Europa: Caminho de Santiago, duplica número de peregrinos nos itinerários portugueses



Analisando os dados estatísticos referentes ao ano de 2011, e comparando-os com o ano de 2009 (não sendo possível a comparação com o ano de 2010, por este último ter sido Ano Santo), os Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela, pese continuar a ser ignorados pelo Estado Português, continuam a crescer, sendo - em 2011 - o itinerário que regista o maior crescimento, quase duplicando o número de peregrinos.
O Caminho de Santiago continua a atrair cada vez mais pessoas de todo o mundo. Sendo que este crescimento mantêm-se desde do Ano Santo de 1993.

Em 2011 o número total de peregrinos que solicitaram a “Compostela” (diploma para quem efetuou a tradicional peregrinação jacobeia) foi de 183.366 peregrinos (+ 37.489 do que em 2009), de um total de 126 países (em 2009 foram 111 países).

Os Caminhos Portugueses quase duplicam o número de peregrinos, sendo o itinerário que regista o maior aumento. Em 2011 foram 22.062 os peregrinos que seguiram este itinerário.

Interessante é conhecer quem são estes peregrinos que escolhem os Caminhos Portugueses para realizar a sua tradicional peregrinação ao sepulcro do Apóstolo São Tiago Maior, em Compostela.

Assim, dos 22.062 peregrinos registados neste itinerário, apenas 6.498 eram cidadãos portugueses. A maioria foi espanhola (com 8.196 peregrinos), sendo a Alemanha o único país a ultrapassar a barreira dos mil peregrinos neste itinerário (com 2.557 peregrinos).

Este é um dado muito curioso já que em 2011 quase duplica (em comparação com 2009) o número de portugueses que peregrinam a Santiago de Compostela. Em 2011 realizaram a tradicional peregrinação jacobeia um total de 8.649 portugueses (registando-se mais 3795  pere­grinos do que em 2009). Note-se que Portugal é o único país (dos 5 que mais contribuem com peregrinos) a registar um crescimento em relação ao Ano Santo de 2010 (com mais 863
peregrinos). Note-se também que o número de peregrinos portugueses ultrapassa pela primeira vez (desde 1992) o número de peregrinos franceses.

Outro dado interessante é saber onde estes peregrinos iniciam a sua peregrinação.

Assim, dos 22.062 peregrinos registados nos Caminhos Portugueses, 7.720 começaram a peregrinar em Tui [na fronteira com Portugal, a 3km de Valença do Minho e a 117 km de Compostela] (destes apenas 213 são de nacionalidade portuguesa). Já desde Valença do Minho foram 2.815 peregrinos (dos quais 1466 – mais de metade portanto – são portugueses).

Mas é a cidade do Porto o ponto de partida mais escolhido dos itinerários portugueses (colocando-se no 8º lugar dos pontos de partida mais escolhidos de entre todos os Caminhos/ Itinerários). Foram 6.539 os peregrinos que iniciaram a sua peregrinação na Invicta (dos quais “apenas” 1.924 são portugueses). Ponte de Lima, Lisboa, Braga e Chaves são as demais  cidades preferidas para se iniciar a peregrinação a Compostela (sendo que os portugueses   preferem o Porto, Valença do Minho e Ponte de Lima).

A tradicional peregrinação jacobeia continua claramente a se fazer a pé (153.065 peregrinos escolheram esta modalidade no conjunto dos itinerários, sendo que nos caminhos portugueses foram 18.155. No entanto os cidadãos portugueses estão divididos! Foram 4.618 que peregrinaram a pé, e 4.026 os que peregrinaram em bicicleta!), e por motivos religiosos ou religiosos e outros (172.116 peregrinos deram esta resposta no conjunto dos itinerários, sendo que nos caminhos portugueses foram 20.799. Esta também foi a resposta da maioria dos portugueses, com 8.259 peregrinos a peregrinarem por estes motivos).

Conclusão,

Verifica-se um claro aumento do número de peregrinos nos Caminhos Portugueses de peregrinação a Santiago de Compostela, bem como do número de peregrinos lusos, isto apesar da contínua indiferença do estado português para com este Grande Itinerário Cultural Europeu.

O Caminho de Santiago é o primeiro e o principal Itinerário Cultural Europeu e um modelo de relação transnacional pan-europeu, com grande biodiversidade e diversidade cultural refletida nas suas paisagens e no seu rico património cultural.

A desarticulação existente na atualidade entre as iniciativas de promoção local e a inexistência de uma estrutura de gestão global deste itinerário em Portugal, num momento em que o nosso país atravessa uma grave crise financeira, é uma oportunidade perdida para o desenvolvimento sustentável, para contrariar a debilidade do sistema demográfico e a escassa densidade populacional e o reequilíbrio do sistema rural-urbano.

Em Dezembro de 2010, o Comité de Ministros do Conselho Europeu, aprovou a Resolução CM/ Res (2010) 53, mediante a qual se estabelece um Acordo Parcial Ampliado (EPA) sobre os Itinerários Culturais, ao mesmo tempo que propõe uma nova regulação para os Itinerários Culturais Europeus, de entre os quais se destaca o Caminho de Santiago, como o Primeiro aprovado.

Durante o ano de 2011, o Conselho de Europa, conjuntamente com a Comissão Europeia, realizaram um estudo sobre a importância destes itinerários para o desenvolvimento, competiti­vidade e inovação das PME’s, concluindo-se da necessidade de articular estratégias conjuntas de I+D entre as universidades e centros de investigação com as associações empresariais (sobretudo representando PME’s).

Recentemente, foi criada a Federação Europeia dos Caminhos de Santiago, uma iniciativa da Câmara Municipal de Puy-en-Velay (França), a Xunta de Galicia (Espanha), a Federação de Turismo de Namur (Bélgica) e da CCDR do Norte (!). Mais uma iniciativa descontextualizada da realidade nacional e que, mais importante, em nada contribui para responder a completa descoordenação e abandono em que sobrevivem os Caminhos Portugueses de Santiago.

Deste modo a AEJ defende a criação urgente de um “Conselho Jacobeu” que possa reunir ministérios, entidades regionais (CCDR e Turismo, entre outras), universidade e centros de investigação, câmaras municipais, associações empresariais e associações jacobeias.

Os Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela necessitam de regulamentação quanto a abertura, sinalização e manutenção dos seus itinerários, de normas para a abertura e funcionamento dos albergues de peregrinos, bem como de uma promoção estratégica em vários mercados externos.

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