Luís Filipe Silva é o candidato do PS à Câmara de Vila Verde. Critica a “onda de parcerias com privados para mostrar obra feita” e a situação “catastrófica” das finanças da autarquia.
O actual director-adjunto da Segurança Social de Braga, Luís Filipe Silva, assume o comando da candidatura socialista à Câmara Municipal de Vila Verde. Em entrevista ao Terras do Homem, apresentou as traves mestras do seu projecto para o município vilaverdense, sempre em contraponto com os anúncios e ao “folclore das inaugurações” realizadas nos últimos meses. Sublinha as críticas “à política de parcerias público-privadas” assumidas pelo actual executivo camarário de maioria socialdemocrata para “disfarçar o marasmo da governação municipal nos últimos anos”, face ao “estado financeiro catastrófico em que se encontra a Câmara de Vila Verde”.
Terras do Homem: Que motivações o levam a reassumir a candidatura à Câmara de Vila Verde?
Luís Filipe Silva: As razões que me levam a candidatar agora, são as mesmas de 2005. Já aí entendia que Vila Verde não estava no rumo certo. Percebia que, já nessa altura, não havia estratégia para desenvolver sustentadamente o concelho. Candidatei-me por defender um concelho diferente e uma postura, perante os vilaverdenses, diferente. Estes quatro anos que passei, enquanto vereador, vieram apenas solidificar as certezas que já possuía. Nomeadamente, quanto à falta de estratégia e de rumo para Vila Verde. Assistimos a um tipo de gestão que navega à deriva, por impulso, e satisfazendo apenas o interesse de determinados grupos.
Por outro lado, tentou-se transmitir para o exterior, através da comunicação social, a ideia de um concelho que não existe. No terreno, a realidade é completamente diferente. Nós temos um concelho carente, com problemas básicos ainda por resolver. As assimetrias entre a zona Sul e a zona Norte do concelho, por exemplo, continuam a existir e não há nenhuma medida concreta para as corrigir.
TH: Então, como dar a volta a esse problema?
LFS: Todos sabemos que a zona Sul, pelas características que possui, pela proximidade com concelhos importantes, tem um desenvolvimento diferente da zona Norte. Mas isso não é uma vantagem da zona Sul, nem uma desvantagem da zona Norte, é uma vantagem do concelho.
A zona Norte também tem muitas potencialidades, sobretudo a nível ambiental, uma verdadeira pérola por explorar. Agora, é preciso ter coragem para centrar um pouco a gestão autárquica naquela zona do concelho. Eu acho que a estratégia para Vila Verde passa, necessariamente, pela indústria do turismo, dadas as potencialidades do concelho nessa área.
Mas como poderemos nós explorar esta área, se temos apenas um posto de turismo que funciona na cave dos Paços do Concelho, ainda por cima apenas durante o horário de expediente? Porque não aproveitar a zona de Aboim da Nóbrega, ou de Mixões da Serra, para realização de trilhos BTT que atraiam pessoas do resto do concelho e mesmo de concelhos vizinhos? Porque não aproveitar aquele parque de campismo que está lá iniciado, em estado de auto-destruição já. Trata-se de um zona do concelho completamente esquecida.
TH: Como tem visto estes últimos meses de executivo camarário?
LFS: Estes últimos meses têm sido uma tentativa de disfarçar o marasmo que foi a governação do município nestes quatro anos. Fruto de erros cometidos nestes últimos anos, a Câmara está numa situação financeira desesperada, por isso pouco ou nada tem sido feito. Tem-se entrado numa onda de parcerias com privados para tentar mostrar obra feita. Estes últimos dias de inaugurações, atrás de inaugurações, visam então disfarçar uma realidade bem mais preocupante. Mas, se as pessoas repararem, a maior parte destas inaugurações dizem respeito a obras da quase total responsabilidade do governo central. Foi assim com o Clube Náutico, com o Quartel da GNR e com o Centro de Saúde em Prado. Foi assim com Extensão de Saúde de Escariz ou com o edifício da Segurança Social em Vila Verde. No fundo, esta Câmara está completamente refém dos programas do Estado e dos apoios comunitários.
