Sabariz: Saudades do Caldo do Pote provoca enchente em Sabariz


Enorme enchente foi registada este sábado, 20 de setembro, na Festa do Caldo do Pote. O renovado largo da sede da junta de freguesia de Sabariz, Vila Verde, atraiu largas centenas de visitantes de um evento que já é uma lenda na programação Na Rota das Colheitas.


O início estava marcado para as 18:30 mas às 16:00 já havia quem passasse pelo local para ver como corriam os preparativos. Às 17:00 já tinha que se estacionar longe do local. Os lugares mais próximos da sede da junta de freguesia de Sabariz, a mais pequena das freguesias do extenso território do concelho de Vila Verde, já estavam ocupadas. Às 18:30 já havia filas para alguns dos mais afamados das cerca de duas dezenas de caldos confecionados em potes de ferro sob fogueiras a lenha.

Estes são alguns dos factos que registamos num final de tarde que fez-se soalheiro apesar da impecável organização se ter precavido para condições meteorológicas adversas. Todas as condições estavam reunidas para a melhor edição de sempre e as cerca de 1000 tigelas preparadas para este ano esgotarem precocemente face à procura dos caldos.

De facto, a Festa do Caldo do Pote, que é organizada pela Associação Popular de Sabariz e pela Junta de Freguesia local, mostrou uma evolução assinalável nas suas condições. O espaço exterior foi remodelado e reorganizado, o piso foi modernizado e a terra batida deu lugar ao paralelepípedo. A entrada foi monitorizada cobrando-se um euro por visita ou três para o kit dos caldos que dava direito a provar todos, a beber vinho ‘tintão’ ou outra bebida á escolha, a comer as generosas pataniscas “maiores que pães!”, como alguém observou e ainda a desfrutar de música ambiente de artistas locais como Zé Pedro Ribeiro, Minhotos Marotos ou Show do Minho entre outros e a conviver, num ambiente em que se juntam figuras de todo o concelho e forasteiros vindos de longe, como de Gaia, à procura de sabores praticamente extintos.

“Não sabia que um caldo podia ser tão rico em sabor. É uma emoção comer isto”, desabafou Maria Helena, que da outra margem do Douro aproveitou uma escapada de fim-de-semana ao minho para vir a Sabariz, porque, segundo referiu: “li algures sobre este evento e fiquei curiosa”. Com ela veio o marido e um casal amigo, maravilhados com o ambiente.

Joaquim Araújo, de Braga, veio mesmo atrás da recordação do sabor: “as saudades que eu tenho deste sabor…”, referiu com um brilho intenso no olhar e o sorriso de criança, como se voltasse décadas atrás no tempo. “A minha avó vivia na aldeia, numa casa de aldeia, com paredes escuras e cheiro a fumo. Já tinha fogão mas não se dava a cozinhar nele e adorava o sabor da comida preparada no pote…”, recorda saudoso. Com ele trouxe os dois filhos adolescentes que também se adicionaram. É o segundo ano que vêm e esperam continuar. “O que aqui se faz não tem preço”, rematou Joaquim.

A Festa do Caldo do Pote é um dos eventos mais carismáticos da programação Na Rota das Colheitas. Consciente disso, o Município de Vila Verde é um dos francos impulsionadores e este ano apoiou a Junta de Freguesia no incremento das condições deste evento.

Fernando Simões, presidente da Junta de Freguesia de Sabariz salientou isso “em oito dias, a Câmara e nós transformamos o chão que estava em lama e areia. Mas para o ano ainda estará melhor, pois não tivemos tempo de intervir na cobertura. Tivemos que colocar estes plásticos como recurso”.

O autarca, que encabeça a junta desde 2011, recorda como nasceu esta ideia de ressuscitar uma tradição tão antiga e querida dos mais velhos, que aos novos conquista: “Quem deu esta ideia foi o Paulo Sousa. A junta organizou-se com a associação, começámos a fazer e a atrair logo de início muita gente, chovia e o pessoal não saia daqui, e este ano é isto que se vê”.

Qual o segredo do sucesso deste evento? “O segredo é que é tudo feito à mão e à vista de quem quer, sem máquinas. Enquanto aqui estiver vamos continuar com esta ‘brincadeira’”, rematou Fernando Simões que não deixa de agradecer às dezenas de voluntários que se empenham anualmente nesta atividade, com trabalho e simpatia.

No final, a apreensão pelo stock das 1000 tigelas poder não ser suficiente para a procura. “Se não chegarem vamos recorrer às antigas. Ainda temos ali 500 do ano passado”.

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