Portugal: E se o Norte de Portugal e a Galiza se casassem?!..



O professor Universitário Alberto Castro escreveu, a 17 de Abril neste jornal, que "com a chegada da democracia a Espanha, os desejos de autonomia de algumas regiões, entre as quais a Galiza, reacenderam-se e obtiveram consagração. Do lado de cá, havia as regiões-plano e as respectivas comissões de coordenação. Os intercâmbios entre o Norte e a Galiza intensificaram-se e as assimetrias de poder de decisão começaram a vir ao de cima. Enquanto do lado de lá uma discussão podia acabar com a fixação de um objectivo e um orçamento estipulado, do lado português elaboravam-se relatórios para os vários ministérios da tutela. E ficava-se a aguardar."

É verdade que povo português recusou, em referendo, a regionalização. Pudera! Deram-lhe a escolher entre omeleta de feijões e omeleta de feijocas. O povo, confuso, escolheu continuar a comer caldo de couves.

Os nossos governantes sabem que regionalizar implica partilhar. Sim. Partilhar tudo. Também o poder. É esse o motivo porque a criação de regiões administrativas não avança.

Os políticos, os nossos políticos, até se dizem regionalistas, que sim, sim senhor, quando estão na oposição, que "nim", "nim" senhor, aquando das campanhas eleitorais, e, já anchos de poder, vomitam que é necessário "um consenso político sobre a necessidade de se fazer a regionalização".

Entrementes, medram os eucaliptos em Lisboa e medram as giestas em quase dois terços do país!

Cá pelas bandas do Norte - é aos nortenhos que o cronista se dirige - começa a crescer um sentimento que foi já semeado em tempos de antanho o nosso futuro ainda é possível. Aqui. E é possível se assumirmos, colectivamente, uma atitude mais arrojada. Esqueçamos o eucaliptal de Lisboa e voltemo-nos para a Galiza. Sim, para a Galiza. A Região Norte de Portugal e a Galiza formam um território de 50 000 quilómetros quadrados onde vivem seis milhões de pessoas unidas por uma cultura comum. É o Noroeste Peninsular.

O Noroeste Peninsular é constituído por um sistema urbano de média dimensão, disseminado uniformemente por todo o território. Nove cidades no Norte de Portugal e nove cidades na Galiza que já partilham intimidades que apenas cidades irmãs é costume partilharem.

A economia do Noroeste Peninsular está enraizada. Vinhos únicos no Mundo, têxteis que inventam as cores, mobiliário que faz a ponte entre a memória e o imprevisível, construção naval com história, frutos do mar, e frutos dos rios, e frutos das rias, gastronomia, água, água salgada, água doce, montanhas e vales, um ano inteiro de estâncias termais

Uma rede de universidades de excelência dá-nos a garantia de que o Noroeste Peninsular vai estar lá, onde estiver o futuro.

O Norte de Portugal e a Galiza - libertos das fronteiras artificiais a que Lisboa e Madrid os amordaçaram em tempos idos- deram-se à conversa, cada qual com o seu timbre de voz. Há quem diga que até já namoram. E se o Norte de Portugal e a Galiza se casassem?!... Fonte JN por Jorge Laiginhas (Escritor)

1 comentários:

Anónimo disse...

Pessoalmente, gosto muito da Galiza e vou lá sempre que posso. Em Portugal, não se fala de regionalização porque isso implicaria que a "meia dúzia" de famílias que governa o país perdesse privilégios. Curiosamente, essa "meia dúzia" encontra-se instalada precisamente em Lisboa. Penso que não seria mau de todo se Portugal tivesse uma capital económica e uma capital política, a exemplo do que acontece na Holanda, por exemplo. É que assim, parte dos ministérios que absorvem os nossos impostos poderiam deslocar-se para o norte e, consequentemente, distribuir o poder por mais "famílias". Pessoalmente, sempre fui a favor da regionalização, porque considero-me particularmente prejudicada pela tradição portuguesa de tudo concentrar num poder central.
Em notal final, devo dizer que conheço Vila Verde e já aí fui duas ou três vezes. É pequena, mas encantadora ...