Economia
TH: A nível empresarial, surgiu recentemente o anúncio de mais um forte investimento no concelho. O desenvolvimento industrial está a ser reforçado?
LFS: A falta de ocupação e rentabilização das poucas zonas industriais diz tudo sobre esse assunto. O PS de Vila Verde foi, ao longo destes anos, um acérrimo defensor da adopção de políticas que são praticadas com sucesso, em concelhos como Arcos de Valdez ou Ponte da Barca, que permitiram a diversas empresas instalarem-se nos seus concelhos, concedendo-lhes regalias, como a disponibilização de terrenos, isenção de taxas. Tudo isto permite identificar esses municípios com sendo bastante atractivos.
Finalmente, neste mandato, foi tomada a decisão de permitir a concessão de direito de superfície de alguns dos lotes do Parque Industrial de Gême a algumas empresas, nomeadamente à DST e para uma fábrica de queijos, com sede na Póvoa de Lanhoso.
Naturalmente, perguntamos quais seriam as contrapartidas dessa negociação para o município. No caso da DST, seria a criação de postos de trabalho, o desenvolvimento da indústria de vanguarda e da produção painéis de energias renováveis. Já no caso da fábrica de queijos, seria o consumo de todo o leite de cabra produzido no concelho. O que aconteceu é que, na DST, poucos foram os postos de trabalhos criados para os vilaverdenses. Além disso, a empresa não está a criar aquilo a que se comprometeu.
Já a fábrica de queijos percebeu que, em Vila Verde, não existe leite suficiente para produzir. Ora, onde é que está o apoio aos agricultores para produzir leite de cabra para esta fábrica? São as tais evidências de falta de estratégia. Nós propusemos, por exemplo, um pequeno incentivo aos agricultores da zona Norte do concelho, para poderem enveredar por essa actividade, e foi rejeitado.
Por outro lado, não se pode apregoar o apoio aos empresários, quando depois se demora um, dois, três anos a pagar aos mesmos. Deste tipo de ajudas, os empresários não precisam.
TH: Como pretende promover o emprego?
LFS: Desde logo, não centrar todas as atenções em determinado tipo de investimentos ou em determinadas zonas do concelho. Tem havido, em Vila Verde, falta de visão para definir uma estratégia séria para o concelho. Para tal, é necessário parar para pensar no que o concelho é capaz de produzir. Veja-se o caso do turismo. Parece que ainda ninguém percebeu que parte do concelho de Vila Verde está encostada ao Parque Nacional da Peneda Gerês, ou que temos uma das melhores zonas ribeirinhas do distrito. Isto são sinais evidentes de falta de atenção.
Por vezes é preciso evitar o impulso de ‘fazer e fazer’, sem pensar no que está a ser feito de errado. É preciso aceitar contributos e opiniões. Onde é que está o Conselho Municipal de Juventude? Onde estão os sinais de aceitação de contributos dos vilaverdenses? Não vejo sinais nesse sentido.
Se tiver a confiança dos vilaverdenses, a 11 de Outubro, como espero ter, quero estar disponível e aberto ao contributo de todos, num estilo de execução autárquica mais aberto e mais participativo. Acima de tudo, tem que haver maior humildade no trabalho.
Confiança perante sentimento de descontentamento
TH: Que resultado espera destas eleições autárquicas?
LFS: O único resultado que nos deixará satisfeito, não poderá ser outro que não o da vitória. Cada vez mais vou constatando um sentimento de descontentamento entre os vilaverdenses. O contexto em que é demonstrado esse desalento, e a maneira como as pessoas me manifestam esse sentimento, faz-me acreditar que querem, de facto, uma mudança. As pessoas estão cansadas das promessas que vão sendo repetidas ao longo dos mandatos, das políticas que são mais do mesmo. Sinto que as pessoas necessitam de políticas diferentes, de pessoas com ideias e projectos diferentes.
TH: Como encara a substituição, nos comandos da autarquia, de José Manuel Fernandes por António Vilela?
