Braga: CEJ 2012, "Vamos ter algumas iniciativas ao nível da moda com a Câmara de Vila Verde" (via Correio do Minho)



Entrevista a Hugo Pires, Vereador da Câmara Municipal de Braga

P - A ambição de Braga Capital Europeia da Juventude é ter resultados que não se fiquem só pelo ano de 2012?
R - O nosso programa é ambicioso. São 14 mil horas de actividades. É um programa em que acreditamos e onde não estamos sozinhos. O maior garante de que este programa vai ter bons resultados é o empenho e o entusiasmo que as asso-ciações juvenis têm demonstrado até agora. As associações estão ansiosas por começar a acção.

P - Uma das críticas que foram surgindo tem a ver com o não envolvimento das associações. Isso está garantido?
R - Essas críticas são de quem não anda muito pelo movimento associativo. Fizeram-se críticas sobre o atraso no conhecimento do programa, mas a Capital Europeia é para 2012. Fomos fazendo o trabalho de casa para chegar a esta altura e ter tudo a andar sobre rodas.

P - Nenhuma associação foi deixada de fora da Capital da Juventude?
R - Só não está quem não quer.

P - Os efeitos da Capital Europeia da Juventude não se vão esgotar em 2012? A Pousada da Juventude e o espaço GeNeRation são as obras visíveis.
R - Nós vamos apostar nas acções imateriais e que elas perdurem. Queremos que Braga 2012 seja o pretexto para mudar a atitude dos jovens perante as coisas e o contributo que eles podem dar à comunidade. O que vai ficar de físico é a obra do quartel da GNR (GeNeRation), que é a síntese dos três eixos da Capital Europeia da Juventude. É um edifício que vai dar uma nova dinâmica ao movimento associativo, aos jovens que queiram ser empreendedores e que vai dar também uma nova dinâmica à reabilitação urbana. A reabilitação daquele espaço irá conta- minar toda a zona envolvente. A Pousada da Juventude é uma coisa pela qual a Câmara de Braga já vinha lutando há muito. A Capital da Juventude foi mais um pretexto e mais um argumento.

P - São obras para ficarem prontas este ano?
R - O projecto GeNeRation, sim. A obra já está em concurso. Em Fevereiro temos de estar com a obra a andar. A obra tem um prazo de seis meses.

P - A nova Pousada da Juventude de Braga é algo que irá demorar mais?
R - É bom que se note que nós ainda não temos a candidatura aprovada no Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). Só quando a candidatura estiver aprovada é que avançaremos com as obras.

P - Não é líquido que se possa avançar com as obras da Pousada este ano?
R - O início da construção acho que é líquido. Sobre a conclusão das mesmas em 2012 tenho as minhas dúvidas.

P - As escavações arqueológicas feitas no local irão mudar alguma coisa no projecto?
R - Nós fomos adiantando esse trabalho. O que a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho nos transmitiu foi que o projecto se encaixa. Vai surgir um novo edifício ao lado do antigo mosteiro de S. Francisco. A preocupação foi saber se existia algo de patrimonialmente importante. Onde vai surgir a nova construção não existe nada de valor patrimonial.
P - O programa da Capital Europeia da Juventude inclui a iniciativa ‘(Em) Caixote’, dirigida aos jovens empreendedores que poderão usufruir, durante algum tempo, de espaços no centro histórico. Quando pretendem arrancar com a iniciativa?
R - Existe o ‘(Em) Caixote’, que é um programa de animação do espaço público. Dentro dele existe o projecto ‘Encaixa-te’, que visa a ocupação de espaços devolutos. Uma das novas prioridades é mostrar o que de bom os jovens fazem em Braga e o espaço público é a melhor montra para isso. De Março a Novembro, entre sexta-feira e domingo, haverá sempre coisas a acontecer no centro histórico de Braga. O programa ‘(Em) Caixote’ funcionará com ‘hotspots’’ ligados à dança, dj, música, poesia e outras formas de arte. O ‘Encaixa-te’ será um concurso para a escolha das dez melhores ideias de negócio, com a colaboração do gabinete de apoio ao empreendedorismo da Asso-ciação Académica da Universidade do Minho (Liftoff), que se instalará no espa-ço GeNeRation. Para a instalação dessas dez melhores ideias de negócio vamos falar com proprietários de edifícios devolutos, propondo-lhes que os jovens empreendedores se possam aí instalar durante seis meses sem custos. Passados esses seis meses, os jovens terão de pagar uma renda durante um ano, negociada com o proprietário.

