Vila Verde: Entrevista ao novo Pároco “Os cristãos católicos são uma minoria nos países por onde passei” (via Terras do Homem)



Chegou há cerca de dois meses à paróquia de Vila Verde e já celebrou um aniversário com a comunidade local. São oportunidades únicas para tomar o pulso ao dinamismo do grupo de fiéis que acorre às missas por si presididas e, até ao momento, as impressões não poderiam ser melhores. Artur Jorge Gonçalves até já ministrou o sacerdócio em terras vilaverdenses, há vários anos e, agora, está de volta para celebrar o culto religioso nas paróquias de Vila Verde e da Loureira.

Ao longo do seu percurso de 15 anos de sacerdócio, este sacerdote destaca a sua passagem pelas comunidades de Carreiras S. Miguel, Carreiras Santiago, Nevogilde e Dossãos. Seguiram-se dez anos no arciprestado de Braga, onde celebrou a eucaristia em Aveleda e Fradelos. Atualmente, regressou e tomou posse da paróquia de Vila Verde e Loureira. O grupo de fiéis que veio encontrar não o surpreendeu uma vez que “já tinha tomado o pulso ao arciprestado”, anteriormente.



Sacerdócio como forma de estar na vida



O trabalho de um pároco, ao longo da vida, não se esgota, contudo, nas paróquias onde celebra eucaristia, nem a alimentar a fé dos seus paroquianos. Muitas vezes, há que ir mais além e dar consolo a povos que não vivem em paz, em zonas do globo onde o perigo anda sempre à espreita. “Mais do que uma profissão, o sacerdócio é uma forma de estar na vida, uma vocação. Uma profissão é algo que se realiza das 9h às 17h. Nós somos sacerdotes 24 horas por dia, sete dias por semana. Estamos constantemente ao serviço das pessoas, não só nas paróquias, mas também, por exemplo, no exército enquanto capelão militar, como é o meu caso. Entre 2008 e 2011, para se ter uma ideia, cheguei a partir com os militares para missões no estrangeiro, em zonas delicadas, durante períodos de seis meses”, contou o sacerdote.

Em termos pessoais, garante, a maior riqueza que se traz dessas experiências é o facto de “se promover o encontro com outras pessoas, com outras formas de estar, com outras culturas e, até mesmo, outras sensibilidades religiosas”.

“Ajuda a alargar horizontes e a olhar para a nossa vida, não como um pequeno quintal, mas como um mundo global em que temos que interagir”, comentou o padre Artur Gonçalves.

Essas experiências servem também, a seu ver, para alimentar a “tolerância religiosa”, uma vez que o confronto com outras crenças “é inevitável”. “Os cristãos católicos são uma minoria nos países por onde passei. Aprendemos a lidar com a diferença e a ser mais tolerantes e solidários, mesmo com povos de outras religiões e com outras crenças”, afirmou o sacerdote.



“É o encontro diário com diferentes pessoas que nos enriquece”



Recuando no tempo, Artur Gonçalves lembra que andava ainda no oitavo ano, quando sentiu algo que o apelava à vocação para o sacerdócio. Na altura, conta, “depois de ter repetido o 8º ano, contra tudo e contra todos” sentiu que foi “tocado por Deus para ser padre”. “Não foi fácil, na altura, porque eu era algo rebelde e os meus pais achavam que seria expulso muito rapidamente do seminário. No entanto, e apesar de não conseguir estar fechado dentro de quatro paredes por muito tempo, fui insistindo e – sem saber como nem porquê, com que forças o fiz – o que é certo é que algo foi amadurecendo em mim e fui tendo mais certezas daquilo a que me tinha proposto. Foi então que decidi que seria dessa forma que eu queria ser feliz”, lembrou.