LFS: Não gostaria de falar muito de outras candidaturas e de opções tomadas por outros partidos. Isto porque acho que o meu papel e de quem me acompanha nesta missão, deve ser o de falar do nosso grupo, das nossas ideias, dos nossos projectos. No fundo, tornar a campanha eleitoral num acto de responsabilidade e não num acto de puro folclore, de pura festa sem conteúdo.
De qualquer forma, relativamente à substituição, para mim isso representa muito pouco. Do ponto de vista político, é uma situação de continuidade, essencialmente dos aspectos mais negativos deste executivo. António Vilela tem muitas responsabilidades, por exemplo, no estado financeiro catastrófico em que se encontra a Câmara de Vila Verde.
TH: Porquê a aposta no ex-sacerdote, Porfírio Correia, como número dois da lista Socialista para estas autárquicas?
LFS: Trata-se de uma opção muito simples. Desde logo, porque é uma pessoa que se enquadra no tipo de gestão que eu preconizo para o concelho de Vila Verde. Além disso, tem o conhecimento necessário, porque trabalha dentro da autarquia, e tem constatado os erros crassos que se têm vindo a cometer na gestão do actual executivo.
Quero dar um sinal para dentro da própria autarquia. Num concelho onde ainda imperam alguns tiques de ditadura e de perseguição a quem discorda das políticas seguidas, um funcionário da Câmara, técnico superior, pode ser um importante contributo para qualquer candidatura, mostrando não possuir qualquer receio e desalinhando daquilo que muitas vezes é imposto.
TH: Para quando uma divulgação do programa eleitoral?
LFS: Em princípio, para início de Setembro. Mas gostaria de vincar que nós não vamos fazer a campanha que o PSD já demonstrou querer fazer. As campanhas eleitorais são um acto de responsabilidade, são oportunidades para esclarecer as pessoas, momentos únicos para mostrar ideias, o que se pretende fazer e como se quer fazer. As campanhas não são festas ou actos de folclore.
TH: Não teme que um possível descontentamento face ao governo central, possa penalizar a sua candidatura a nível local?
LFS: Não acredito. As eleições legislativas e autárquicas têm dinâmicas muito diferentes. Ao nível local contam mais as pessoas, os rostos, os projectos. Tudo isto pesa.
Os vilaverdenses têm que parar para pensar. Avaliar o que foi feito até agora, ver se é este o caminho que querem que o concelho siga e, de uma vez por todas, apostar numa forma de estar diferente, numa atitude diferente, num tipo de políticas viradas para as pessoas, para as micro-empresas. Só isso permite chegar à tal qualidade de vida, tão apregoada, mas que não existe no concelho.
Onde é que está a política de auxílio aos jovens aqui em Vila Verde, onde é que está a política de auxílio ao pequenos empresários, ou aos agricultores? O que existe são chavões, slogans, muito folclore e muitas notícias nos jornais, mas depois na prática não existe nada do que é apregoado. Se queremos falar de políticas de juventude, temos que entender essa problemática e a vontade de encarar esse problema de frente permitiria corrigir, por exemplo, as tais assimetrias face ao Norte do concelho.
Por exemplo, os jovens que lá procurem construir a sua própria casa, muitas vezes, não podem, porque o Plano Director Municipal não lhes permite. E relacionado com este problema está a situação aflitiva em que se encontram os idosos, uma vez que os jovens são ‘obrigados’ a abandoná-los.
“Grandes projectos no papel e montes de asneiras na realidade quotidiana”
Abordando o programa eleitoral que irá apresentar aos vilaverdenses, Luís Filipe Silva garante que, “sem embargo da atenção mais circunstanciada”, dedicará especial atenção às questões “da infância e da terceira idade, do urbanismo, do abastecimento de água e saneamento, do ambiente, do desporto federado e popular e da acção social”.
O candidato considera necessária uma “aprovação e entrada em vigor no decurso de um primeiro ano de mandato” de um novo Plano Director Municipal.
