
Raízes em entrevista ao Correio do Minho:
Correio do Minho — Que é que permanece e que é que muda em relação aos velhos Raízes, tendo em conta este regresso após vinte anos?
Xico Malheiro— Temos vindo a ensaiar e a prova disso é este trabalho, que não é de agora; é de algum tempo atrás.
CM — Durante estes deza-nove anos, durante os quais três dos vossos 'craques', como disse, saíram, os restantes elementos continuaram sempre juntos?
XM — A partir do momento que eles saíram, há cerca de cinco anos sensivelmente, deixámos de fazer espectáculos. Foi dada ao nosso empresário a informação que não fazíamos espectáculos. Já não fazia sentido, a gente estava há muito tempo sem um trabalho novo. Ainda com eles na formação, nomeadamente com o Firmino Neiva, estavamos a desenvolver alguns temas. Depois como eles saíram do grupo fomos buscar mais três elementos.
CM — Porque voltam agora e com um cd? Consideram que recuperaram a vossa unidade, a identidade dos Raízes. Anda se pode falar nos Raízes? Ou é uma nova formação?
XM — Eu penso que a base em termos musicais está lá. Depois os espectáculos e a aceitação do trabalho é que se vai ver. Agora é um pouco prematuro estar a dizer se vai ser o mesmo ou se não vai ser. As linhas musicais são um bocado o seguimento do último trabalho ('Caminho d'Água'). Este trabalho tem a intenção de dizer que estamos cá, porque muita gente em Braga ou em Vila Verde, onde estamos sedeados, considera que acabámos, porque deixámos de aparecer. Já com a anterior formação há bastante tempo que não tocávamos aqui próximos. É evidente que quem não aparece esquece. As pessoas estão convencidas que o Raízes acabou. Ainda ontem passei pela Arcada e um amigo, a quem disse que estávamos gravar. Ele disse: vocês já acabaram!
CM — Refazendo a pergunta: entre os Raízes de há 20 anos, de que saíram pessoas e os de agora, com a entrada de outras pessoas, o que é que se mantém e o que é que mudou em termos musicais?
XM — Entre o que se mantém estão os instrumentos, que são os mesmos que já dantes tocávamos. A forma de executar esses instrumentos é que pode, a prazo, não ser a mesma.
CM — Houve alguma intenção de fazer uma actualização, uma evolução, alguma nova moda musical? Ou pretende-se manter a identidade inicial?
XM — Pretendemos manter a mesma identidade, principalmente tendo por referência o último trabalho. Não vamos recuar ao primeiro disco. Se seguirmos a linha musical do primeiro disco, 'Raízes', para o segundo disco, 'Diabo do Belho', nota-se uma evolução. E muito mais se nota do 'Diabo do Belho' para o terceiro disco, 'Caminho d' Água'.
CM — Vai ou não haver uma nova evolução do 'Caminho d'Água' para o quarto álbum?
XM — Não sei. Com toda a honestidade, não sei se haverá uma diferença muito grande . Em termos musicais, em termos de sonoridade, penso que não haverá uma diferença tão grande. Não posso estar agora a dizer-lhe se vai haver uma diferença muito significativa, porque ficaram cinco músicos que em termos de execução garantem essa continuidade.
CM — As raízes são as mesmas?
XM — As raízes são as mesmas, embora eu reconheça que perdemos três elementos muito bons. Acho que isto até é uma luta de sobrevivência em relação à banda que nós éramos. Não podemos esconder tudo aquilo que o Raízes já foi e por isso mesmo não posso afirmar agora que vamos atingir já os tops que chegámos a atingir. Há coisas complicadas, gente nova que entrou. A Ana Malheiro tem doze anos.
Correio do Minho — Com essa idade tem o g osto por este género musical porque cresceu sempre rodeada por este ambiente, sempre a escutar esta música?
Xico Malheiro — Sim. É um bocado isso. Acrescenta-se que tem a vantagem de ser aluna do Conservatório.
CM — Em termos de composições, há novidades?
XM — Uma das músicas que vamos gravar é do João Loio; vamos gravar a 'Maruxa', que o Zeca Afonso gravou também, mas com arranjos nossos. Ganhámos muito em termos de sonoridade e de arranjos com a colaboração do Giovani.
CM — O Xico Malheiro além de cantar também toca vários instrumentos: o cavaquinho, o acordeão, a braguesa, a gaita de foles, a gaita de beiços, o bandolim e percussões. Durante este tempo (em que o grupo Raízes esteve a hibernar) praticou estes instrumentos todos?
XM — Sim. Apesar de não aparecermos em espectáculos, o grupo continuou a juntar-se uma vez por semana na casa do Toninho Silva, em Vila Verde. Juntámo-nos sempre pelo menos uma vez por semana para ensaiar. Muitas vezes nem sabíamos o que íamos fazer, mas havia pelo menos três ou quatro que começavam, depois vinha mais uma música. E como ele também tem um mini-estúdio, a gente ia juntando. É como quem faz uma sopa. Põe-se feijão, depois vão se pondo batatas e acaba por se ter uma sopa. Foi mas ou menos assim que criámos algumas das músicas. Mas esses instrumentos nunca deixei de os tocar.
best-of não depende de sexta-feira 13
CM — O timing de lançamento do disco, agora em tempo frio, não devia acontecer mais perto do verão quando os Raízes talvez sejam mais soli-citados para festas e romarias?
XM — No Verão é de facto quando se fazem espectáculos. Mas quem começa a organizar festas e festivais e romarias para o Verão começa a tratar delas agora.
CM — A intenção é essa?
XM — A intenção inicial até era este disco ter saído em finais de Agosto, porque como nós fazemos 30 anos no próximo dia 25 de Abril, a intenção era fazer um best-of para a celebração dessa data.
CM — Portanto, é possível que vocês façam este disco agora e no próximo 25 de Abril voltem a fazer esse tal best-of?
XM — É provável, vamos ver.
CM — De que é que vai depender esse best-of? Vai ser conforme correr a aceitação do álbum que lançam agora?
XM — Não, nunca dependerá do que acontecer a este disco, se a gente considerar que temos empo para fazer o best of, vamos fazê-lo. Não tem nada a ver. Todos nós temos as nossas profissões, ninguém de nós faz isto por dinheiro; andamos nisto pelo gozo e pela amizade que nos tem unido durante estes anos todos. Não está em causa vender muito ou vender pouco. Está em causa, como tempos conversado entre os elementos do grupo, é fazer qualquer coisa para comemorar os trinta anos. Como este disco se atrasou um bocado, provavelmente estará no mercado em Dezembro, vamos ver se conseguimos.
CM — Para esse best-of a formação será a actual ou serão recuperados os três 'craques' que saíram?
XM — Não, para o best of será a mesma formação. É mais fácil fazer porque é pegar em músicas que já estão gravadas e que os novos elementos já conhecem. É curioso, a respeito daquela questão que colocou de fazer o disco agora quando nos tocamos mais no Verão.
A gente criou uma página na internet (o grupo Raízes atingiu o sucesso que atingiu sem uma página na internet). Criámos uma há poucas semanas, já apareceram contactos, já me ligaram pessoas, a convidar para tocar aqui e para tocar acolá, sem querer saber quem é que saiu e quem é que ficou. Fonte Notícia/Imagem Correio do Minho por Rui Serapicos
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