O quotidiano de um sacerdote, considera Artur Gonçalves, é repleto de trabalho. No seu entender o trabalho de pároco é um exercício de tempo inteiro, mas cheio de coisas boas. Uma delas prende-se com a multiplicidades de personalidades que preenchem o seu dia-a-dia e que o enriquecem enquanto pessoa. “O dia de um padre é sempre muito cheio, porque para além de dar a missa temos que acompanhar as comunidades em que estamos inseridos. Temos que levar o evangelho, a cada momento, às pessoas que nos procuram. É um dia repleto, mas repleto de coisas boas, deste encontro com os outros, todos tão diferentes e que nos exigem diferentes respostas, trabalho, oração, estudo. O encontro com as pessoas é que nos enriquece. No último ano, estive sem paróquia, só com as funções de capelão militar. É algo que não me via a fazer para toda a vida, porque ali só lidava com militares, faltam ali as crianças, os idosos, uma multiplicidade de personalidades que nos enriquecem diariamente”.



Trabalho conjunto das comunidades de Vila Verde e Loureira “dá alento”



Em Vila Verde e na Loureira, a missão passa por “dar estabilidade às comunidades”. Depois da rotatividade que aconteceu com os párocos anteriores procurou-se que a sua presença fosse “uma presença de maior estabilidade”. Foi o que lhe foi pedido pelo arcebispo quando este lhe confiou as paróquias, recorda o sacerdote.

“Os desafios são muitos, pela grandeza das paróquias, pelo seu dinamismo. No entanto, estou aqui há dois meses e espero estar à altura das duas comunidades, muito dinâmicas. Para mim é motivador não encontrar pessoas amorfas, porque nos obrigam a mexer e a partilhar o nosso conhecimento do reino de Deus”, observou Artur Gonçalves.

O pároco de Vila Verde e da Loureira manifesta-se, por outro lado, encantado pela forma como foi recebido e como ambas as comunidades mostram ser capazes de trabalhar em conjunto. “Já me sinto plenamente integrado, porque tenho essa bênção de já por cá ter passado há uns anos atrás. Por isso, sinto já um enorme carinho das pessoas. Muitos dos meus paroquianos atuais, já foram meus paroquianos noutras freguesias do concelho. Posso, por outro lado, dizer que fiquei de boca aberta com a festa que se promoveu com o grande magusto das paróquias, promovido simultaneamente ao meu aniversário. Notei um convívio de grande alegria entre as duas comunidades, o que deu outro alento para continuar o meu trabalho”, sublinhou.

A principal virtude da comunidade vilaverdense, assegura, “é o dinamismo”. “Em 15 anos, já acumulei experiência quanto baste. Muitas vezes, julga-se erradamente que as comunidades do interior não têm dinamismo, mas isso nem sempre é correto. Quem vive junto destas pessoas é que poderá dar valor ao seu trabalho quotidiano”, afirmou o pároco.



“Não devemos ter medo de sermos menos desde que sejamos mais autênticos”



Terras do Homem: Olhando para os tempos modernos, qual acha que deverá ser o papel da Igreja nos dias de hoje?

Artur Gonçalves: Este é o nosso tempo, nem é melhor, nem pior que o dos nossos antepassados. É aqui e neste tempo que temos de ir ao encontro das pessoas – que têm esta educação e esta cultura – e ter presente a novidade, em cada momento, para apresentar o evangelho. Uma igreja que não se sabe adaptar e que não saiba comunicar para as pessoas de hoje é uma igreja que não cativa, que não transmite esperança e que não sabe alargar horizonte e encontrar novos paradigmas. Este é o desafio da nova evangelização. Os problemas de hoje não são os mesmos de há 50 anos atrás ou um século. O desafio passa por saber como devemos viver os valores de Jesus Cristo na atualidade.

Por outro lado, porque não aproveitar as ferramentas atuais para uma divulgação mais eficaz da mensagem cristã? Existem meios de informação poderosos que ainda não usamos. Se usarmos a internet, os jornais, a rádio e outros meios podemos chegar e tocar muitas mais pessoas. Por isso, dentro em breve, inauguraremos o nosso portal na internet.

