
O dia de trabalho começou às 08h30. Dez minutos depois dois operários estavam pendurados numa viga que tinha sido colocada no dia anterior. A estrutura cedeu e os dois homens caíram desamparados, de uma altura de mais de trinta metros, na margem do rio Homem. João Luís Pereira, de 25 anos, morreu no local. Simão Leal, de 20 anos, faleceu no hospital.
Dois homens morreram ontem ao caírem de uma altura de trinta metros, quando trabalhavam na construção de uma ponte sobre o rio Homem que vai ligar os concelhos de Terras de Bouro e Vila Verde. As vítimas estavam suspensas numa estrutura metálica que tinha sido colocada no dia anterior. A Inspecção de Trabalho ordenou a suspensão da obra, que integra a Via Intermunicipal Homem-Lima.
“Os trabalhadores caíram nas margens do rio, bastante rochosas”, explicou o comandante dos Bombeiros de Terras de Bouro. João Luís Pinto Pereira, de 25 anos, residente em Marco de Canaveses e casado – a mulher está grávida de três meses – teve morte imediata. O colega, Simão Augusto Moreira Leal, de 20 anos e residente em Paredes, ainda foi sujeito a intervenção cirúrgica no Hospital de S. Marcos, mas não resistiu às “lesões múltiplas provocadas pelos traumatismos em todo o corpo” – como adiantou fonte hospitalar. As vítimas estavam ao serviço de uma empresa subcontratada: a Pacto MP Sociedade de Construções Lda, de Marco de Canaveses.
Ao que foi possível apurar, o acidente ocorreu por volta das 08h30, quando os dois trabalhadores estavam suspensos nas duas extremidades da futura ponte de Pesqueiras, junto aos dois pilares que suportarão o tabuleiro. “Os dois homens estavam a proceder a trabalhos de montagem de uma estrutura metálica de suporte da cofragem para o vão central da ponte”, adiantou ao CM fonte ligada à obra.
O comandante dos Bombeiros de Terras de Bouro, José Dias, referiu que os dois trabalhadores estavam suspensos por um cabo numa armação metálica que havia sido colocada anteontem e que “cedeu quando os homens se encontravam nas duas pontas”. João Pereira caiu na margem direita do rio, em Valdreu, Vila Verde, enquanto Simão Leal tombou sobre terrenos de Moimenta, Terras de Bouro.
Os trabalhos de remoção das vítimas demoraram quase uma hora, devido às dificuldades em chegar ao solo. “Era uma zona complicada e de grande dificuldade de mobilidade para os bombeiros”, disse José Dias, acrescentando que as vítimas foram retiradas em macas de evacuação.
Três técnicos da Inspecção do Trabalho – que apenas ao final da manhã recebeu a comunicação do acidente – estiveram no local e decidiram suspender a obra, apesar de remeterem qualquer avaliação sobre o cumprimento das normas de segurança para o “relatório final, nos próximos dias”. Hoje deverá ser tomada uma decisão sobre a possibilidade de manter a suspensão ou permitir a continuidade parcial de trabalhos na ponte.
As empresas responsáveis pela obra intermunicipal – Alberto Couto Alves e Sá Machado – não prestaram quaisquer esclarecimentos sobre o caso, tal como a entidade fiscalizadora do empreendimento, a HPN.
JUNTOS NA EMPRESA DESDE ABRIL
As vítimas mortais, Simão Augusto Moreira Leal, de vinte anos (na foto) e João Luís Pinto Pereira, de 25 anos, chegaram a trabalhar em Espanha nas obras. Decidiram regressar a Portugal e ingressaram em 24 de Abril de 2006 na sociedade de construção civil Pacto MP, de Marco de Canaveses. Tinham ambos a categoria de carpinteiros e estavam ontem fixados na mesma estrutura metálica que cedeu, na futura ponte de Pesqueiras sobre o rio Homem, completando um trajecto comum que se revelou trágico.
