imagem do projeto inicial
Surgiram informações esta semana na imprensa dando conta do ressuscitar do centro comercial Dolce Vita Braga.
Mais de quatro anos depois da primeira data indicada para a inauguração deste projeto (outubro de 2009) e depois de sucessivas remarcações igualmente falhadas, a Sonae Sierra - a nova responsável pela gestão deste shopping - aponta o próximo mês de maio para a nova data de abertura.
Segundo o Diário Económico, o projeto deverá perder cerca de 1/3 de área de venda com a anulação de um piso e surgirá com uma nova designação, deixando cair a insígnia Dolce Vita.
Lembre-se que o empreendimento foi lançado pela Chamartín Imobiliária há mais de 5 anos com um investimento previsto de 137 milhões de euros, prevendo a instalação de 203 lojas, 2.700 lugares de estacionamento, uma área bruta de construção de 95 mil metros e, espante-se, a criação de 3.300 postos de trabalho diretos, mais 7.000 indiretos.
No ano passado, foi veiculado na comunicação social que o Dolce Vita Braga teria passado para as mãos da Caixa Geral de Depósitos, que, naturalmente, tratou de encontrar uma entidade especializada na gestão de centros comerciais para tentar recuperar o capital que investiu.
A Associação Comercial de Braga (ACB) desde a primeira hora se opôs à instalação e ao licenciamento deste projeto megalómano. Não porque seja, ou fosse, contra a instalação de centros comerciais, mas por considerar impossível a coexistência, em equilíbrio, dos diversos formatos de comércio, tendo em linha de conta o sobredimensionamento existente da oferta de unidades de dimensão relevante na região.
Em devido tempo, a ACB manifestou a sua discordância, tendo inclusivamente apresentado um parecer e uma declaração de voto por escrito à Comissão Regional que analisou o pedido de instalação deste conjunto comercial.
Consideramos à época, e o tempo deu-nos razão, que:
- a identificação da concorrência comercial apresentada pelo promotor era grosseiramente imprecisa, não contemplando a totalidade dos conjuntos comerciais existentes, aprovados e projetados para a área de influência do projeto. Alertamos para o facto de na área de influência do projeto já se verificar uma densidade de conjuntos comerciais anormalmente elevada, que ultrapassava de forma gritante os valores médios registados a nível nacional e internacional para a presença deste tipo de unidades;
- a oferta comercial existente no concelho de Braga e concelhos limítrofes ser bastante elevada, diversificada e de reconhecida qualidade, pelo que a inst alação do Dolce Vita Braga não concorria (nem concorre) para nenhuma melhoria do desempenho dos setores do retalho e da distribuição. Pelo contrário, com a crise que o comércio independente atravessava (entretanto, significativamente agravada com a crise económica e financeira que assolou o país), a instalação deste centro comercial iria acelerar a tendência de encerramento de mais lojas de comércio especializado e conduzir a um aumento dos níveis de desemprego na região, com inequívocos efeitos nefastos sobre o poder de compra das famílias e a coesão social.
Infelizmente para o promotor, para os financiadores, para a cidade e para a região, esta Comissão, apesar do parecer negativo e voto contra da ACB, optou por, erradamente, autorizar a instalação do empreendimento.
Não podemos esquecer que o licenciamento de uma unidade desta natureza implicava o pagamento de elevadas taxas de licenciamento para os cofres do Estado e que os promotores dos projetos acenavam aos decisores públicos com a promessa de criação de quantidades “astronómicas” de postos de trabalho. O que parecia disfarçar o impacto negativo que estes projetos tinham na economia local e regional. Refira-se também que o Estado foi incapaz, até à data, de criar um sistema que permitisse aferir o cumprimento daquelas promessas ou de prever medidas sancionatórias para o seu incumprimento.
Hoje, não existem grandes dúvidas que o argumento da criação de postos de trabalho é uma falácia. Certamente que a abertura de novas unidades implica a criação de novos postos de trabalho. Mas a procura não tem uma elasticidade infinita. Num mercado já saturado, a abertura de novas unidades vai implicar o desaparecimento de outras e o que se tem constatado é que, num prazo relativamente curto, a abertura de novos centros comerciais tem efeitos nocivos no emprego, uma vez que, em números absolutos, gera mais desempregados do que novos postos de trabalho. Situação agravada pelo facto de, na maioria dos casos, os novos postos de trabalho revelarem uma maior precariedade do que os postos de trabalhos que desparecem.
A ver vamos o que o futuro nos reserva. Mas continuamos a acreditar que este projeto não criará nenhuma mais-valia para Braga e concelhos vizinhos. Acrescentará sim uma agressividade canibalesca entre os diversos formatos e operadores de comércio existentes, altamente prejudicial para uma saudável co-existência destes agentes económicos e um prejuízo significativo na competitividade do comércio local dos concelhos de Braga, Amares e Vila Verde.
Fonte Correio do Minho por Rui Marques
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