O candidato chega mesmo a apelidar de “vergonhoso” o adiamento, durante doze anos, “deste importantíssimo instrumento de ordenamento e planeamento, foco infeccioso dos mais graves e nebulosos processos jurídico-administrativos que têm atrapalhado a gestão laranja da Câmara de Vila Verde e palco de graves prejuízos e constrangimentos para milhares de vilaverdenses privados do uso dos seus terrenos para construir casas para os seus filhos”.
Por outro lado, entende ser essencial “potenciar e dinamizar a latente riqueza concelhia, particularmente o turismo de montanha e as praias fluviais do Cávado, Homem e Neiva”. Luís Filipe Silva, considerou “confrangedor o abandono das praias fluviais, com a consequente degradação irreversível do que estava feito, e desmazelo absoluto com o demais espaço dos três rios (Cávado, Homem e Neiva), para além de um total alheamento da problemática do turismo, indubitavelmente um manancial natural que Vila Verde não pode desperdiçar”.
Na opinião do responsável socialista, os “doze anos de poder laranja, em Vila Verde, foram tempo de grandes projectos no papel e montes de asneiras e omissões na realidade quotidiana dos vilaverdenses”. “Entre muitos e delicados falhanços da gestão PSD, fica para a posteridade uma confrangedora inexistência de um modelo estratégico de desenvolvimento do nosso concelho”, defende Luís Filipe Silva.
Luís Filipe Silva criticava, ainda, “a dívida monstruosa – oito milhões de contos nas contas publicadas, doze milhões, ou mais, nas contas reais – e consequente asfixia financeira que levou esta gestão laranja a negócios ruinosos e vergonhosos para Vila Verde e os vilaverdenses”. “O negócio do parque subterrâneo e dos estacionamentos pagos na vila é um exemplo”, garante. “Gastaram-se centenas de milhares de contos, na qualificação urbanística da vila, e deu-se por 50 e 20 anos, respectivamente, tudo isso de mão beijada ao privado”, acrescentou o candidato.
Quanto à política de emprego, o representante do Partido Socialista vilaverdense, entende que esta se “resumiu à própria Câmara e aqui privilegiando apenas alguns”. “Falta um sólido apoio à instalação de empresas que tragam mão-de-obra qualificada para os vilaverdenses. O quase nada conseguido resultou no incumprimento dos protocolos subscritos, com irreparáveis prejuízos para todos nós”, concluiu.
A finalizar, o candidato referiu-se, ainda, ao apoio social aos idosos, considerando “urgente uma reformulação e valorização do Cartão do Idoso, com regalias sociais e descontos em medicamentos”, e relativamente à escola profissional, garantindo uma “adequação do ensino técnico-profissional às necessidades da realidade concelhia, exigência qualitativa e a sua extensão à zona sul de Vila Verde”.
Perfil
Luís Filipe Oliveira da Silva nasceu há 37 anos na freguesia de Vila Verde. É licenciado em Gestão Comercial e Contabilidade pela Universidade Fernando Pessoa, do Porto, e é também doutorando de 2.º ano em Gestão e Direcção de Empresas na Universidade de Vigo. Trabalhou na Caixa Geral de Depósitos. É Técnico Oficial de Contas e exerceu actividade empresarial na área de contabilidade e gestão. Desde 2005, exerce as funções de Director Adjunto do Centro Distrital de Segurança Social e Solidariedade de Braga. Foi deputado municipal e é vereador da oposição desde 2005. Foi dirigente concelhio e distrital da Juventude Socialista e preside desde 2002 à Comissão Política Concelhia de Vila Verde do PS.
Preferências
Comida: bacalhau assado e gastronomia minhota, no geral.
Bebida: água ou vinho verde tinto.
Carro: não ligo a carros, qualquer um serve.
Férias: onde me permita descansar e praticar hobbies como o BTT
Passatempo: Desporto, em especial BTT e pesca desportiva
Leitura: revistas técnicas, especialmente sobre gestão
Jornais: diariamente, os principais nacionais e regionais.
Vícios: confundem-se com os passatempos, desporto e passeios pela natureza.
Superstição: não tenho.