LIGAÇÃO A ESTRADA SÓ NO MAPA
A primeira pedra da Via Intermunicipal Homem-Lima e da ponte de Pesqueira, que liga as margens do rio Homem, foi lançada em Março do ano passado. A obra deverá acabar dentro de seis meses. Prazo que será cumprido se o decurso da obra se mantiver na normalidade. O empreendimento foi adjudicado pelos municípios de Vila Verde e Terras de Bouro a um consórcio formado por duas empresas minhotas de construção civil: Alberto Couto Alves e Sá Machado. A ponte foi reclamada durante mais de 50 anos pela população local, que assim passará a ter ligação à Auto-estrada A3 em Ponte de Lima e ao litoral, através da A28. A via vai concluir a ligação à EN307 em Boalhosa, no concelho de Ponte de Lima, uma estrada que está desenhada há muitos anos no mapa, mas que nunca existiu no terreno.
"O MEU FILHO AINDA FALOU, MAS NÃO RESISTIU"
Edmundo Leal estava inconsolável. O único filho (é pai de mais quatro raparigas) tinha encontrado a morte na construção de uma ponte sobre o rio Homem, entre os concelhos de Terras de Bouro e Vila Verde.
Quando soube da notícia, cerca das 10h00, pelo empreiteiro, nem queria acreditar. Mas, àquela hora, Simão Leal, de vinte anos, ainda era um ferido grave, que tinha sido transportado para o Hospital de Braga.
Edmundo Leal não perdeu tempo e meteu-se ao caminho para saber, pelos médicos, como estava realmente o seu filho. Ao início da tarde confirmou-se o pior: depois de três horas no bloco operatório, o Simão não aguentou e faleceu.
“O meu filho ainda falou, mas não resistiu”, disse à nossa reportagem Edmundo Leal, já na freguesia de Besteiros, concelho de Paredes, onde a família reside. Tinha acabado de chegar de Braga, onde se viveu horas dramáticas.
Dizem familiares e vizinhos que era “um rapaz às direitas”. E tinha jeito para a bola. Aliás, foi iniciado do Boavista e júnior do Paços de Ferreira. Ontem à noite tinha jogo do torneio em que participava.
Ambiente de grande consternação era o que se vivia também na freguesia de Fornos, concelho de Marco de Canaveses, de onde era natural a outra vítima deste desastre: João Luís Pinto Pereira. Tinha 25 anos, era casado e a esposa está grávida de três meses. Com poucas palavras, o sogro, Joaquim Teixeira, definiu-o como “um rapaz cem por cento, trabalhador e muito amigo da família”.
Falou também do fim de um sonho: “O que ele mais queria era fazer a sua casa e até já tinha o projecto. Hoje acabou tudo.”
A empresa Pacto MP, Sociedade de Construções comunicou que “o Simão e João eram trabalhadores incansáveis e pessoas em quem se podia confiar”.
AUTARQUIA LAMENTA
O vice-presidente da Câmara de Vila Verde, António Vilela, lamentou o acidente na ponte de Pesqueiras. “É um momento de grande tristeza por esta tragédia, que se abate sobretudo sobre as famílias destes trabalhadores. Vamos aguardar as investigações das entidades competentes e manter-nos confiantes de que estão a ser cumpridas todas as regras de segurança, porque a vida humana está acima de tudo”, reagiu o autarca. Frisou ainda não haver “razão para acelerar o que quer que seja, até porque decorre tudo dentro dos prazos normais”.
EXTENSÃO
O tabuleiro da futura ponte de Pesqueiras terá uma extensão de cerca de 40 metros, que separam os dois pilares que sustentam a estrutura.
A TRINTA METROS DO RIO
A ponte fica a mais de trinta metros sobre o rio Homem, numa zona de forte inclinação das margens.
TROÇO DE 1300 METROS A empreitada da ponte inclui a construção de um torço de acesso da Via Intermunicipal Homem-Lima, numa extensão aproximada de 1300 metros.
LIGAÇÃO INTERMUNICIPAL O novo troço vai ligar a Estrada Municipal 531, em Valdreu-Vila Verde, à Estrada Nacional 205-3, junto à sede do concelho de Terras de Bouro.
