Mundo: Hosni Mubarak, o povo venceu pela primeira vez o faraó, no poder do Egipto a 30 anos! (Mega Reporgem - Via Público)



O historiador egípcio Muhammad ibn Iyas dizia que, em tempos de fome, os compatriotas “comiam cães e gatos mas nunca dirigiam a sua fúria contra o faraó”. A queda de Mubarak mostra que o povo perdeu o medo e venceu o “raïs”. Dezoito dias de revolução terminaram 30 anos de um poder autocrático e corrupto. Com a demissão do Presidente do Egipto – país líder da “nação árabe” –, a praça Tahrir abriu uma nova era no Médio Oriente.


"Hosni Mubarak foi falar às crianças de uma escola primária e, depois do seu discurso, ofereceu-se para um período de perguntas. Um rapazinho chamado Ramy levantou a mão e o Presidente egípcio interpelou-o: O que queres saber?

Ramy disse: Tenho quatro perguntas.

Primeira: por que é que o senhor é Presidente há 29 anos? Segunda: por que é que nunca nomeou um vice-presidente? Terceira: por que é que os seus dois filhos, Gamal e Alaa, controlam a economia e a política do país? Quarta: por que é que o Egipto é um Estado miseravelmente pobre e o senhor não faz nada? Nesse preciso momento, a campainha tocou e Mubarak informou as crianças que voltaria depois do intervalo. No regresso, retomou a conversa: Ok, em que ponto estávamos? Ah, já sei. Na sessão de perguntas. Alguém quer perguntar alguma coisa? Um outro rapazinho levantou a mão. Mubarak apontou para ele e pediu-lhe que se identificasse.

Eu sou Tamer, respondeu o menino.

E qual é a tua pergunta, Tamer?

Eu tenho seis perguntas.

Primeira: por que é que o senhor é Presidente há 29 anos? Segunda: por que é que nunca nomeou um vice-presidente? Terceira: por que é que os seus dois filhos, Gamal e Alaa, controlam a economia e política do país? Quarta: por que é que o Egipto é um Estado miseravelmente pobre e o senhor não faz nada? Quinta: por que é que a campainha tocou para intervalo 20 minutos antes do que é habitual? Sexta: o que é que o senhor fez ao Ramy?"

Esta velha anedota, sussurrada entre portas e relembrada por Issandr El Amarani no seu blogue The Arabist, exprime bem algumas das razões que levaram os egípcios a perder o medo e a reclamar, não em segredo mas nas ruas, o fim de um regime ditatorial que vigorava há quase três décadas.

Foi a 14 de Outubro de 1981 que Hosni Mubarak, vice-presidente de Anwar el-Sadat (desde 1975), sucedeu ao “raïs” (Presidente), depois de escapar por um triz às balas que, no dia 6, mataram o seu predecessor durante um desfile militar, a que ambos assistiam, lado a lado, no Cairo. O desaparecimento do homem que pagou com a vida "a traição" do primeiro tratado de paz israelo-árabe levantou dúvidas, sobretudo entre a comunidade internacional, sobre se o Egipto ficaria à mercê da Irmandade Muçulmana de cujas fileiras emergiu o assassino, já que a liderança do país iria ser assumida por um homem desconhecido, apesar da sua imparável ascensão militar.

Aprender a voar

Um dos cinco filhos de um funcionário do Ministério da Justiça, Muhammad Hosni Sayyid Mubarak nasceu a 4 de Maio de 1928 em Kafr-el-Meselha, aldeia no delta do rio Nilo. Estudou, primeiro, na Academia Nacional Militar em 1949 e formou-se, depois, como piloto de caça e instrutor de voo na Academia da Força Aérea. Entre 1959 e 1961, foi para antiga União Soviética aprender a pilotar bombardeiros. Em 1966, no retorno à pátria, assumiu o comando de duas bases aéreas e, no ano seguinte, foi promovido a chefe de Estado-Maior da Força Aérea. Em 1972, já era vice-ministro da Defesa e, dois anos mais tarde, atribuíram-lhe a patente de marechal. Foi a recompensa pela participação na Guerra de Outubro ou de Yom Kippur vista pelos árabes como "a desforra" pela humilhante derrota que Israel lhes desferiu na Guerra dos Seis Dias, de 1967, durante a qual o Egipto perdeu, em seis horas, a península do Sinai.

As credenciais de Mubarak entre os militares eram tão imaculadas que Sadat, o sucessor do pan-arabista Gamal Abdel Nasser, não hesitou em nomeá-lo seu "número dois", conferindo-lhe a responsabilidade de várias e importantes missões de política interna e externa. Com a morte do visionário que emocionou os israelitas ao visitar Jerusalém em 1977, Mubarak foi catapultado para a chefia do Estado, superando a longevidade do reinado de Muhammad Ali Paxá, o otomano cuja dinastia se manteve no poder até à revolução de 1952 que derrubou a monarquia.

Fonte Jornal Público (Artigo Completo aqui) por Margarida Santos Lopes
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