O trabalho, que teve como objetivo estudar o impacto do stresse no sistema nervoso central, concluiu que a exposição ao stresse durante a gravidez aumenta a vulnerabilidade a comportamentos aditivos e de toxicodependência nos filhos durante a idade adulta. O estudo foi desenvolvido com dezenas de ninhadas de ratos brancos expostos, durante a gravidez, a um glucocorticoide sintético, hormona libertada em resposta ao stresse chamada dexometazona e administrada normalmente a 10 por cento das grávidas. A exposição provocou alterações neuroendócrinas e neurobiológicas permanentes nos fetos, que aumentaram a probabilidade de desenvolvimento de doenças metabólicas, neurológicas e psiquiátricas na idade adulta.
Os investigadores verificaram que algumas áreas do cérebro eram sujeitas a alterações, que os níveis de dopamina no circuito cerebral ligado ao prazer estavam diminuídos nestes animais e que os recetores que sinalizam o aumento de dopamina estavam aumentados. “A dopamina é um importante neurotransmissor do cérebro que produz a sensação de prazer e satisfação. É uma substância química produzida em várias zonas do cérebro e anomalias no seu funcionamento provocam doenças no sistema nervoso, como a doença de Parkinson”, explica Nuno Sousa, que também coordena a equipa de 106 cientistas no domínio de Neurociências do ICVS – Instituto de Investigação de Ciências da Vida e da Saúde da UMinho.
“Esta observação sugeriu que o stresse pré-natal e as hormonas do stresse são capazes de programar circuitos neuronais e conferir suscetibilidade à adição a drogas de abuso ao longo da vida”, acrescenta. A redução de níveis de dopamina conferiu suscetibilidade à dependência de drogas ao longo da vida. A experiência mostrou que os ratos preferiram etanol ou morfina a água com açúcar. A investigação desvenda novos mecanismos moleculares e epigenéticos através do qual os comportamentos de dependência podem surgir, o que mais tarde pode ajudar a prevenir, via tratamentos farmacológicos simples, o abuso de drogas por adolescentes.
Investigação vai ser publicada na revista “Molecular Psychiatry”
O próximo passo é aplicar o estudo aos seres humanos e perceber se o stresse induzido nas grávidas tem os mesmos efeitos a longo prazo nas crianças. “Não podemos garantir que os resultados sejam transferíveis para humanos de forma linear, mas se se vierem a provar podemos estar na presença de um melhor entendimento de como podemos intervir para diminuir o risco de desenvolver adição em indivíduos com risco aumentado”, diz Nuno Sousa. As conclusões serão publicadas brevemente na revista “Molecular Psychiatry”, considerada uma das publicações com maior prestígio internacional na área das Neurociências.
Nuno Jorge Carvalho Sousa, de 43 anos, é também médico, vice-presidente da ECS, diretor do Centro Clinico Académico (parceria com o Hospital de Braga), presidente da Associação Portuguesa de Neurociências e coordenador do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas. Já publicou mais de uma centena de artigos em revistas internacionais, entre as quais na “Science”. Recebeu três prémios pela suas atividades de investigação e é membro de várias comissões de saúde e de investigação nacionais e internacionais.
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