Portugal: Bispo de Beja, oriundo de Vila Verde, comenta estado do país e do mundo, 'O mundo financeiro tem os políticos todos na mão'





O Bispo de Beja, D. Vitalino Dantas, oriundo do nosso concelho de Vila Verde, comenta estado do mundo e do país, 'O mundo financeiro tem os políticos todos na mão':



O bispo de Beja, D. Vitalino Dantas, 73 anos, nasceu em Vila Verde, Braga. Diz que a Igreja não se deve alhear dos que sofrem e não gosta do assistencialismo. Defende a não eternização no poder e espera que o Papa Francisco continue a renovação em curso. É adepto das novas tecnologias. Usa smartphone e tablet.

Aos 10 anos descobriu a vocação. No exame da quarta classe, foi-lhe pedida uma redacção sobre o que queria ser. “Missionário e dar a conhecer Jesus Cristo”, respondeu. O pai, “um pequeno construtor do Minho”, ofereceu-lhe trabalho. Recusou: “Posso ir nas férias, mas quero ir para o seminário”. Viveu dez anos na Alemanha, mas depois do 25 de Abril quis regressar.

Passou pelo Minho, Alentejo, viveu na Alemanha.
A minha infância foi no Minho. Aos 10 anos quis ser missionário e escolhi os Capuchinhos. Fui para Vila Nova de Poiares. Voltei ao Minho para outro seminário. Depois entrei na Ordem do Carmo. Estudei em Fátima e na Alemanha, Teologia e Filosofia. Vivi na Alemanha de 1966 a 1976. Dediquei-me aos emigrantes. Mas o tempo principal da minha vida foi em Santo António dos Cavaleiros, Loures. Fui com a tarefa de construir uma igreja, a comunidade. Foi a minha grande aprendizagem como padre. A seguir ao 25 de Abril, havia muita pobreza, pessoas de costas voltadas. Umas com a ideia de revolução; os retornados descontentes; e aqueles a quem chamavam fascistas. Não se falavam. Um bairro assim não tinha futuro.

Qual foi o seu papel?
Tentar o diálogo. Consegui com alguma imaginação pôr aquela gente a colaborar. Nasceu a paróquia. Construímos a igreja e outras infra-estruturas. Fundei um centro cultural e social que tinha mais de 500 praticantes. Fundei a ocupação de tempos livres, com os jovens. Nasceu ali uma comunidade que continua.

Estava na Alemanha no 25 de Abril?
Voltei em 1976, mas em 1974 aproveitei para ver o ambiente. Foi para mim um momento muito feliz, de esperança. Muita gente emigrou por causa da pobreza, da falta de liberdade, pelo medo. Como devo obediência a uma congregação, escrevi que estaria disposto a regressar. Pedi um tempo e em 1976 voltei.

De que forma é que a crise actual chegou ao Alentejo?
A crise afectou muito, mas a reorganização das empresas, da agricultura também trouxe muitos desempregados. As máquinas fazem parte do trabalho. As pessoas têm mais níveis de formação, já não querem voltar à agricultura. Os jovens quase não encontram aqui futuro. Há poucas indústrias. E o Alentejo está muito desertificado. Estou cá há 16 anos - neste período perdemos mais de 10 mil habitantes na área da diocese. Há aldeias que nos anos 60 tinham cinco a seis mil habitantes e que, agora, nem mil têm. Muitos montes estão abandonados.

Disse que no Alentejo “há empresas agrícolas que são associais, criadoras de pobreza”. Qual é, para si, a função social da terra?
Quando os bens não são usados apenas para o bem-estar dos proprietários, mas para contribuir para o desenvolvimento integrado do país e da região estou de acordo. Porque o que é de todos às vezes não é de nenhum. O resultado de uma boa administração não pode ser para o consumo desenfreado de alguns e outros ao lado a morrerem ou a passarem fome. Para nós, que acreditamos na doutrina social da Igreja, uma boa administração é solidária e social. Se não for, quer dizer que só se interessa pelo capital, consumo próprio, e não pelo bem das pessoas. Aí o Estado, através de impostos ou de outras medidas, terá de ajudar esses proprietários a entrarem na dinâmica do bem comum. Não apenas numa dinâmica de uso egoísta dos bens.

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