P - O programa dirige-se só a essas melhores dez ideias?
R - Exactamente. Se houver mais proprietários a quererem arriscar...

P - Isso encaixa com algumas ideias do plano de reabilitação urbana do centro histórico da cidade de Braga que visam a animação de espaços comerciais que estão moribundos.
R - Eu sou presidente da Fundação Bracara Augusta, vereador da Juventude e vereador do Urbanismo. Tudo isto está interligado. Ao mesmo tempo que damos oportunidade aos proprietários de alugarem os seus espaços, damos oportunidade aos jovens de mostrarem os seus novos negócios no centro histórico, que é a melhor montra da cidade, e promovemos a reabilitação urbana. Nós queremos fazer do centro histórico o coração da cidade de Braga.

P - Voltando ao projecto GeNeRation, que pretende ser também alfobre de novas ideias e das indústrias criativas, qual vai ser o seu modelo de gestão?
R - Existe algum ruído sobre essa matéria. Nós temos a ambição de entregar a gestão do GeNeRation à comunidade. Vamos pôr a concurso a gestão daquele espaço, mas isso levará o seu tempo. No primeiro ano será a Fundação Bracara Augusta a gerir o espaço e a afinar as agulhas. Depois de estar tudo afinado, lançaremos o concurso para a gestão do equipamento.

P - Quando o antigo quartel da GNR estiver reabilitado, quem se poderá candidatar ao seu usufruto?
R - É um pouco redutor dizer isto, mas o GeNeRation terá uma gestão de condomínio. Teremos espaços para as indústrias criativas, um gabinete de empre-endedorismo e residências artísticas. Noutra ala, teremos o Conselho Municipal da Juventude e a sede do associativismo juvenil. 
Numa outra parte, teremos um auditório, um restaurante, um bar e um espaço para exposições. O GeNeRation é a síntese da Capital Europeia da Juventude. Com o gabinete do empreendedorismo, as indústrias criativas e um pólo de negócios queremos dar ferramentas aos jovens para enfrentarem o mercado de trabalho; com a Casa do Conselho Municipal da Juventude queremos promover a participação cívica e a cidadania activa; vamos ter espaços comerciais para promover Braga e o que seja produzido pelos jovens cria-dores. Quando passarmos para a gestão privada, queremos que este seja um edifício autosustentável. A câmara não se propõe gastar nem mais um tostão com a gestão do edifício, o que poderá dizer é que quererá lá, por exemplo, os Encontros da Imagem ou eventos culturais para as escolas. E para isso pagará.

P - Uma espécie de serviço público?
R - Exactamente. 

P - O orçamento da Capital Europeia da Juventude anda à volta dos 4,5 mi-lhões de euros, uma parte comparticipada pelo QREN. Recentemente disse que era necessária mais verba para a internacionalização, o que mereceu críticas de algumas juventudes partidárias. Essa promoção internacional não deveria estar já salvaguardada?
R - Essas críticas vêm de quem não tem a noção de nada. Tenho ouvido dirigentes das juventudes partidárias dizerem que não conhecem o programa e que as associações não estão envolvidas e depois, a maior parte deles, não estiveram sequer na apresentação do programa.

P - Foram convidados?
R - Foram todos convidados. Lamento essa ausência. Nós não devemos estar todos de acordo, mas temos de conhecer as coisas para poder ter opinião sobre elas. Relativamente à internacionalização da Capital Europeia da Juventude, nós não temos nenhum apoio do Estado. Achamos que esta é uma oportunidade única, tendo outra cidade aqui ao lado que é Capital Europeia da Cultura, para Braga se projectar para atrair gente. Só Guimarães para comunicar a Capital Europeia da Cultura tem mais dinheiro que o orçamento total da Capital da Juventude. Nós não  

 fomos pedir ao Turismo de Portugal nada de extraordinário. Este Governo deixou cair os projectos integrados de turismo. Tivemos uma reunião a semana passada com o presidente do Turismo de Portugal que nos disse estar consciente da importância da Capital da Juventude e que vai fazer esforços para que nos possa dar um apoio ao nível da internacionalização.

