Escariz S. Martinho: Isolado num anexo após ter contraído bactéria no IPO

AcinetobacterBaumanii

Um homem de 69 anos está isolado, num anexo improvisado como quarto, na freguesia de Escariz S. Martinho, Vila Verde, depois de ter sido operado, no IPO do Porto, a um cancro na garganta, altura em que contraiu uma bactéria (Acinetobacter Baumanii). A família debate-se com graves problemas económicos e agora vê-se a braços com uma situação para a qual nem todos estão bem elucidados.

Ultrapassado o alarmismo inicial, que motivou alguma "discriminação" local, a situação tende a estabilizar. Uma IPSS de Moure deverá começar a fazer o acompanhamento do paciente, conferindo a dignidade possível a uma morte anunciada. Mas ergue-se outro problema, porque o material de segurança terá de ser comprado pela família, de parcos recursos.

"Um frasco de desinfectante custa 11 euros; as luvas sete euros; as máscaras sete e as batas oito euros. Só o meu sogro tem reforma. Como é possível sustentar uma situação destas", questiona Lúcia Sousa, que tem assegurado o acompanhamento do doente, mediante as indicações que lhe foram transmitidas no IPO. Porém, a nora de José Cunha Silva revela alguma revolta, na forma como todo o processo decorreu. "Informei no IPO que não havia condições em casa para acolher este doente. Se ele apanhou a bactéria lá deveria ser lá feito o tratamento".

Só que este tipo de bactérias "revela índices de agressividade mais elevados quando em ambiente hospitalar", como referiu, ao JN, José Manuel Araújo, da delegação da Saúde de Vila Verde, pelo que as práticas mundiais apontam para transferir o doente para o domicílio. "Aí, as pessoas que lidam directamente com o doente têm de cumprir os cuidados mínimos de higiene", sustenta o médico.

Só que a notícia correu célere, na pequena aldeia vilaverdense, aliando a rapidez de circulação a uma dose elevada de imprecisão. Alguns moradores começaram a apontar o caso como se uma epidemia se aproximasse e o alarme soou.

"O meu sogro sempre trabalhou como jornaleiro e agora ninguém se aproxima, porque têm receio. Inclusivamente, eu tenho um salão de cabeleireiro e já há quem tenha deixado de ir lá", revela Lúcia. Mais uma vez o médico da delegação de Saúde garante que "não existe o perigo de contágio. A possibilidade de transmissão, nos moldes em que está a ser acompanhado o doente, é nula".

A questão que se coloca neste caso concreto prende-se com um caso de condições de habitabilidade precários. José Cunha Silva teve dez filhos, alguns dos quais habitam na casa paterna. Para evitar o contacto, até porque ali residem crianças, o doente foi instalado num anexo, sem condições e sem casa de banho.

José Silva foi alvo de um procedimento cirúrgico ao nível do pescoço (traqueostomia) que estabelece um orifício artificial na traqueia, a 6 de Junho. A 16 de Agosto começou a ser tratado no IPO do Porto, onde terá contraído a bactéria. A 16 de Outubro regressou a Vila Verde e a 29 de Outubro foi a uma consulta no Hospital de S. Marcos. A família sente-se revoltada, por ter sentido, em todos estes locais por onde passou, o que parecia ser a atitude de "despachar o doente para casa". Porém, conforme foi possível apurar junto das diferentes direcções clínicas, tratou-se antes de "acautelar a saúde de todos os outros doentes, porque em ambiente hospitalar havia uma perigosidade maior de transmissibilidade".

José Manuel Araújo, da delegação de Saúde de Vila Verde, alude, inclusive, ao facto de 25% da população ser possuidora dessa bactéria que pode alojar-se em material hospitalar como equipamentos de ventilação mecânica, cateteres e toda uma parafrenália de instrumentos médicos. Fonte JN por Pedro Vila-Chã

1 comentários:

Anónimo disse...

Conheço o caso de perto e há uma falta de conhecimento, ou para ser mais duro, há muita ignorância muito grande. Como Presidente da IPSS de Moure apenas aproveito para deixar aqui esta informação: Depois de nos inteirarmos junto das entidades competentes acerca do virus e de sabermos que podemos fazer esse serviço mostramos logo disponibilidade. Quanto ao estado da casa, nada podemos fazer. Há quem possa... Relativamente ao material é uma realidade que fica ao encargo da família. Há valores estipulados nas IPSS'S e estão na lei. Se o utente não tem possibilidades há organismos próprios onde as famílias se podem dirigir. Mas permitam-me que termine assim: Não é andar constantemente atrás de televisões e de jornais que se consegue resolver o caso do pai, do marido, do avó ou do amigo.