Travassós: Pinturas maneiristas descobertas em igreja da freguesia


Pintura Maneirista,Santa Maria Madalena, de Francisco Venegas, c. 1590, óleo sobre tela, Igreja da Graça, Lisboa




O restauro da igreja de Travassós, em Vila Verde, levou à descoberta de duas pinturas maneiristas, provavelmente do século XVI, um movimento cultural raro no Norte de Portugal, disse o responsável pela descoberta

«Não há dúvida de que são duas pinturas maneiristas», disse à Lusa Luís Marques, licenciado em Conservação e Restauro, com especialização em Talha, e responsável pelo restauro da Igreja Paroquial de Travassós, em Vila Verde.

O maneirismo foi um estilo e um movimento artísticos europeus de retoma de certas expressões da cultura medieval que, aproximadamente os anos de entre 1515 e 1610, tentou reagir contra os valores clássicos do humanismo renascentista.

Caracterizou-se pela concentração na maneira, o estilo levou à procura de efeitos bizarros que já apontam para a arte moderna, como o alongamento das figuras humanas e os pontos de vista inusitados.

Os testes para a datação das pinturas serão elaborados nos próximos dias, no local onde o retábulo com as pinturas está colocado desde há cerca de duzentos anos.

As pinturas representam Santa Catarina de Alexandria e Nossa Senhora do Rosário.

«Desde a base do retábulo, até à forma de pintar, tudo é maneirista», referiu Luís Marques.

A Comissão de Arte Sacra da Diocese de Braga foi já informada da descoberta.

Contudo, a igreja de Travassós não está classificada como monumento, cabendo à diocese bracarense o estudo, o restauro e a possível exposição das obras.

«O restauro da igreja iniciou-se há dois anos mas só agora é que começou o restauro do altar-mor», disse à Lusa o padre Paulo Terroso, pároco de Travassós.

Construída no século XVIII, a igreja recebeu objectos de arte sacra de outros templos da região.

«O altar com as pinturas maneiristas deverá ter sido levado da igreja de Dossãos, também em Vila Verde, por um antigo padre», referiu o sacerdote.

A deslocalização do altar justifica a presença numa igreja do século XVIII de pinturas do século XVI.

O restauro, executado por uma empresa de Braga, revelou-se uma surpresa para os técnicos envolvidos.

«Tivemos que tirar quatro camadas de tinta até chegar à pintura original», frisou o responsável pelo restauro, para quem «sobretudo a pintura de Santa Catarina de Alexandria tem particularidades únicas», nomeadamente a forma como a imagem feminina aparece «degolada e com a espada no corpo».

«No Norte de Portugal, os exemplares do maneirismo são raros», disse o técnico.

«Só no centro e sul é que existem casos de obras maneiristas», finalizou Luís Marques. Fonte Lusa/SOL


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