Pires
Em 1987, o Sporting afastou o FC Porto da Taça de Portugal graças a um triunfo nas Antas por 1-0 com um golo no último minuto do prolongamento.
Dez de Maio de 1987, Estádio das Antas, minuto 119 do FC Porto-Sporting a contar para as meias-finais da Taça de Portugal. O resultado era um empate sem golos. “Mas estava a ser um jogo aberto. Jogavam as duas equipas para a frente”, recorda Mário Marques Coelho, médio brasileiro dos “leões”. Em poucos segundos, tudo mudou. Contra-ataque rápido de Marlon Brandão pela direita, a bola chega aos pés de Mário, que dispara de fora da área, sem qualquer hipótese para o guarda-redes polaco Mlynarczyk. O Sporting avançava para a final, naquela que, 27 anos depois, continua a ser a última vitória “leonina” no reduto do “dragão” em jogos da Taça.
“Há coisas que marcam e esse golo está marcado na minha vida”, diz ao PÚBLICO Mário, actualmente treinador do Bangu, clube do Rio de Janeiro. Este brasileiro agora com 57 anos, filho de pais portugueses, esteve duas épocas no Sporting e uma no Estrela da Amadora e este foi o momento que mais o marcou e que ele descreve como se tivesse acabado de acontecer (também ajuda que o vídeo do golo esteja no Youtube): “A jogada está toda na minha cabeça. Era uma falta a favor do FC Porto. O Jaime Magalhães tentou marcar rápido, interceptámos a bola, lançámos o Marlon no contra-ataque, eu consegui acompanhar, recebi a bola ao pé da grande área, tinha um zagueiro, [defesa central] o Celso, na frente e bati forte. Não marcava muitos golos, mas dos que marcava muitos eram de fora da área. Foi o golo mais importante da minha carreira no Sporting.”
Depois de marcar o golo, Mário foi imediatamente substituído pelo técnico Keith Burkinshaw para encurtar a o mais possível a reacção portista e o árbitro Alder Dante não demorou muito mais para dar o jogo por terminado — esta foi uma das quatro vitórias “leoninas” no campo do FC Porto em jogos para a Taça. Mas a história desta época seria bem mais lisonjeira para o FC Porto do que para o Sporting. Os “leões” perderiam a final da Taça para o Benfica e ficaram-se por um 4.º lugar no campeonato. Já este FC Porto de Artur Jorge iria, 17 dias depois da derrota nas Antas, sagrar-se campeão europeu no Estádio do Prater, em Viena, numa memorável final contra o Bayern Munique.
“O FC Porto tinha uma grande equipa, com muitos internacionais. Não foi só uma questão de marcar um golo que deu uma vitória, foi um golo que deu uma vitória em casa de uma equipa super-forte. Há coisas que não têm preço e esta foi uma delas”, conta o antigo médio “leonino”, que, nas duas épocas em Alvalade, conquistou a Supertaça Cândido de Oliveira, em 1987. Depois ainda teria uma passagem pelo Estrela da Amadora marcada por muitas lesões, antes de regressar ao futebol brasileiro, com 32 anos, para terminar a carreira no Bangu, clube de onde tinha saído.
A chegada ao futebol português, aos 28 anos, foi quase como um regresso a casa para Mário, que representou ainda o Fluminense, o Vasco da Gama e o Botafogo, graças a uma observação directa do então presidente do Sporting João Rocha. “O presidente veio ver um jogo do Bangu, estavam interessados no Marinho, um ponta-direita, e acabaram por levar o Marlon. Depois, o senhor Palmeira Branco, representante do Sporting no Brasil recebeu um telefonema a dizer que o Sousa e o Jaime Pacheco iam regressar ao FC Porto, ele conhecia-me e sabia das minhas raízes portuguesas, o João Rocha gostou e levaram-me para Portugal.”
A ligação de Mário a Portugal não se resume ao futebol. “Sou o único da família que nasceu no Brasil. Os meus pais, o meu irmão e a minha irmã nasceram em Portugal. A história dava um livro. O meu pai era de Aboim da Nóbrega, uma aldeia lá para Vila Verde”, conta Mário, que nasceu no Rio de Janeiro. Diz que, quando não está a trabalhar e vem descansar a Portugal, tem de percorrer o país de ponta a ponta porque a família e os amigos estão espalhados por todo o lado.
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