Tiques: que eu identifique, não tenho.
Fonte Jornal Terras do Homem
O actual director-adjunto da Segurança Social de Braga, Luís Filipe Silva, assume o comando da candidatura socialista à Câmara Municipal de Vila Verde. Em entrevista ao Terras do Homem, apresentou as traves mestras do seu projecto para o município vilaverdense, sempre em contraponto com os anúncios e ao “folclore das inaugurações” realizadas nos últimos meses. Sublinha as críticas “à política de parcerias público-privadas” assumidas pelo actual executivo camarário de maioria socialdemocrata para “disfarçar o marasmo da governação municipal nos últimos anos”, face ao “estado financeiro catastrófico em que se encontra a Câmara de Vila Verde”.
Terras do Homem: Que motivações o levam a reassumir a candidatura à Câmara de Vila Verde?
Luís Filipe Silva: As razões que me levam a candidatar agora, são as mesmas de 2005. Já aí entendia que Vila Verde não estava no rumo certo. Percebia que, já nessa altura, não havia estratégia para desenvolver sustentadamente o concelho. Candidatei-me por defender um concelho diferente e uma postura, perante os vilaverdenses, diferente. Estes quatro anos que passei, enquanto vereador, vieram apenas solidificar as certezas que já possuía. Nomeadamente, quanto à falta de estratégia e de rumo para Vila Verde. Assistimos a um tipo de gestão que navega à deriva, por impulso, e satisfazendo apenas o interesse de determinados grupos.
Por outro lado, tentou-se transmitir para o exterior, através da comunicação social, a ideia de um concelho que não existe. No terreno, a realidade é completamente diferente. Nós temos um concelho carente, com problemas básicos ainda por resolver. As assimetrias entre a zona Sul e a zona Norte do concelho, por exemplo, continuam a existir e não há nenhuma medida concreta para as corrigir.
TH: Então, como dar a volta a esse problema?
LFS: Todos sabemos que a zona Sul, pelas características que possui, pela proximidade com concelhos importantes, tem um desenvolvimento diferente da zona Norte. Mas isso não é uma vantagem da zona Sul, nem uma desvantagem da zona Norte, é uma vantagem do concelho.
A zona Norte também tem muitas potencialidades, sobretudo a nível ambiental, uma verdadeira pérola por explorar. Agora, é preciso ter coragem para centrar um pouco a gestão autárquica naquela zona do concelho. Eu acho que a estratégia para Vila Verde passa, necessariamente, pela indústria do turismo, dadas as potencialidades do concelho nessa área.
Mas como poderemos nós explorar esta área, se temos apenas um posto de turismo que funciona na cave dos Paços do Concelho, ainda por cima apenas durante o horário de expediente? Porque não aproveitar a zona de Aboim da Nóbrega, ou de Mixões da Serra, para realização de trilhos BTT que atraiam pessoas do resto do concelho e mesmo de concelhos vizinhos? Porque não aproveitar aquele parque de campismo que está lá iniciado, em estado de auto-destruição já. Trata-se de um zona do concelho completamente esquecida.
TH: Como tem visto estes últimos meses de executivo camarário?
LFS: Estes últimos meses têm sido uma tentativa de disfarçar o marasmo que foi a governação do município nestes quatro anos. Fruto de erros cometidos nestes últimos anos, a Câmara está numa situação financeira desesperada, por isso pouco ou nada tem sido feito. Tem-se entrado numa onda de parcerias com privados para tentar mostrar obra feita. Estes últimos dias de inaugurações, atrás de inaugurações, visam então disfarçar uma realidade bem mais preocupante. Mas, se as pessoas repararem, a maior parte destas inaugurações dizem respeito a obras da quase total responsabilidade do governo central. Foi assim com o Clube Náutico, com o Quartel da GNR e com o Centro de Saúde em Prado. Foi assim com Extensão de Saúde de Escariz ou com o edifício da Segurança Social em Vila Verde. No fundo, esta Câmara está completamente refém dos programas do Estado e dos apoios comunitários.