No entanto, chamo também a atenção das pessoas para o facto de os padres não terem que ser, necessariamente, os únicos evangelizadores.



TH: E em tempos de crise como os que vivemos, até onde poderá chegar o trabalho social da Igreja Católica?

AG: Não é só de hoje esse trabalho. Muita gente quer calar todo o trabalho que a igreja tem desenvolvido nessa área. No entanto, também nos compete, se calhar, a nós lutarmos pela divulgação de todo esse trabalho realizado nos centros sociais, conferências vicentinas, entre outras situações.

Às vezes dá-me a impressão que também nós, da igreja, temos dificuldade e vergonha em nos manifestar e de fazer ver à população o bem que vamos fazendo. Não aproveitamos, muitas vezes, as ferramentas da atualidade para comunicar essas ações e deixamos que nos apontem sempre os defeitos.



TH: Como é que avalia a evolução da Igreja Católica em termos de fiéis? No último século as igrejas foram esvaziando. Como travar esse fenómeno?

AG: Temos que recuar bastante e interpretar as mudanças ocorridas. No passado, todos eram Cristãos e, hoje, a realidade não é essa. Temos que saber entender que a igreja não toca a todos. Nem todos se sentem tocados pela mensagem divina.

Todos nós ficamos contentes de ter a igreja cheia. Mas, muitas vezes, temos a igreja cheia de quem? De pessoas comprometidas ou de pessoas que só lá vão às celebrações? Até há uns anos atrás, por exemplo, existia uma enorme pressão das pessoas para que os seus parentes fossem à igreja. Hoje em dia, apostamos muito mais na responsabilização.

Por outro lado, se os Cristãos são menos, então que sejam fermento. Não devemos ter medo de sermos menos, desde que sejamos mais autênticos.



Perfil



Artur Jorge Gonçalves nasceu a 27 de Novembro de 1971, na freguesia de Pinheiro, em Vieira do Minho, mas reside em Vila Verde. Ao longo do seu percurso escolar, este sacerdote estudo na escola primária de Pinheiro, em Vieira do Minho, a que se seguiu uma passagem pela sede de concelho, para aí realizar o segundo ciclo. O ensino secundário foi já completado no seminário, em Braga, cidade onde também se formou a nível superior.

Sacerdote há 15 anos, Artur Gonçalves celebra eucaristia em Vila Verde e na Loureira, sendo também o capelão da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde e capelão militar, há dez anos, no quartel de Braga.



Gostos e preferências



Onde reside?

Em Vila Verde.

Profissão?

Sacerdote.

Últimas férias?

Em Israel, há um mês.

Último hobby?

Jogar futebol.

Carro que usa?

Seat Leon.

Almoço de hoje?

Costeleta grelhada.

Que bebeu hoje?

Vinho verde branco.

Perfume que usa?

Gosto de vários.

Marca de roupa que usa?

Não ligo a isso, gosto de me sentir bem, independentemente da marca de roupa que uso.

Último livro que leu?

‘Fúria Divina’, de José Rodrigues dos Santos.

Último filme que viu?

Não me recordo já (risos).

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Onde gostaria de morar?

Tive sempre fortes ligações a Braga, por isso é sempre a minha cidade de eleição.

Que profissão gostaria de ter?

Não me vejo a desempenhar alguma outra. Sou feliz enquanto sacerdote

Férias preferidas?

Não tenho um destino de eleição. Gostei muito do Egipto.

Passatempo preferido?

Jogar futebol.

Carro que gostaria de ter?

Não ligo muito a isso.

Prato preferido?

Cozinha tradicional portuguesa.

Bebida preferida?

Um bom vinho maduro tinto.

Perfume preferido?

Não tenho uma marca predileta.

Marca de roupa preferida?

Nenhuma em específico.

Livro preferido?

Para além da Bíblia Sagrada, gostei muito do ‘Equador’, de Miguel de Sousa Tavares.

Filme preferido?

Não tenho nenhum.

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