A Citânia de Briteiros deu ontem a conhecer aos visitantes a cultura e o modo de vida das populações que habitaram este sítio arqueológico na Idade do Ferro. Cerca de 70 figurantes deram vida a cenas como conselho de anciãos, ritual fúnebre e almoço Castrejo.
O som das trombetas em corno anuncia o encontro. Duas comunidades de guerreiros da Idade do Ferro do Noroestedisputam pela vitória na competição, vestidos a rigor e empunhando lanças, falcatas (espadas curvas) e catras (escudos circulares). No final, uma pele de raposa - numa espécie de símbolo de vitória - é entregue à comunidade vencedora. Aos guerreiros juntaram-se anciãos, sacerdotes, cerâmicas, armas, trajes, mós e alimentos típicos de um almoço castrejo, como porco assado, pão rústico, favas, queijo de cabra e caldo de castanhas.
Ingredientes que permitiram a quem ontem visitou a Citânia de Briteiros, em Guimarães, uma espécie de viagem no tempo até ao quotidiano da Idade do Ferro, período áureo de ocupação humana deste sítio arqueológico.
E se, entre o século II e I A.C., três mil habitantes povoavam a Citânia, ontem foram cerca de 70 os figurantes que deram vida à recriação histórica ‘Citânia Viva’ promovida pela Sociedade Martins Sarmento, em colaboração com a Casa do Povo de Briteiros.
A ideia, explicou o arqueólogo Gonçalo Cruz, passa por dinamizar o património: “é uma actividade bastante dinâmica e é uma maneira de dinamizar o património. Para além do cenário estático, encontramos alguma vivacidade, juntamente com uma componente didáctica em relação à população local e aos próprios visitantes”.
Lembrando que todos os adereços utilizados na recriação histórica - desde armas, cerâmicas e roupas - foram baseados em achados arqueológicos da Idade do Ferro, o arqueólogo confessa que reconstituir um cenário daquela época “não é fácil”, até porque existe escassez de informações concretas, muitas vezes impossibilitadas de serem confrontadas com os achados materiais. “Baseamos a recriação em autores romanos que escreveram sobre estes povos, como Estrabão, Diodoro, Apiano, e autores latinos. É através deles que sabemos como é que se faziam os rituais fúnebres e os costumes da época”, descreveu Gonçalo Cruz.
A cultura e o modo de vida das populações que habitaram a Citânia de Briteiros no I milénio a.C. foram representadas através de um conselho de anciãos, encontro de comunidades, um ritual fúnebre e um almoço Castrejo.
Quanto à concepção dos adereços, teve por base as peças recolhidas no âmbito das investigações arqueológicas, até mesmo as cerâmicas respeitaram as tipologias e as decorações.
Segundo o arqueólogo, também as roupas, bastante simples, se basearam na indumentária dos guerreiros descrita pelos autores latinos e coincidente com as estátuas de guerreiros galaicos recolhidas no norte de Portugal, assim como as gravuras rupestres do vale do Douro.
O calor não ajudou à ‘festa’ e afastou alguns visitantes do local - comparativamente à adesão registada no ano passado - mas, mesmo assim, a curiosidade e interesse histórico atraíram muita gente à Citânia. “Venho cá todos os anos. A minha filha até já participou na recriação”, contou Rosa Barbosa, de Briteiros. De visita ao sítio arqueológico, na companhia do marido e dos três filhos acrescentou: “a Citânia está muito ligada entre nós, porque no tempo de escola vínhamos para aqui todos os anos. Gostávamos muito de ver o relógio”. Conheço isto quase de cor e salteado”. Fonte Correio do Minho por Joana Russo Belo
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