
Depois de doze anos à frente dos destinos de Vila Verde, José Manuel Fernandes decidiu aceitar o convite do partido e integrar a lista ao Parlamento Europeu, pelo PSD. Foi uma decisão difícil, tomada em família, onde a opinião da filha, de apenas 11 anos também contou.
“Foi decidido na cozinha, estava eu a minha mulher e a minha filha, no Dia do Conselho Nacional, eram oito da noite e eu estava a dizer que não ia, no entanto acabámos por decidir que devia aceitar”, disse o eurodeputado, adiantando que na altura ficou também decidido que, “fosse, ou não, eleito para o Parlamento Europeu não seria candidato à câmara de Vila Verde”.
José Manuel Fernandes encara a política como uma missão. Diz que foi assim que “esteve” enquanto presidente de câmara e é assim que “está enquanto deputado europeu. “A política é efémera e, por isso, tem de ser vivida com intensidade, vista como uma missão”, refere o deputado.
O ex-autarca de Vila Verde admite que a adaptação a eurodeputado foi difícil, sobretudo perceber que os resultados do seu trabalho não eram imediatos, assim como na autarquia. Diz que na primeira semana chegava ao fim do dia e tinha a sensação de que nada estava resolvido, “parecia que não tinha feito nada”. Perceber a utilidade do seu trabalho terá sido a adaptação mais difícil. Agora, tem a consciência de que “muitas das propostas feitas e que foram aprovadas vão ter um efeito alargadíssimo na União Eropeia mas vão demorar a ser concretizadas”.
Questinado qual o papel em que se sente melhor, eurodeputado ou presidente de câmara, José Manuel Fernandes diz que a resposta é difícil e “é impossível fazer a comparação”. No entanto, adianta que o Parlamento Europeu superou todas as suas expectactivas. “Estou a desenvolver um trabalho que me dá muito gozo, é um desafio muito motivador”, sublinhando ainda que o trabalho no Parlamento “é muito gratificante, sobretudo, quando vemos as nossas propostas aprovadas”. “Estou com uma sobrecarga de trabalho face aos dossiers em mãos, mas está a valer a pena” revelou ainda José Manuel Fernandes.
Deputado revelação
O trabalho que está a desenvolver mereceu já elogios por parte dos colegas do parlamento. Foi mesmo apelidado de deputado revelação. O vilaverdense explica que a afirmação surgiu de grupos não portugueses. “Teve a ver com o facto de ter ganho duas votações contra deputados de países muito fortes e de se ter provado que a estratégia que defendia era a mais certa”, esclareceu o deputado europeu.
Este elogio (deputado revelação) não deixa a esposa surpreendida. Júlia Fernandes, que acompanha o percurso político do marido há 21 anos, sabe que quando este entra num projecto é para fazer um bom trabalho. Daí que este ‘título’ não seja surpresa nenhuma “porque sei que quando está numa causa é para dar tudo o que tem e para fazer o melhor que sabe e pode”.
“Assumi que estaria disponível para as instituições do Minho”
Foi eleito deputado ao Parlamento Europeu a 7 de Junho do ano passado, tendo tomado pos-se no dia 14 de Julho.
Na legislatura que se prolonga até 2014, José Manuel Fernandes foi nomeado para integrar as Comissões do Orçamento e do Ambiente.
A Comissão do Ambiente, a mais importante, tem um papel relevante na definição dos fundos estruturais e restantes políticas de financiamento europeias, uma vez que lhe compete a validação de todos os fundos e financiamento da União.
Foi no âmbito da Comissão do Orçamento que fez uma emenda para o ‘erasmus primeiro emprego’. “Para Portugal e para os jovens portugueses é extremamente importante esta medida” referiu José Manuel Fernandes.
Adianta o eurodeputado que, “sendo Portugal um dos países da União Europeia onde os jovens com habilitações têm mais dificuldade em aceder ao primeiro emprego e estando provado que quem faz um erasmus tem mais facilidade em aceder ao mercado de trabalho, esta é uma medida que vai ajudar muito os jovens portugueses”.
Na Comissão do Ambiente o eurodeputado de Vila Verde foi nomeado relator para o dossier sobre a gestão de bio-resíduos na Europa.
Estes são apenas dois dos exemplos do trabalho que José Manuel Fernandes tem realizado enquanto eurodeputado.
Natural de Vila Verde, não esquecendo as raízes, José Manuel Fernandes assume-se como a voz do Minho na Europa e por isso, disponibiliza todas as sext as-feiras para contactos com as populações dos distritos de Braga e Viana do Castelo.