Economia
TH: A nível empresarial, surgiu recentemente o anúncio de mais um forte investimento no concelho. O desenvolvimento industrial está a ser reforçado?
LFS: A falta de ocupação e rentabilização das poucas zonas industriais diz tudo sobre esse assunto. O PS de Vila Verde foi, ao longo destes anos, um acérrimo defensor da adopção de políticas que são praticadas com sucesso, em concelhos como Arcos de Valdez ou Ponte da Barca, que permitiram a diversas empresas instalarem-se nos seus concelhos, concedendo-lhes regalias, como a disponibilização de terrenos, isenção de taxas. Tudo isto permite identificar esses municípios com sendo bastante atractivos.
Finalmente, neste mandato, foi tomada a decisão de permitir a concessão de direito de superfície de alguns dos lotes do Parque Industrial de Gême a algumas empresas, nomeadamente à DST e para uma fábrica de queijos, com sede na Póvoa de Lanhoso.
Naturalmente, perguntamos quais seriam as contrapartidas dessa negociação para o município. No caso da DST, seria a criação de postos de trabalho, o desenvolvimento da indústria de vanguarda e da produção painéis de energias renováveis. Já no caso da fábrica de queijos, seria o consumo de todo o leite de cabra produzido no concelho. O que aconteceu é que, na DST, poucos foram os postos de trabalhos criados para os vilaverdenses. Além disso, a empresa não está a criar aquilo a que se comprometeu.
Já a fábrica de queijos percebeu que, em Vila Verde, não existe leite suficiente para produzir. Ora, onde é que está o apoio aos agricultores para produzir leite de cabra para esta fábrica? São as tais evidências de falta de estratégia. Nós propusemos, por exemplo, um pequeno incentivo aos agricultores da zona Norte do concelho, para poderem enveredar por essa actividade, e foi rejeitado.
Por outro lado, não se pode apregoar o apoio aos empresários, quando depois se demora um, dois, três anos a pagar aos mesmos. Deste tipo de ajudas, os empresários não precisam.
TH: Como pretende promover o emprego?
LFS: Desde logo, não centrar todas as atenções em determinado tipo de investimentos ou em determinadas zonas do concelho. Tem havido, em Vila Verde, falta de visão para definir uma estratégia séria para o concelho. Para tal, é necessário parar para pensar no que o concelho é capaz de produzir. Veja-se o caso do turismo. Parece que ainda ninguém percebeu que parte do concelho de Vila Verde está encostada ao Parque Nacional da Peneda Gerês, ou que temos uma das melhores zonas ribeirinhas do distrito. Isto são sinais evidentes de falta de atenção.
Por vezes é preciso evitar o impulso de ‘fazer e fazer’, sem pensar no que está a ser feito de errado. É preciso aceitar contributos e opiniões. Onde é que está o Conselho Municipal de Juventude? Onde estão os sinais de aceitação de contributos dos vilaverdenses? Não vejo sinais nesse sentido.
Se tiver a confiança dos vilaverdenses, a 11 de Outubro, como espero ter, quero estar disponível e aberto ao contributo de todos, num estilo de execução autárquica mais aberto e mais participativo. Acima de tudo, tem que haver maior humildade no trabalho.
Confiança perante sentimento de descontentamento
TH: Que resultado espera destas eleições autárquicas?
LFS: O único resultado que nos deixará satisfeito, não poderá ser outro que não o da vitória. Cada vez mais vou constatando um sentimento de descontentamento entre os vilaverdenses. O contexto em que é demonstrado esse desalento, e a maneira como as pessoas me manifestam esse sentimento, faz-me acreditar que querem, de facto, uma mudança. As pessoas estão cansadas das promessas que vão sendo repetidas ao longo dos mandatos, das políticas que são mais do mesmo. Sinto que as pessoas necessitam de políticas diferentes, de pessoas com ideias e projectos diferentes.
TH: Como encara a substituição, nos comandos da autarquia, de José Manuel Fernandes por António Vilela?