P - Essa campanha no exterior não deveria estar já a ocorrer?
R - Este é um projecto com muito sangue, suor e lágrimas. Nós procuramos todas as maneiras de chegar lá fora. Os nossos embaixadores no estrangeiro são os estudantes Erasmus e os jovens do programa Contacto que vão trabalhar lá para fora. Mas isto é pouco.

P - Tem focado muito a importância económica da Capital da Juventude para a cidade e a região. Não teria sido interessante uma promoção nas feiras de turismo?
R - Ainda vamos estar presentes na Bolsa de Turismo de Lisboa. Tudo faz sentido para promover a marca Braga, o problema é que não há dinheiro.

P - Dos últimos contactos com o Turismo de Portugal ficou alguma porta entreaberta?
R - Ficou a vontade de querer ajudar, mas nada de concreto. Nós percebemos a contenção orçamental, mas esta é uma oportunidade de apoiar o comércio do centro histórico, de fazer com que a eco-nomia local não morra.

P - É nesse sentido que se enquadra um possível concerto da banda ‘Pearl Jam’ em Braga. Ainda não está posto de lado?
R - Os ‘Pearl Jam’ virão enquadrados num pacote de internacionalização. Nin-guém tem possibilidade de os trazer a Portugal por si só. Nós encaixámos esse concerto num programa de internacionalização com o maior canal de música do mundo: a MTV. Braga seria vista em 500 milhões de lares.

P - Até quando podem esperar para garantir esse grande evento?
R - Até ao final do mês (n.r. Janeiro). Nós queremos muito que isso aconteça porque põe Braga no mapa europeu e mundial. Temos centenas de cartas e mensagens a perguntar pelos ‘Pearl Jam’, mas a Capital Europeia da Juventude é muito mais do que eles. Se fecharmos o contrato com a MTV, o concerto dos ‘Pearl Jam’ ou de outra banda é gratuito.

Capital da Juventude é balão de oxigénio para comércio bracarense

P - O programa da Capital Europeia da Juventude começa hoje. Foi conseguida a ligação com os outros municípios do distrito de Braga?
R - O esforço foi conseguido. Fomos a todos os concelhos do distrito. Foram todos muito receptivos à iniciativa Regio Polis. Associações de outros concelhos vão ter iniciativas cá. Vamos ter algumas iniciativas ao nível da moda com a Câmara de Vila Verde. Não podia ter corrido melhor. Na próxima semana vamos fazer um balanço do Regio Polis.

P - Há algum entendimento da organização da Capital Europeia da Juventude com a Associação Comercial de Braga?
R - Ainda esta semana tivemos uma reunião com a Associação Comercial e as coisas estão a correr bem. Todas as empresas estão preocupadas com 2012.

P - A Capital Europeia da Juventude pode ser um balão de oxigénio para o comércio bracarense?
R - Sim. Temos obrigação de puxar pelas nossas empresas. A Capital da Juventude tem de estar ao lado dos comerciantes num ano muito difícil. O centro histórico está a passar por um processo de transformação. Uma série de equipamentos que alimentavam o centro histórico tiveram de sair dali: Hospital, Tribunal, Segurança Social, GNR... Nós temos que reinventar o centro histórico com jovens e ideias criativas.

P - O que vai acontecer neste dia de abertura da Capital Europeia da Juventude?
R - Será o primeiro momento deste grande evento. Convido toda a população a estar no centro histórico onde vão acontecer muitas actividades e espectáculos. Às 18h00 teremos um grande espectáculo com a companhia austríaca que fez o encerramento do campeonato europeu de futebol de 2008. Queremos neste dia mostrar a mobilização de Braga em torno deste grande evento. Todos somos Braga e todos devemos mostrar o apoio a este evento com a nossa presença. Durante toda a tarde, haverá um programa da RTP1 a partir de Braga. A SIC e o Porto Canal também terão participações especiais. Falta a MTV (risos). Espero que até ao fim do mês consigamos resolver esse assunto.