2,4 MILHÕES DE EUROS A obra intermunicipal está orçada em 2,4 milhões de euros e conta com uma comparticipação comunitária de 75 por cento do programa Intereg III. Fonte Correio da Manhã por Mário Fernandes e Baía Reis
Dois homens morreram ontem ao caírem de uma altura de trinta metros, quando trabalhavam na construção de uma ponte sobre o rio Homem que vai ligar os concelhos de Terras de Bouro e Vila Verde. As vítimas estavam suspensas numa estrutura metálica que tinha sido colocada no dia anterior. A Inspecção de Trabalho ordenou a suspensão da obra, que integra a Via Intermunicipal Homem-Lima.
“Os trabalhadores caíram nas margens do rio, bastante rochosas”, explicou o comandante dos Bombeiros de Terras de Bouro. João Luís Pinto Pereira, de 25 anos, residente em Marco de Canaveses e casado – a mulher está grávida de três meses – teve morte imediata. O colega, Simão Augusto Moreira Leal, de 20 anos e residente em Paredes, ainda foi sujeito a intervenção cirúrgica no Hospital de S. Marcos, mas não resistiu às “lesões múltiplas provocadas pelos traumatismos em todo o corpo” – como adiantou fonte hospitalar. As vítimas estavam ao serviço de uma empresa subcontratada: a Pacto MP Sociedade de Construções Lda, de Marco de Canaveses.
Ao que foi possível apurar, o acidente ocorreu por volta das 08h30, quando os dois trabalhadores estavam suspensos nas duas extremidades da futura ponte de Pesqueiras, junto aos dois pilares que suportarão o tabuleiro. “Os dois homens estavam a proceder a trabalhos de montagem de uma estrutura metálica de suporte da cofragem para o vão central da ponte”, adiantou ao CM fonte ligada à obra.
O comandante dos Bombeiros de Terras de Bouro, José Dias, referiu que os dois trabalhadores estavam suspensos por um cabo numa armação metálica que havia sido colocada anteontem e que “cedeu quando os homens se encontravam nas duas pontas”. João Pereira caiu na margem direita do rio, em Valdreu, Vila Verde, enquanto Simão Leal tombou sobre terrenos de Moimenta, Terras de Bouro.
Os trabalhos de remoção das vítimas demoraram quase uma hora, devido às dificuldades em chegar ao solo. “Era uma zona complicada e de grande dificuldade de mobilidade para os bombeiros”, disse José Dias, acrescentando que as vítimas foram retiradas em macas de evacuação.
Três técnicos da Inspecção do Trabalho – que apenas ao final da manhã recebeu a comunicação do acidente – estiveram no local e decidiram suspender a obra, apesar de remeterem qualquer avaliação sobre o cumprimento das normas de segurança para o “relatório final, nos próximos dias”. Hoje deverá ser tomada uma decisão sobre a possibilidade de manter a suspensão ou permitir a continuidade parcial de trabalhos na ponte.
As empresas responsáveis pela obra intermunicipal – Alberto Couto Alves e Sá Machado – não prestaram quaisquer esclarecimentos sobre o caso, tal como a entidade fiscalizadora do empreendimento, a HPN.
JUNTOS NA EMPRESA DESDE ABRIL
As vítimas mortais, Simão Augusto Moreira Leal, de vinte anos (na foto) e João Luís Pinto Pereira, de 25 anos, chegaram a trabalhar em Espanha nas obras. Decidiram regressar a Portugal e ingressaram em 24 de Abril de 2006 na sociedade de construção civil Pacto MP, de Marco de Canaveses. Tinham ambos a categoria de carpinteiros e estavam ontem fixados na mesma estrutura metálica que cedeu, na futura ponte de Pesqueiras sobre o rio Homem, completando um trajecto comum que se revelou trágico.
