Mundo: Conheça um pouco mais dos 50 heróis de Fukushima, Japão (Via Público)




São os heróis do momento. Cinquenta japoneses arriscam a vida a cada segundo tentando evitar o pior: uma catástrofe nuclear.

Devidamente equipados com os fatos anti-radiação, 50 japoneses trabalham incansavelmente na central nuclear de Fukushima I, que tem sido palco de explosões e incêndios desde o sismo de 9,0 da passada sexta-feira e que ameaça libertar para a atmosfera uma nuvem radioactiva com consequências imprevisíveis.

Hora a hora, estes 50 trabalhadores - os únicos que ficaram após a retirada dos restantes 750 - deitam água do mar nos núcleos dos reactores que apresentam perigosos níveis de aquecimento.

Muitos dos trabalhadores estão voluntariamente neste combate. Está intimamente entranhada na cultura japonesa esta dignidade profissional e este trabalho individual em prol de um bem comum.

A ministra japonesa da Saúde afirmou ontem que vai aumentar o limite legal de exposição a radiações para os 250 miliSieverts (o anterior limite estava nos 100). Esta quantidade é cinco vezes superior ao máximo permitido, por exemplo, nas centrais nucleares americanas. Esta decisão governamental significa que estes 50 heróis poderão, com o devido acautelamento legal, permanecer mais tempo no interior da central. “Seria inimaginável aumentar ainda mais o limite, por causa dos riscos para a saúde dos trabalhadores”, indicou a ministra, Yoko Komiyama.

Mesmo assim, a concentração de radiações no interior da central é tão elevada, segundo o “The New York Times”, que às vezes os trabalhadores têm de ser revezados passados poucos minutos.

Até ao momento já morreram cinco funcionários e outros 22 ficaram feridos, em ocasiões diferentes. Dois estão desaparecidos.

Apesar disso, o grupo não arreda pé. Alguns ex-trabalhadores em centrais nucleares americanas, ouvidos pelo NYT, indicaram que a solidariedade entre os funcionários de uma estrutura deste género é muito grande. Os trabalhadores passam muitas horas juntos, em turnos, e há um espírito de missão muito grande. “Claro que ficamos preocupados com a saúde e a segurança das nossas famílias, mas temos a obrigação de permanecer nas instalações. Há um sentimento de lealdade e de camaradagem”, indicou ao jornal Michael Friedlander, que trabalhou 13 anos em três diferentes centrais americanas.

Não foram reveladas as identidades destes 50 trabalhadores que ficaram para trás nem as autoridades adiantaram como é que eles poderão ser substituídos em caso de mais acidentes.

As autoridades falaram hoje, porém, num reforço humano para a central de Fukushima I, sem darem mais detalhes.

Em 1986, após o desastre nuclear de Chernobil, muitos trabalhadores também se voluntariaram para permanecer na central, embora ainda não seja claro se a maioria deles conhecia toda a verdade acerca dos riscos. Três meses após a fuga radioactiva massiva, 28 trabalhadores morreram em consequência das radiações e outros 106 desenvolveram doenças crónicas relacionadas com as radiações, como náuseas, diarreia e perdas de sangue. No total, mais de cinco milhões de pessoas daquela região foram dadas como “contaminadas” em consequência do desastre na central ucraniana.

Fonte Público por Susana Almeida Ribeiro

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