Ouvir os problemas das populações e tentar encontrar soluções são objectivos desta política de proximidade. “Estou a cumprir um compromisso com Portugal e com a região do Minho. Assumi que estaria disponível para as instituições da região do Minho e é isso que estou a fazer”, referiu o vilaverdense.
Neste compromisso de dar voz ao Minho entre outras iniciativas, José Manuel Fernandes faz o levantamento de questões à Comissão Europeia, dá como exemplo a pergunta que fez sobre os apoios ao TGV.
Face à resposta obtida pela Comissão, José Manuel Fernandes acusou o Governo português de mentir. O eurodeputado diz que a resposta que obteve contraria o que tem sido anunciado pelo Governo. O político acrescenta que a “não concretização das vias-férreas de alta velocidade não implica a perda irreversível de fundos comunitários”.
Esclarece ainda que o destino do montante de 955 milhões de euros aprovado pelo Fundo de Coesão (78% do financiamento comunitário) para o TGV em Portugal pode ser substituído por projectos de natureza diferente”.
Ainda nesta missão de colocar o Minho na rota da Europa, José Manuel Fernandes instituiu o ‘Prémio Escola na Europa’, que visa envolver todos os estabelecimentos de ensino dos distritos de Braga e Viana do Castelo, procurando fomentar o interesse, o conhecimento e o debate do funcionamento da União Europeia e das suas instituições, na relação com a região do Minho.
O concurso será desenvolvido ao longo do próximo ano lectivo 2010/2011 e contempla prémios para os melhores trabalhos dos alunos de escolas do 1º, 2º e 3º ciclos, ensino Secundário e Profissional.
Fim-de-semana dedicado à família e às saudades
Com José Manuel Fernandes fora toda a semana, os dois filhos, Marília, de 11 anos, e Miguel, de cinco anos, contam sobretudo com o apoio da mãe.
Júlia Fernandes diz que este ‘trabalho de casa’ não é difícil já que é uma missão à qual já estava habituada.
“Foi um trabalho que sempre fui desenvolvendo, não é agora que pelo facto do meu marido não estar cá que me sinto mais sobrecarregada. É um trabalho ao qual já estava habituada e que vou continuando a fazer sem deixar que as crianças se sintam penalizadas,” adiantou à nossa reportagem.
Júlia Fernandes acrescenta ainda que a semana passa a correr e quando dá conta, o marido já está em casa. “Os dias estão de tal forma preenchidos, o trabalho é tanto, que quando damos conta ele já cá está”, explica a esposa.
Família permanece em Vila Verde
As crianças falam todos os dias com José Manuel Fernandes, por telemóvel, ou na Internet. “Todas as noites falam com pai, vão para a Internet, contam-lhe como foi o dia e isso, também facilita a adaptação dos meninos ao facto de passarem a semana sem verem o pai”, revelou Júlia Fernandes.
A hipótese de se mudarem todos para Bruxelas chegou mesmo a ser ponderada. No entanto, em mais uma decisão tomada em família, ficou decidido que manteriam residência em Vila Verde, sendo que José Manuel Fernandes viria a casa todos os fins-de-semana.
“Pensamos muito quais seriam as vantagens de nos mudarmos todos para Bruxelas e chegámos à conclusão que esta seria a melhor solução”, adiantou-nos o eurodeputado.
A esposa vai brincando dizendo que “ele até gosta de andar de avião, aproveita as viagens para trabalhar”.
Fim-de-semana não significa descanso
O fim-de-semana, dizem, é sempre curto, porque o trabalho continua na ordem do dia, quer por compromissos do eurodeputado, quer por obrigações de Júlia Fernandes que é vereadora na Câmara Municipal de Vila Verde.
Porém, tentam aproveitar todo o tempo ao máximo. “De vez em quando, há uma ou outra actividade que tentamos conciliar”, referiu Júlia Fernandes, acrescentando que reservam sempre o apoio para a família. “Procuramos ter sempre o nosso tempo”, defende.
Os amigos fazem também parte desse tempo dedicado ao lazer, onde as concertinas e a gastronomia nunca são esquecidas. A esposa do eurodeputado diz que “o marido chega à sexta-feira com muitas saudades dos nossos pratos típicos e do vinho verde” e por isso promovem uma festas com os amigos que “trazem umas violas e umas concertinas”. “Vivemos a vida com muita intensidade. É também uma forma de nos darmos bem com ela”, refere o eurodeputado. Fonte Correio do Minho por Sónia Sousa
0 comentários:
Enviar um comentário