P - O programa alternativo da Capital Europeia da Juventude enquadra uma série de eventos que a cidade de Braga já produz.
R - E não só. A Capital Europeia da Juventude não é apenas um programa de festas. O programa alternativo é onde existe mais festa e animação.

P - Qual é a resposta das escolas à Capital Europeia da Juventude?
R - Muito positiva e de muita envolvência. Algumas escolas vão coordenar iniciativas da Capital Europeia da Juventude.

P - Estamos numa região com muito desemprego jovem. Como vê esta realidade?
R - Vejo com muita preocupação. Todos os dias vejo jovens desesperados sem perspectivas de futuro. Costumo dizer que a actual geração é a mais escolarizada e qualificada, mais cosmopolita e tecnologicamente mais avançada, mas a mais desencantada. Ao contrário do que o ac-tual Governo apregoa, estes jovens têm de conseguir trabalho no seu país. Sobretudo porque o país apostou neles e os qualificou. A juventude portuguesa é desencantada e muito individualista, com um espírito de sobrevivência maior. É preciso mudar a atitude de ficar sentado no sofá à espera que nos batam à porta a perguntar se queremos um emprego. Falta essa proactividade à nossa juventude. Nós vamos querer ir aos sítios improváveis onde os jovens estejam para picá-los.

P - O final de 2011 ficou marcado pela saída do director-geral da Capital Europeia da Juventude. Como viveu essa saída?
R - Foi com tristeza que vi o Cláudio Silva sair porque era uma pessoa muito válida, mas percebi as razões pessoais que ele apresentou. Tinha como missão montar o programa oficial e isso foi conseguido. Sinceramente, contava com ele para a operacionalização desse programa.

P - Não houve necessidade de substituir o director-geral. Era uma função que estava esgotada?
R - A principal função do director geral era montar o programa ouvindo as asso-ciações e as escolas. Nós vamos tentar perceber se o conseguiremos operacionalizar com a prata da casa, com o que temos. Se não, teremos de contratar alguém para exercer essas funções. Depois da cerimónia de abertura teremos um espaço de 15 dias para pôr tudo em ordem.

P - A Fundação Cultural Bracara Augusta é para continuar nestes moldes ou, passada a Capital Europeia da Juventude, será repensada a sua existência?
R - Caberá aos curadores da Fundação dizer o que pensam. A Fundação pode, após a Capital Europeia da Juventude, gerir uma série de projectos, mas há a questão financeira. Nós arranjámos di-nheiro do QREN para esta realização. Tudo depende se os curadores (n.r. Câmara de Braga, Cabido da Sé, Universidade do Minho e Universidade Católica Portuguesa) querem injectar dinheiro.

P - Os deputados do PSD apresentaram na Assembleia da República um requerimento sobre vencimentos e ou- tros benefícios que os administradores da Fundação alegadamente usufruem. Que comentários lhe merecem estas dúvidas?
R - Quem levanta tantas dúvidas e suspeições era bom que tivesse ido à apresentação do programa da Capital Europeia da Juventude. Isso revela uma grande vontade de lançar lama e suspeições que não fazem sentido. Garanto que qualquer pessoa a trabalhar na Capital Europeia da Juventude ganha menos que qualquer um desses deputados, muito menos do que qualquer um desses de- putados. 
Temos feito milagres com o dinheiro que temos. A Capital Europeia da Juventude é feita com uma grande contenção orçamental. Eles querem é lançar lama para cima deste evento.

P - A Fundação Bracara Augusta também está a passar pelo crivo a que o Governo está a obrigar as fundações públicas e privadas?
R - Temos prestado contas. Somos uma fundação de direito privado com utilidade pública. As coisas estão bem.

Fonte Correio do Minho por José Paulo Silva

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