LFS: Não gostaria de falar muito de outras candidaturas e de opções tomadas por outros partidos. Isto porque acho que o meu papel e de quem me acompanha nesta missão, deve ser o de falar do nosso grupo, das nossas ideias, dos nossos projectos. No fundo, tornar a campanha eleitoral num acto de responsabilidade e não num acto de puro folclore, de pura festa sem conteúdo.
De qualquer forma, relativamente à substituição, para mim isso representa muito pouco. Do ponto de vista político, é uma situação de continuidade, essencialmente dos aspectos mais negativos deste executivo. António Vilela tem muitas responsabilidades, por exemplo, no estado financeiro catastrófico em que se encontra a Câmara de Vila Verde.
TH: Porquê a aposta no ex-sacerdote, Porfírio Correia, como número dois da lista Socialista para estas autárquicas?
LFS: Trata-se de uma opção muito simples. Desde logo, porque é uma pessoa que se enquadra no tipo de gestão que eu preconizo para o concelho de Vila Verde. Além disso, tem o conhecimento necessário, porque trabalha dentro da autarquia, e tem constatado os erros crassos que se têm vindo a cometer na gestão do actual executivo.
Quero dar um sinal para dentro da própria autarquia. Num concelho onde ainda imperam alguns tiques de ditadura e de perseguição a quem discorda das políticas seguidas, um funcionário da Câmara, técnico superior, pode ser um importante contributo para qualquer candidatura, mostrando não possuir qualquer receio e desalinhando daquilo que muitas vezes é imposto.
TH: Para quando uma divulgação do programa eleitoral?
LFS: Em princípio, para início de Setembro. Mas gostaria de vincar que nós não vamos fazer a campanha que o PSD já demonstrou querer fazer. As campanhas eleitorais são um acto de responsabilidade, são oportunidades para esclarecer as pessoas, momentos únicos para mostrar ideias, o que se pretende fazer e como se quer fazer. As campanhas não são festas ou actos de folclore.
TH: Não teme que um possível descontentamento face ao governo central, possa penalizar a sua candidatura a nível local?
LFS: Não acredito. As eleições legislativas e autárquicas têm dinâmicas muito diferentes. Ao nível local contam mais as pessoas, os rostos, os projectos. Tudo isto pesa.
Os vilaverdenses têm que parar para pensar. Avaliar o que foi feito até agora, ver se é este o caminho que querem que o concelho siga e, de uma vez por todas, apostar numa forma de estar diferente, numa atitude diferente, num tipo de políticas viradas para as pessoas, para as micro-empresas. Só isso permite chegar à tal qualidade de vida, tão apregoada, mas que não existe no concelho.
Onde é que está a política de auxílio aos jovens aqui em Vila Verde, onde é que está a política de auxílio ao pequenos empresários, ou aos agricultores? O que existe são chavões, slogans, muito folclore e muitas notícias nos jornais, mas depois na prática não existe nada do que é apregoado. Se queremos falar de políticas de juventude, temos que entender essa problemática e a vontade de encarar esse problema de frente permitiria corrigir, por exemplo, as tais assimetrias face ao Norte do concelho.
Por exemplo, os jovens que lá procurem construir a sua própria casa, muitas vezes, não podem, porque o Plano Director Municipal não lhes permite. E relacionado com este problema está a situação aflitiva em que se encontram os idosos, uma vez que os jovens são ‘obrigados’ a abandoná-los.
“Grandes projectos no papel e montes de asneiras na realidade quotidiana”
Abordando o programa eleitoral que irá apresentar aos vilaverdenses, Luís Filipe Silva garante que, “sem embargo da atenção mais circunstanciada”, dedicará especial atenção às questões “da infância e da terceira idade, do urbanismo, do abastecimento de água e saneamento, do ambiente, do desporto federado e popular e da acção social”.
O candidato considera necessária uma “aprovação e entrada em vigor no decurso de um primeiro ano de mandato” de um novo Plano Director Municipal.
