Entre manifestações de apoio, dúvidas e de oposição, os vilaverdenses mostram-se ainda cautelosos e à espera de ver melhor esclarecidas as condições e as consequências da elevação de Vila Verde a cidade. O Terras do Homem foi tomar o pulso da opinião popular acerca da iniciativa da Câmara Municipal e procurou ouvir as posições mais ou menos apaixonadas dos moradores da vila e diferentes freguesias.
Bem no centro da vila, comerciantes e clientes esgrimem argumentos opostos. De um lado, há os que vêem vantagens no reforço de posição de Vila Verde, seja para contrariar a influência de Braga, seja para assegurar um novo impulso de desenvolvimento e disponibilidade de serviços. Mas há também quem não deslumbre benefícios da elevação a cidade e critique até eventuais novas despesas que a situação venha a despoletar.
Na Casa Bernardo, as opiniões dão conta das boas expectativas que suscitam a ideia de elevação a cidade. Paulo Gomes, um vilaverdense com 34 anos, considera que “pelos requisitos que são pedidos, tem condições”. No entanto, avisa: “se Vila Verde quer ser uma cidade mediana, então mais vale ser uma Vila de primeira”. “Não tenho dúvidas de que, enquanto cidade, haveria aspectos melhorados significativamente, como é o caso dos transportes urbanos. Para além disso, esse passo poderia garantir outra autonomia e independência face à cidade de Braga que, pelo crescimento que tem registado, ameaça engolir vilas circundantes. No fundo, poderia deixar de ser uma Vila dormitório”, avaliou o comerciante.
Também Manuel Leão, de 62 anos, considera positiva a ideia. “Acho que sim. Deve passar a cidade o mais rapidamente possível. Aqui à volta, há tantas vilas fortes, como Arcos, Barca ou Ponte de Lima, que seria uma forma de nos diferenciarmos e superar o desenvolvimento que vêm registando”, defendeu o vilaverdense, considerando que “se criariam condições para um maior desenvolvimento”. “Nesse particular, a variante poderia ser, por exemplo, mais facilmente concretizável”, referiu o Manuel Leão aludindo a “um dos principais problemas que afecta a Vila”, o trânsito.
No mesmo espaço, havia ainda quem garantisse que “não haverá diferença”, a não ser na designação que se irá utilizar.
Questões financeiras
Já na Barbearia Calvário, a discussão lançada despoletou as primeiras vozes críticas, de quem entende que a ideia é precipitada. “Acho que se deve manter como vila. Não tem condições para se tornar numa cidade. Face às dificuldades financeiras, não acredito que venham mais verbas para os cofres da Câmara Municipal para melhorar as condições das pessoas. Acho que só vai ser prejudicial para as pessoas, porque ainda vai trazer aumento de impostos”, justificou João Costa, vilaverdense com 50 anos de idade.
O barbeiro até deu o exemplo de Ponte de Lima que “não deve nada a ninguém e não quer ser cidade”. “Porque é que havemos de querer viver acima das possibilidades. Primeiro que criem infra-estruturas em falta, como uma Universidade, por exemplo. Além disso, esta vila é extremamente escura à noite”, comentou.
Com 75 anos, Porfírio Branco, de Godinhaços, acha que as “coisas estão bem assim”. “Acho que vila Verde não tem hipótese de ser cidade. Ainda agora precisei de ir a uma casa de banho pública e tive que ir a um café. Este país para melhorar precisava era de meia dúzia de Salazares”, resumiu.
Por seu turno, José Dias, de Valbom S. Martinho, considera que “de maneira nenhuma” Vila Verde deve tornar-se cidade. “Não tem condições. Tem muitas freguesias mas é um concelho muito pobre”, apontou.