LIGAÇÃO A ESTRADA SÓ NO MAPA
A primeira pedra da Via Intermunicipal Homem-Lima e da ponte de Pesqueira, que liga as margens do rio Homem, foi lançada em Março do ano passado. A obra deverá acabar dentro de seis meses. Prazo que será cumprido se o decurso da obra se mantiver na normalidade. O empreendimento foi adjudicado pelos municípios de Vila Verde e Terras de Bouro a um consórcio formado por duas empresas minhotas de construção civil: Alberto Couto Alves e Sá Machado. A ponte foi reclamada durante mais de 50 anos pela população local, que assim passará a ter ligação à Auto-estrada A3 em Ponte de Lima e ao litoral, através da A28. A via vai concluir a ligação à EN307 em Boalhosa, no concelho de Ponte de Lima, uma estrada que está desenhada há muitos anos no mapa, mas que nunca existiu no terreno.
"O MEU FILHO AINDA FALOU, MAS NÃO RESISTIU"
Edmundo Leal estava inconsolável. O único filho (é pai de mais quatro raparigas) tinha encontrado a morte na construção de uma ponte sobre o rio Homem, entre os concelhos de Terras de Bouro e Vila Verde.
Quando soube da notícia, cerca das 10h00, pelo empreiteiro, nem queria acreditar. Mas, àquela hora, Simão Leal, de vinte anos, ainda era um ferido grave, que tinha sido transportado para o Hospital de Braga.
Edmundo Leal não perdeu tempo e meteu-se ao caminho para saber, pelos médicos, como estava realmente o seu filho. Ao início da tarde confirmou-se o pior: depois de três horas no bloco operatório, o Simão não aguentou e faleceu.
“O meu filho ainda falou, mas não resistiu”, disse à nossa reportagem Edmundo Leal, já na freguesia de Besteiros, concelho de Paredes, onde a família reside. Tinha acabado de chegar de Braga, onde se viveu horas dramáticas.
Dizem familiares e vizinhos que era “um rapaz às direitas”. E tinha jeito para a bola. Aliás, foi iniciado do Boavista e júnior do Paços de Ferreira. Ontem à noite tinha jogo do torneio em que participava.
Ambiente de grande consternação era o que se vivia também na freguesia de Fornos, concelho de Marco de Canaveses, de onde era natural a outra vítima deste desastre: João Luís Pinto Pereira. Tinha 25 anos, era casado e a esposa está grávida de três meses. Com poucas palavras, o sogro, Joaquim Teixeira, definiu-o como “um rapaz cem por cento, trabalhador e muito amigo da família”.
Falou também do fim de um sonho: “O que ele mais queria era fazer a sua casa e até já tinha o projecto. Hoje acabou tudo.”
A empresa Pacto MP, Sociedade de Construções comunicou que “o Simão e João eram trabalhadores incansáveis e pessoas em quem se podia confiar”.
AUTARQUIA LAMENTA
O vice-presidente da Câmara de Vila Verde, António Vilela, lamentou o acidente na ponte de Pesqueiras. “É um momento de grande tristeza por esta tragédia, que se abate sobretudo sobre as famílias destes trabalhadores. Vamos aguardar as investigações das entidades competentes e manter-nos confiantes de que estão a ser cumpridas todas as regras de segurança, porque a vida humana está acima de tudo”, reagiu o autarca. Frisou ainda não haver “razão para acelerar o que quer que seja, até porque decorre tudo dentro dos prazos normais”.
EXTENSÃO
O tabuleiro da futura ponte de Pesqueiras terá uma extensão de cerca de 40 metros, que separam os dois pilares que sustentam a estrutura.
A TRINTA METROS DO RIO
A ponte fica a mais de trinta metros sobre o rio Homem, numa zona de forte inclinação das margens.
TROÇO DE 1300 METROS A empreitada da ponte inclui a construção de um torço de acesso da Via Intermunicipal Homem-Lima, numa extensão aproximada de 1300 metros.
LIGAÇÃO INTERMUNICIPAL O novo troço vai ligar a Estrada Municipal 531, em Valdreu-Vila Verde, à Estrada Nacional 205-3, junto à sede do concelho de Terras de Bouro.
2,4 MILHÕES DE EUROS A obra intermunicipal está orçada em 2,4 milhões de euros e conta com uma comparticipação comunitária de 75 por cento do programa Intereg III. Fonte Correio da Manhã por Mário Fernandes e Baía Reis
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