As tradições da cultura popular são uma potencialidade única de valorização do mundo rural. Isso mesmo ficou anteontem vincado na Festa do Caldo do Pote de Sabariz, Vila Verde, onde mais de mil pessoas, de todas as idades e oriundas dos mais diversos pontos do país, se juntaram para saborear duas dezenas de diferentes caldos feitos à moda antiga, em potes de ferro sobre fogueiras a lenha.
O bom gosto dos legumes campestres e carnes caseiras foi repetidamente reconhecido e elogiado pelas gentes que, de malga na mão, iam provando dos caldos que iam ficando prontos a servir. Sempre ao som de concertinas e cantares populares, a Festa do Caldo impressionou pelo ambiente de convívio e proximidade quase familiar que se podia sentir entre todos os presentes.
“Esta é uma das iniciativas de grande sucesso da Rota das Colheitas e que tão bem exemplifica como o mundo rural tem potencialidades que o tornam único e podem garantir a sua sustentabilidade neste mundo cada vez mais global”, apontou o presidente da Câmara de Vila Verde, António Vilela, que encerrou o evento com o agradecimento e o reconhecimento públicos pelo trabalho dos envolvidos na organização, com especial referência para cozinheiras e cozinheiros dos caldos.
Acompanhado pela vereadora da cultura, Júlia Fernandes, o presidente da Câmara salientou que “estes sabores autênticos da boa cozinha campestre, como todos pudemos saborear aqui, comprovam bem a força das raízes das nossas terras e a riqueza dos nossos territórios”.
No final, todos os potes ficaram vazios. Foram servidos o caldo verde, da pedra e de feijão verde, à lavrador, à camponesa, do domingo de Ramos, de bacalhau, ministros (com nabos e nabiças), de ossobuco e até de galinha.
Couves, repolho e os mais variados legumes, a par de feijões e castanhas, sem esquecer as boas carnes campestres, fizeram parte do leque de ingredientes para a confecção dos diferentes caldos, que incluíram ainda a farinha e também a batata esmagada à colher - tal como no tempo das boas cozinheiras deste mundo rural em que não havia varinhas mágicas.
Muito apreciada foi igualmente a feirinha de produtos do campo, com pessoas de Sabariz ligadas à lavoura a exporem e venderem desde uvas americanas, maçãs, laranjas e outras frutas, muitas cabaças, ovos e também mel e marmelada, assim como broas de pão e as famosas ‘sopas de burro cansado’.
O presidente da Junta de Sabariz, Fernando Simões, confessou-se visivelmente satisfeito pelo sucesso da iniciativa, que na sua terceira edição continua em crescendo e a surpreender pelo nível de adesão. “É, sem dúvida, um evento de sucesso que temos de dar continuidade e apoiar para poder corresponder sempre às mais exigentes expectativas”, assegurou o autarca.
Organizada pela Junta de Freguesia e pela Associação Popular de Sabariz, a festa contou ainda com a colaboração da Associação de Freguesias do Vale do Homem. Com uma imagem muito associada às tradições e costumes dos mais antigos, a Festa do Pote de Sabariz evidenciou uma grande capacidade para envolver gentes mais novas.
Crianças a partir dos 10 anos participaram na ajuda à concretização do evento. Foram os casos da Mariana e do Luís, da Clarisse e das gémeas Catarina e Filipa, sempre muito alegres e motivadas a servir os convivas, fosse nas bebidas, nos bolos ou nas malgas. Nas pataniscas, Lurdes Marques, as irmãs Fátima e Marquesa, Fátima Mendes e Rosa Campos procuravam satisfazer todos os pedidos e encomendas de uma iguaria feita também ao lume a lenha.
Com 85 anos de idade, Ilídia Soares é a anciã e referência dos cozinheiros e cozinheiras dos caldos, com natural atenção para os filhos Asdrúbal, José e João Pereira. O grupo incluiu os profissionais José Silva (Quinta Praia Verde) e Domingos Gonçalves (Clarícia Eventus), a par de Amélia Borges, Manuela Cunha, Rosa Esteves, Rosa Gomes, Paulo Sousa e Mário Fernandes. Desta vez, o grupo foi reforçado com representantes das freguesias do Vale do Homem, Olívia Sousa de Lanhas e Pedro Cunha, de Coucieiro.
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