“Seria um orgulho”
Na Loureira, uma freguesia envolvida pela malha urbana que dará corpo à proposta de elevação de Vila Verde a cidade, as dúvidas sobre as vantagens desta causa mantêm-se, apesar das manifestações de regozijo e orgulho. À porta da ‘Venda do Pinto’, um grupo de amigos discute o tema, entre umas cartadas. Fernando Pinheiro, natural da freguesia, considera que “primeiro tem que se criar infra-estruturas”. “Seria um orgulho, para mim, enquanto habitante da Loureira, que tal viesse a ser concretizado, mas há que garantir as condições para isso. Por exemplo, a Loureira é a porta da vila e é o que se vê. Em Vila Verde, só mesmo a sede de concelho é desenvolvida”, avaliou Fernando Pinheiro, defendendo que “para se atingir esse objectivo, por muito que não haja dinheiro, tem que se criar condições para se poder chamar cidade a Vila Verde”. “Ora, como no tempo em que estamos não há verbas, não haverá, a meu ver, condições de desenvolvimento”, lamentou.
Já o companheiro de cartas, Manuel Silva, natural de Vila Verde, afirmava que “antes de se passar a vila a cidade, dever-se-ia desenvolver o concelho sustentadamente”. “Há tantos projectos de apoio ao turismo aprovados, mas raro é o que é posto em prática. Porque se quer dar um passo maior que a perna? Querem ser cidade e nem os projectos aprovados põem em prática”, acusou.
Mais retraído, António Pinto, confessava ainda não ter “opinião formada acerca do assunto”. “Ser vila é ser vila. Penso que uma cidade consegue outros apoios do governo. Quanto a mim, o maior problema irá resultar da delimitação do território da eventual futura cidade”, atirou, ainda assim. Já Joaquim Pinto “assinava por baixo”, por considerar que isso “poderá trazer benefícios”. “Certezas só poderemos ter quando se confirmar”, acrescentou.
Eventuais encargos colmatados
Na zona fluvial da Malheira, em Sabariz, uma área que ficará dentro da zona urbana da futura cidade de Vila Verde, a ideia é bem acolhida. Manuel Ventura, de 67 anos, considera que “seria bom para os vilaverdenses” se nascesse uma cidade no concelho, uma vez que “traria seguramente benefícios, ao nível dos apoios conseguidos junto do governo, e por causa do prestígio que causaria”.
Também António Caridade considera “uma boa ideia a candidatura de Vila Verde a cidade: A conseguirem seria benéfico, uma vez que, enquanto cidade, a autarquia teria outros apoios”. Este vilaverdense entende que, “mesmo que os encargos possam ser maiores para os moradores, acabavam colmatados pelas melhorias ao nível dos equipamentos”.
Outros testemunhos
Rui Silva, empresário de hotelaria, Vila Verde
“Acho que seria bom. Traria mais progresso para Vila Verde. Penso que haveria mais crescimento, mais investimento e novas infra-estruturas. O sector comercial poderia sair beneficiado, pois talvez crescesse mais rapidamente em termos populacionais”.
Henrique Bastos, taxista, Vila Verde
“Para Vila Verde ser uma cidade, é preciso que evolua um pouco mais. Deveria possuir outras infra-estruturas e ter mais serviços públicos. O apoio aos comerciantes locais também deveria, antes disso, ser reforçado. Além disso, também poderiam ser melhoradas as ligações da Vila à auto-estrada, bem como construída uma variante que melhorasse os acessos ao interior da mes. Para o meu negócio, seguramente seria uma mais-valia”.
Manuel Gonçalves, empresário da Construção Civil, Vila Verde
“Nunca imaginei essa hipótese, mas penso que não será uma boa opção. Prefiro, enquanto vilaverdense, morar numa boa vila ao invés de habitar numa fraca cidade."
Nuno Borges, Vila Verde
“Acho que não traz benefício nenhum. Recordo o presidente da Junta da Vila do Pico de Regalados que, há uns anos, defendia que a subida do Pico a Vila não tinha trazido benefício nenhum”.
Maria Lopes, funcionária pública, Vila Verde
“Admito essa hipótese de bom grado, embora não esteja por dentro de todas as condicionantes legais. Contudo, penso que Vila Verde tem um nome tão bonito tal como está. Chamarmos-lhe Cidade de Vila Verde destoa um bocadinho. Como se costuma dizer, mais vale ser uma bonita vila, do que uma cidade cheia de falhas e que dificulte a vida aos seus habitantes”.
Paulina Silva, professora, Soutelo
“Penso que prefiro Vila Verde como uma grande vila, verde, brilhante e cheia de humanidade”.
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