Pires
A aldeia de Vale de Salgueiro, Mirandela, tem uma forma original de assinalar os Reis - também chamada festa dos rapazes em honra de Santo Estêvão. Durante dois dias as crianças são autorizadas a fumar pelos pais.
Todos os anos é escolhido alguém da localidade para protagonizar a figura do Rei, que tem a seu cargo a organização da festa e que traz consigo uma coroa revestida a veludo e adornada de objectos em ouro - avaliado em cerca de 15 mil euros - emprestados pelos habitantes, como símbolo de riqueza e poder.
Por lá não se cantam as tradicionais janeiras, mas dança-se a "Murinheira", típica dos Celtas, ao som das gaitas de foles e dos bombos. Tal como manda a tradição, a festa durou dois dias.
Na noite de sábado, Miguel Cunha - o Rei - percorreu todas as habitações da aldeia, sempre com o grupo de gaiteiros a acompanhar, distribuindo cerca de trezentos quilos de tremoços e cem litros de vinho, em cabaças tradicionais.
O Rei não escondia a satisfação em ser o protagonista desta festa. "É sempre um prazer sentir que continuo a contribuir para que esta bonita tradição não acabe". Entretanto, no centro da aldeia preparava-se o baile com uma aparelhagem sonora e quando o Rei chega as pessoas presentes são convidadas a dançar a Murinheira.
Também nessa noite, dezenas de crianças andaram pela rua com maços de tabaco, comprados pelos familiares. Têm permissão dos pais para fumar, "mas só durante os dois dias porque a tradição não pode morrer" diz Rosa de Jesus, habitante de Vale de Salgueiro, acrescentando que "depois falamos com eles para que não fiquem com o vício", enquanto o seu neto, de apenas seis anos, "devora" cigarros.
No segundo dia, ontem, a alvorada aconteceu às sete da manhã. O Rei, ao som das gaitas de foles e dos bombos, voltou a percorrer toda a aldeia para receber a "manda", os donativos para custear os cerca de 2000 euros de despesa da festa. Fonte JN por Fernando Pires
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