Parada de Gatim: Crianças despidas à força


Como forma de castigo, uma auxiliar de educação decidiu despir quatro miúdos no jardim-de-infância público de Parada de Gatim, em Vila Verde. Acabou por ser uma criança da sala do primeiro ciclo a denunciar a situação, que deixou chocada a comunidade local.
Em reunião com pais e Junta de Freguesia, o Agrupamento de Escolas avançou com um inquérito de averiguações e aprovou a suspensão da funcionária até à conclusão de avaliação médica quanto às suas faculdades mentais.
O estranho castigo aplicado a dois rapazes e duas raparigas – entre três e cinco anos – ocorreu no dia 1 deste mês, em pleno período escolar e na ausência da educadora Teresa, tendo provocado forte agitação na sala.
Em face do barulho e do choro insistente das crianças, uma aluna do primeiro ciclo – Cristina – pediu para ir à casa de banho, para perceber o que se estava a passar na sala ao lado. Foi então que se apercebeu do cenário e correu a pedir ajuda à auxiliar do 1.º Ciclo, chamada Cristiana.
Ao deparar com as crianças expostas perante o restante grupo sem a roupa da cintura para baixo, Cristiana corrigiu de imediato a colega e pôs ponto final no castigo.
Pais e moradores ficaram indignados perante o castigo macabro. A revolta inicial, porém, foi contida pelas garantias de resolução do problema por parte dos responsáveis do Agrupamento de Escolas de Moure, que pediram discrição aos pais.
Numa reunião realizada esta semana foi decidido que a auxiliar em causa – Maria de Jesus Guerra Fontes, de 45 anos e residente na freguesia vizinha de Cervães – vai ficar suspensa da actividade e ser submetida a avaliação psicológica por Junta Médica.

ASSUNTOS PRIVADOS

“Se estiver mentalmente perturbada, será tratada e só depois se avaliará uma eventual reintegração”, explicou o presidente da Junta de Parada de Gatim, Francisco Rodrigues. “Caso não haja qualquer problema psíquico, será alvo de processo disciplinar.” Os pais contactados pelo CM e o presidente da Junta desconhecem se foi dado acompanhamento psicológico às crianças.

A presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Moure, Rosa Branca, recusou prestar quaisquer esclarecimentos, chegando a justificar que se trata de “um assunto de foro privado”.

CASTIGO FÍSICO DE VOLTA

O governo britânico está a preparar legislação para dar mais poder aos professores ingleses, o que lhes permitirá castigar fisicamente os alunos mais indisciplinados. A proposta de reforma do sistema de ensino prevê que os docentes possam aplicar castigos físicos aos alunos que, por exemplo, estejam a agredir colegas. Terão ainda o direito legal de confiscar telemóveis ou leitores portáteis de música, nos casos em que prejudiquem as aulas.

Mas o poder tutorial dos professores também se vai estender para fora dos portões da escola. Os alunos problemáticos, que provoquem distúrbios na ida ou na volta da escola, seja a pé, de autocarro ou de comboio, poderão ser castigados. Os pais também serão responsabilizados pelas acções das crianças, podendo até serem obrigados a pagar uma multa de 70 euros. Estas medidas só não deverão ser aplicadas nos jardins-de-infância.

"ISTO PROVOCA MEDO"

Maria de Jesus Fontes trabalha no infantário há 20 anos. Pais garantem que nunca houve razão de queixa e o presidente da Junta realçou que “nunca teve problemas com as crianças, nem com outras pessoas”. Sugeriu que poderá ter-se tratado de “algum momento de fraqueza”. Mas os pais e a população não são assim compreensivos.

É inacreditável que tenha feito uma coisas destas”, lamenta uma das mães. “Isto provoca medo, porque nos traz à cabeça que podem acontecer coisas que às vezes se vêem na televisão e que pensamos só existirem noutros lados.” Outra mulher acrescenta ser “absolutamente injustificável um castigo tão violento e que pode até provocar consequências graves nas crianças e afectar o desenvolvimento”.

MIÚDOS E GRAÚDOS

HEROÍNA INFANTIL

Cristina, que denunciou o macabro castigo no infantário de Parada de Gatim, é encarada como uma heroína na freguesia. “A rapariga é muita esperta”, revela uma vizinha da escola. “Ela contou que não queria nada ir à casa de banho. Só fez o pedido para ir ver o que se passava na outra sala.”

VOTO CONTRA

Cerca de 25 pessoas participaram na reunião onde responsáveis do Agrupamento de Escolas, pais e Junta de Freguesia acertaram o procedimento a tomar no caso (inquérito e avaliação psicológica). Houve apenas um voto contra a decisão, por parte de um participante que pretendia uma medida mais dura.

SEM PARÂMETROS

O director adjunto regional da Educação Norte, António Leite, reconheceu ontem o problema da inexistência de parâmetros de habilitações e capacidades na contratação de auxiliares no pré-escolar, num processo conduzido a nível local, apesar de serem funcionárias afectas ao Ministério da Educação.
Fonte Correio da Manhã por Mário Fernandes

0 comentários: