeiro, decidi mostrar que podemos ter orgulho em ser portugueses e em usar as peças que nos tornam únicos", explicou.
Casado há 45 anos com uma "cachopa de Viana", este aveirense há muito que se sente minhoto. "Apaixonei-me por esta terra. Esta foi durante muitos anos a região desprezada e esquecida do país e por isso criámos uma identidade muito própria. Colares, brincos e medalhas de vários tamanhos, de prata ou ouro, enfeitam a montra da ourivesaria, despertando a curiosidade de todos, principalmente dos turistas. "Se eles ficam encantados como é que nós não ficamos?", desabafa quando mostra com orgulho algumas das suas peças favoritas. "As arrecadas [argolas de filigrana] e os brincos à rainha são a nossa marca. Antigamente, nada era mais significativo de miséria do que não ver brincos a pender das orelhas. Ainda agora as jovens raparigas continuam a envergar com orgulho as peças de Viana." Apesar de não serem já considerados sinónimo de riqueza, os brincos à rainha são uma escolha actual, combinando o tradicional com as peças mais modernas. "As mulheres portuguesas, além de bonitas são extremamente vaidosas", brinca.
A identidade alastrou e a moda minhota é já tendência nacional. Brincos, lenços ou peças do traje típico minhoto fazem parte de muitos guarda-roupas em todo o país. Quem ainda se sente pouco à vontade para usar estas peças no dia-a-dia aproveita as romarias que no Verão animam o Norte do país. Nas festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, nas Feiras Novas em Ponte de Lima e na Romaria de S. Bartolomeu, em Ponte da Barca, todos saem à rua com camisas bordadas, lenços à cintura e brincos nas orelhas. "O importante da tradição é vivê-la", lembra Manuel, acrescentando a frase que faz questão de dizer a todos os que visitam a sua ourivesaria: "Um país sem história é um país liquidado." Fonte Jornal i por Marta Cerqueira
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