«Vão com cabeça, tronco e membros, não vão à aventura». Professor recomenda África
Sair, entrar, reentrar, voltar a sair do país. Um vaivém que é agora «a coisa mais natural do mundo». «É uma inevitabilidade. Mas é uma boa inevitabilidade». Palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve esta segunda-feira na conferência-debate «Um nosso futuro em África - Que oportunidades para os jovens portugueses em África?», que decorreu na Universidade Nova de Lisboa. O antigo líder do PSD deixou também alguns avisos.
«O vosso tempo e o vosso espaço não é o meu tempo nem o meu espaço. Fui formado para ter a mesma profissão ao longo da vida e em Lisboa, onde a minha família tem raízes. Os meus alunos vão viver mais tempo e, só por um acaso, onde têm as suas géneses».
Marcelo Rebelo de Sousa faz uma ressalva: «Não sou dos que dizem que [os jovens] têm de emigrar à força, mas muito provavelmente é muito estranho», hoje em dia, que «as pessoas estejam duradouramente no mesmo sítio». Isso «significa um mau currículo».
À entrada da conferência já tinha deixado um conselho: quem vai para fora, que vá «com cabeça, tronco e membros, isto é, preparando a sua ida, não vão à aventura, vão com a ideia exatamente da área em que querem trabalhar, das condições de trabalho, de tempo, se querem ir sozinhos ou com a família».
África será uma boa opção? Há um «leque de oportunidades» para pessoas mais ou menos qualificadas e que «atrai e está em condições de atrair milhares e milhares de jovens portugueses» nos próximos anos. Já na conferência sublinhou que «os não africanos não imaginam o quão fascinante é África. Portugal é como alguém que tem 80 anos e os países africanos têm realmente 20 anos».
À Agência Financeira, Gustavo Almeida, estudante do 3ºano de Economia, e um dos cerca de 160 jovens que compunham a plateia, disse que, se emigrasse para África, escolheria provavelmente a África do Sul.
Sofia Oliveira, do mesmo curso, disse que «a cadeira de Economia do Desenvolvimento está a alimentar o meu interesse por esta área». Quer saber «se há boas perspetivas», mas não equaciona emigrar. «Há muita coisa para fazer aqui em Portugal». E a austeridade é um mal necessário: «O memorando de entendimento assinado com a troika sem dúvida vai trazer progresso, mas a longo prazo. Nem toda a gente aceita estes sacrifícios, mas eles são essenciais para o futuro».
África precisa de quem?
Para aqueles que se sentem impelidos a viver e trabalhar em África, há uma série de sectores com grande abertura. Rebelo de Sousa enumerou alguns: seja para «economistas, gestores, juristas», seja para a área da saúde, como «gente menos qualificada, para a construção civil, para a área social, para Organizações Não Governamentais». Para a agricultura também - «pode ser muito interessante em África».
«Não é possível», no entanto, «dar um catálogo exaustivo de hipóteses». Depende das regiões. Angola é um dos destinos preferenciais, é certo, mas «Moçambique, que antes era menos interessante» tem conhecido «sinais de aceleração no processo económico. Talvez valha a pena mais do que Angola» neste momento.
No Brasil, outro destino que tem atraído muito portugueses, o professor aconselha os jovens a pensarem duas vezes. «Alguns vão de cabeça quente, há uma multiplicação de amigos que se precipitam, pessoas que ainda estão há procura de emprego. Há oportunidades, mas não simplifiquemos. Há muitos brasileiros - e jovens ¿ qualificados. Se puderem não ir no impulso irracional, porque apetece, porque é moda, porque estão fartos disto, porque há um vazio, por causa do desemprego, cuidado. O crescimento do Brasil já não é o que foi, A concorrência é muito grande e muito difícil». Melhor é «ir ver antes de ir» em definitivo.
O antigo comissário europeu socialista António Vitorino, também presente no evento, reconheceu que emigrar é «uma decisão difícil e dolorosa». Mas «num mundo global mais do que emigrar eu falo em circular. Este é o grande século de circulação de pessoas».
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