Portugal: Vale a pena investir nas ações dos CTT? Analistas explicam riscos e benefícios da operação


O Governo anunciou esta semana os termos da oferta pública dos Correios, através do qual o Estado vai dispersar até 70% do capital da operadora postal em bolsa.
O intervalo do preço das ações é entre os 4,10 euros e os 5,52 euros, mas a fixação do valor final irá ocorrer a 3 de dezembro. Parte do capital (20%, incluíndo os 5% destinados aos trabalhadores dos Correios) é para investidores particulares, sendo mais de 40% colocado junto a investidores institucionais.


Que pontos fortes considera que apresentam as ações dos CTT?

Rui Bárbara, Banco Carregosa. O dividendo, a estabilidade nos resultados operacionais, o potencial de corte de custo e racionalização das operações e a utilização da infraestrutura para a distribuição de produtos financeiros (cross selling).  

Steven Santos, XTB. A elevada popularidade da empresa, a presença das lojas em todo o território nacional, os produtos facilmente compreensíveis, o compromisso em assumir uma política generosa de dividendos e o potencial de crescimento no segmento expresso e nos serviços financeiros justificam o interesse.

E que riscos considera que a operação apresenta para o investidor?

Rui Bárbara, Banco Carregosa. A evolução futura das operações, ou seja, a evolução do negócio que está muito ligada ao ciclo macroeconómico, a cada vez maior substituição do correio tradicional por correio electrónico e a capacidade da empresa em continuar a cortar custos. Por outro lado, acrescentaria a capacidade da empresa em desenvolver actividade noutras áreas que não o correio tradicional como a distribuição de encomendas que, com a internet e o comércio electrónico, tem bastante potencial. 

Steven Santos, XTB. A dependência de alguns clientes empresariais e estatais, a maior intensidade da concorrência em Portugal, em Espanha e em África, e a possibilidade de não ser atribuída a licença bancária são riscos que o investidor deve considerar bem antes de investir. Além disso, o Programa de Transformação em curso poderá não ser bem executado ou não ter os resultados desejados. Neste caso, a rentabilidade não cresceria o suficiente para sustentar os elevados dividendos esperados pelo investidor. Neste cenário, o accionista não seria tão bem remunerado como esperava.

Considera que é uma operação que poderá atrair os investidores?

Rui Bárbara, Banco Carregosa. Sim, tanto para institucionais, como para os particulares. Mesmo que o preço saia junto do ponto máximo do intervalo de preços a promessa de pagar um dividendo elevado – que está muito perto de ser o melhor dividendo do PSI 20 e mesmo em termos internacionais – é um forte atractivo. Em 2014, a administração propõe pagar 60 cêntimos por acção o que, mesmo que as acções saiam no preço máximo, dará um dividend yield de 7,2%. Em 2015, a promessa é a da distribuição de 90% dos lucros de 2014.  

Steven Santos, XTB. Sem dúvida. Num contexto de juros baixos, os pequenos investidores procuram rentabilidade, seja qual for o tipo de investimento ou activo. Tem havido perguntas e interesse dos pequenos investidores para poderem participar na emissão.
Apenas 20% das ações que o Estado vai dispersar em bolsa poderá ser subscrita por particulares. 

Tirando os trabalhadores, não haverá desconto para os pequenos investidores. Poderá ser um factor dissuasor? Como considera que poderá correr a oferta junto a este segmento?

Rui Bárbara, Banco Carregosa. Talvez não. A promessa de um bom dividendo é o grande atractivo. Creio que pode correr bem porque se trata de uma empresa conhecida de todos os particulares e que é vista como tendo um negócio estável, embora nós saibamos que o negócio tradicional já entrou em declínio, acentuado nos últimos anos, mas suave se descontarmos os efeitos do ciclo económico.  

Steven Santos, XTB. Embora os pequenos investidores portugueses tenham mais apetência por penny stocks (como temos visto nos aumentos de capital do BCP e do Banif), considero que a procura dos investidores vai ser sólida.

O facto do Estado manter 30% nos CTT é um factor positivo ou negativo para a operação?

Rui Bárbara, Banco Carregosa. Pode ser positivo se interpretarmos esse facto como um sinal de que o Estado, ao optar por manter capital na empresa, acredita na sua valorização.  

Steven Santos, XTB. É um factor positivo, se considerarmos que vai dispersar já uma parte considerável do capital. Um float de 70% é suficiente para atrair investidores institucionais estrangeiros, como se sentiu nos contactos preliminares do governo. Consoante o interesse e as condições do mercado, o objectivo é sair completamente da estrutura accionista dos CTT. Seria um factor negativo se o Estado privatizasse apenas 51%. Abdicaria do maioria das acções mas continuaria a ter muita influência. 

0 comentários: