Gême: Idosa sobrevive há anos entre bichos e muito lixo



Uma idosa, de quase 88 anos, mora há anos, na freguesia de Gême, em Vila Verde, rodeada de bichos e muito lixo. Ontem quatro vizinhas ‘arregaçaram as mangas’ e fizeram uma limpeza geral na casa. Mais de 50 sacos do lixo, frigorífico e móveis podres foram retirados do interior da casa. As vizinhas e a Junta de Freguesia já denunciaram a situação há anos e até hoje a idosa continua só.

Maria Cândida faz 88 anos em Dezembro e vive só há anos em Gême, Vila Verde. A única companhia que tem, depois do marido e dos cães terem morrido, é o lixo. Muito lixo. Algumas vizinhas não aguentaram e ontem, de máscaras e luvas, ‘invadiram’ a casa e fizeram uma limpeza geral. Mas falta fazer o essencial. “É preciso tirar esta senhora daqui. Toda a gente sabe e ninguém faz nada. É um crime”, desabafaram as quatro mulheres, inconformadas com toda esta situação.
Os sacos do lixo já se acumulavam junto à estrada, na Rua do Souto. Cá fora o cheiro era nauseabundo. As vizinhas de Maria Cândida cansavam-se de tirar lixo. Mas só o conseguiam fazer de luvas e máscaras na cara. E mesmo assim...era “um sacrifício”.
A D. Candidinha vai todos os dias cedo ao Intermaché, a dois passos de casa, às compras. Lá toma o pequeno-alomoço e faz algumas compras”, admitiu Ana Cerqueira, funcionária daquele estabelecimento. E acrescentou: “Quando tinha cães lá ia com eles atrás dela. E trazia o lixo que encontrava para casa, desde roupas, papéis, um pouco de tudo, é um vício que ela tem”.
Desde que o marido morreu, Maria Cândida vivia só com os cães. “O Nero, que era muito inteligente, apareceu morto a outra semana. Disse-me a chorar que alguém tinha morto o cão. Acabei por o enterrar, porque já só havia bichos aqui à volta”, lembrou Fátima Leitão.

Mas anteontem a situação foi ao “limite”. Fátima Leitão passou pela casa e ouviu Maria Cândida a chorar. “Tive tanta pena dela. Pediu-me para lhe cortar as unhas dos pés. Tive que pôr os pés numa bacia com água para ficarem mais macios e mesmo assim cortei as unhas com a tesoura de poda porque estavam tão grandes e completamente pretas. Depois pediu-me, a chorar, para lhe cortar o cabelo. Foi preciso muito estômago para lhe cortar o cabelo. Estava horrível, de meter vómitos. Mas tive que a ajudar, já me metia pena e deitei mãos ao trabalho para a ajudar”, confidenciou Fátima Leitão.
Ana Cerqueira, Rosa Esteves e Conceição Fernandes, também residentes em Gême, não aguentaram e foram ajudar, durante o dia de ontem, Fátima. Os funcionários da Câmara Municipal de Vila Verde encheram a carrinha com mais de 50 sacos com lixo, o frigorífico e alguns móveis que estavam completamente podres.
A roupa no quarto chegava a meio da janela, nem se via a cama. Estava a dormir num colchão no chão completamente roto pelos ratos e encontramos dinhei- ro roído também pelos ratos”, atiraram as vizinhas. E recordaram: “A D. Cândidinha era uma mulher muito fresca, limpa e fazia uns bolos deliciosos. Mas a idade também não ajuda”.
Maria Cândida até estava bem-disposta, mas acabou por se deitar. “Está muito franca e diz que se sente doente”, disseram.

Umas compraram pijama e roupa interior para a idosa, outras empresas já se comprometeram a dar uma cama e a pôr janelas novas na casa. Mas Maria Cândida precisa de mais ajuda. “No Verão é impossível passar aqui na estrada a pé. O cheiro é impossível. Há mais de dois anos que a situação foi denunciada, já chamamos a atenção de toda a gente que pode fazer alguma coisa pela Cândidinha. Ninguém fez nada é inadmissível”, admitiram.
Contactado pelo Correio do Minho, o presidente de Junta de Freguesia, Francisco Marques, garantiu que a autarquia já fez tudo que estava ao seu alcance. “A situação é precária e além de ser um atentado à saúde pública a Câmara Municipal e a Segurança Social já tentaram levá-la daqui para um lar, mas ela não quer sair. Dizem que está lúcida e não a podem obrigar a sair”, justificou o autarca. E atirou: “Não concordo. É uma miséria. Quando ela aparecer em casa morta comida pelos bichos alguém vai ter que assumir as responsabilidades”. Fonte Correio do Minho por Patrícia Sousa

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