Guimarães: Universidade Minho conclui há "indiferença e racismo" para com comunidade cigana


Um estudo da Universidade do Minho sobre as relações sociais no bairro social da Atouguia, em Guimarães, concluiu pela existência, em geral e ao fim de 20 anos de convivência, de "indiferença ou mesmo racismo para com a comunidade cigana".

O trabalho, elaborado por Sílvia da Mota Gomes, Manuel Carlos Silva e Marina Ramos e apresentado no Congresso Luso-Afro-Brasileiro sublinha que, mais do que racismo - que também existe - persiste uma situação de "grande desconhecimento de parte a parte".

Manuel Carlos Silva e Sílvia Gomes falaram à Lusa durante o Congresso que hoje termina na Universidade do Minho, em Braga, e que juntou 1600 investigadores de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, S.Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.

Os autores concluíram, após um longo período de trabalho de campo no Bairro - onde vivem duas mil pessoas - que "as condutas e os comportamentos da sociedade portuguesa, relativamente ao grupo étnico cigano, demonstram a existência de uma verdadeira «questão cigana»".

Sílvia Gomes acentuou que a desconfiança entre as comunidades é ainda maior quando se trata de famílias ciganas oriundas de outras regiões europeias, caso da Galiza, já que estas, ao contrário das portuguesas, "se mantêm muito ligadas a práticas e costumes tradicionais ciganos".

No texto apresentado ao Congresso, num painel sobre "Racismo e Relações Inter-étnicas" e partindo de centenas de entrevistas e contactos no local, os sociólogos referem que "os ciganos são rejeitados, excluídos, vistos com desconfiança e despertam uma sensação de insegurança e de receio na população em geral".

Sobre esta vertente, Sílvia Gomes disse à Lusa que a PSP considera o bairro como sendo "normal" em termos de criminalidade e violência, frisando que "estes fenómenos até diminuíram nos últimos anos, com excepção das queixas por violência doméstica".

Apesar disto, e dado que a imagem de delinquente persiste colada à comunidade cigana, Manuel Carlos Silva defende ser necessário "tomar medidas sociais urgentes para que se resolva a questão da abusiva extrapolação do particular para o geral, a de que todos os ciganos são criminosos".

Esta imagem distorcida da realidade e da cultura cigana - sustenta o sociólogo e organizador do Congresso - faz com que as comunidades "tenham uma interacção muito baixa, quase sem comunicação, sem inserção mútua e mesmo sem convívio".

A investigação no bairro da Atouguia insere-se num estudo sociológico mais amplo sobre a mesma problemática em zonas urbanas de Braga, Guimarães e Barcelos e numa zona rural de Vila Verde, coordenado por Manuel Carlos Silva e que foi já entregue à Fundação de Ciência e Tecnologia. Fonte RTP por LM.

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