O candidato chega mesmo a apelidar de “vergonhoso” o adiamento, durante doze anos, “deste importantíssimo instrumento de ordenamento e planeamento, foco infeccioso dos mais graves e nebulosos processos jurídico-administrativos que têm atrapalhado a gestão laranja da Câmara de Vila Verde e palco de graves prejuízos e constrangimentos para milhares de vilaverdenses privados do uso dos seus terrenos para construir casas para os seus filhos”.
Por outro lado, entende ser essencial “potenciar e dinamizar a latente riqueza concelhia, particularmente o turismo de montanha e as praias fluviais do Cávado, Homem e Neiva”. Luís Filipe Silva, considerou “confrangedor o abandono das praias fluviais, com a consequente degradação irreversível do que estava feito, e desmazelo absoluto com o demais espaço dos três rios (Cávado, Homem e Neiva), para além de um total alheamento da problemática do turismo, indubitavelmente um manancial natural que Vila Verde não pode desperdiçar”.
Na opinião do responsável socialista, os “doze anos de poder laranja, em Vila Verde, foram tempo de grandes projectos no papel e montes de asneiras e omissões na realidade quotidiana dos vilaverdenses”. “Entre muitos e delicados falhanços da gestão PSD, fica para a posteridade uma confrangedora inexistência de um modelo estratégico de desenvolvimento do nosso concelho”, defende Luís Filipe Silva.
Luís Filipe Silva criticava, ainda, “a dívida monstruosa – oito milhões de contos nas contas publicadas, doze milhões, ou mais, nas contas reais – e consequente asfixia financeira que levou esta gestão laranja a negócios ruinosos e vergonhosos para Vila Verde e os vilaverdenses”. “O negócio do parque subterrâneo e dos estacionamentos pagos na vila é um exemplo”, garante. “Gastaram-se centenas de milhares de contos, na qualificação urbanística da vila, e deu-se por 50 e 20 anos, respectivamente, tudo isso de mão beijada ao privado”, acrescentou o candidato.
Quanto à política de emprego, o representante do Partido Socialista vilaverdense, entende que esta se “resumiu à própria Câmara e aqui privilegiando apenas alguns”. “Falta um sólido apoio à instalação de empresas que tragam mão-de-obra qualificada para os vilaverdenses. O quase nada conseguido resultou no incumprimento dos protocolos subscritos, com irreparáveis prejuízos para todos nós”, concluiu.
A finalizar, o candidato referiu-se, ainda, ao apoio social aos idosos, considerando “urgente uma reformulação e valorização do Cartão do Idoso, com regalias sociais e descontos em medicamentos”, e relativamente à escola profissional, garantindo uma “adequação do ensino técnico-profissional às necessidades da realidade concelhia, exigência qualitativa e a sua extensão à zona sul de Vila Verde”.
Perfil
Luís Filipe Oliveira da Silva nasceu há 37 anos na freguesia de Vila Verde. É licenciado em Gestão Comercial e Contabilidade pela Universidade Fernando Pessoa, do Porto, e é também doutorando de 2.º ano em Gestão e Direcção de Empresas na Universidade de Vigo. Trabalhou na Caixa Geral de Depósitos. É Técnico Oficial de Contas e exerceu actividade empresarial na área de contabilidade e gestão. Desde 2005, exerce as funções de Director Adjunto do Centro Distrital de Segurança Social e Solidariedade de Braga. Foi deputado municipal e é vereador da oposição desde 2005. Foi dirigente concelhio e distrital da Juventude Socialista e preside desde 2002 à Comissão Política Concelhia de Vila Verde do PS.
Preferências
Comida: bacalhau assado e gastronomia minhota, no geral.
Bebida: água ou vinho verde tinto.
Carro: não ligo a carros, qualquer um serve.
Férias: onde me permita descansar e praticar hobbies como o BTT
Passatempo: Desporto, em especial BTT e pesca desportiva
Leitura: revistas técnicas, especialmente sobre gestão
Jornais: diariamente, os principais nacionais e regionais.
Vícios: confundem-se com os passatempos, desporto e passeios pela natureza.
Superstição: não tenho.
Tiques: que eu identifique, não tenho.
Fonte Jornal Terras do Homem
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