Quase metade (46 por cento) dos portugueses considera que as actuais condições económicas e sociais são piores do que há 40 anos. O desemprego é o maior desafio e a desconfiança face ao Governo e aos políticos é generalizada.
Estas são algumas das conclusões do estudo “As escolhas dos Portugueses e o Projecto Farol”, resultantes de um inquérito a 1002 pessoas realizado pela consultora Gfk.
Para 46 por cento dos inquiridos, o actual cenário económico e social é considerado pior, ou muito pior, quando comparado com a vida há 40 anos, antes do 25 de Abril. Se a comparação for feita com um período mais recente, as perspectivas são ainda mais desanimadoras. Mais de metade dos portugueses (58 por cento) vê a vida actual como pior ou muito pior face há 25 anos, antes da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE).
Para 81 por cento dos portugueses, o principal problema nacional é o desemprego, seguindo-se o sistema de saúde e o endividamento das famílias, que reúnem o consenso de 26 por cento dos inquiridos. A esmagadora maioria (78 por cento) acredita que o país está a caminhar na direcção errada e mais de metade (53 por cento) considera que a situação económica e social do país será pior ou muito pior no prazo de dez anos.
O inquérito revela ainda que há uma grande desconfiança por parte dos portugueses no sistema político. Cerca de 90 por cento dos inquiridos dizem desconfiar ou confiar muito pouco na classe política e nos Governos, 89 por cento nos partidos políticos e 84 por cento na Assembleia da República. Os tribunais, os sindicatos e a administração pública reúnem também elevados níveis de desconfiança.
Em aparente contradição com esta desconfiança generalizada no sistema político está a convicção expressa pela maioria (74 por cento) de que o Estado deve contribuir sempre para a competitividade e o desenvolvimento de Portugal. Só depois vêm as empresas privadas e pública, os media ou a sociedade em geral. Além disso, 64 por cento dos portugueses considera o modo mais eficaz de influenciar a sociedade é votar nas eleições, o que parece contrariar a fraca confiança na classe política.
Parece ainda haver pouca propensão ao risco por parte dos portugueses, já que mais de metade (54 por cento) diz que não estaria disposto a lançar um negócio próprio.
Resultados revelam pessimismo
O presidente do grupo Sonae, Belmiro de Azevedo, admitiu hoje não ver “um caminho fácil para melhorar os indicadores deste estudo”, que surpreendeu em alguns aspectos os promotores do Projecto Farol. Este projecto pretende traçar um guia para o desenvolvimento do país até 2020 e tem como promotores Belmiro de Azevedo, Daniel Proença de Carvalho, Jorge Marrão, António Pinho Cardão, José Maria Brandão e Manuel Alves Monteiro
Para José Maria Brandão de Brito, os resultados do estudo mostram que os portugueses “estão particularmente deprimidos e pessimistas”. “Foram três anos de crise que marcaram muito”, considera, acrescentando que o facto de a situação actual estar muito marcada pelo desemprego contribui para um posicionamento face ao futuro bastante negativo.
Jorge Marrão considera mesmo que a sociedade portuguesa está mal informada sobre o grau de desenvolvimento do país. “Obviamente que Portugal está melhor hoje do que há 40 anos”, conclui. António Pinho Cardão acrescenta ainda que o estudo mostra que os portugueses percepcionam a política e os políticos como não tendo a mínima credibilidade, mas também revela “um país conservador, com enorme aversão ao risco e sempre pronto a recorrer ao auxílio do Estado”.
Fonte Jornal Público por Ana Rita Faria
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