Mundo: De que é feita a felicidade? (Crónica de Isabel Stilwell - jornal Destak)




De muitas coisas que têm pouco a ver com dinheiro, juventude e ausência de barriga! Como prova o facto de descer até aos 50 anos, e contra todos os mitos, aumentar a partir daí.

Já vimos que com os tradicionais indicadores económicos não vamos a lado nenhum, mas Portugal seria um país altamente competitivo se a Europa adoptasse a opção do Butão e começasse autilizar a Felicidade InternaBruta (FIB) em lugar do habitual PIB. Porque, apesar de cortes e crises, a verdade é que temos tudo para sermos felizes, e os estudos feitos nesse sentido mostram que apesar do nosso gosto pelo fado, e de uma costela saudosista, somos dos povos mais felizes do mundo. Além disso se a medição da riqueza nacional fosse em termos de bem-estar, talvez os nossos políticos fossem mais criativos nas medidas que tomam.

Mas de que é feita, de facto, a felicidade? Antes de mais, tire da cabeça que é coisa de crianças, como se só a infância pudesse ser dourada (ou fosse, sequer, dourada). Dito isto, é olhar para os estudos que medem a felicidade, como o Eurobarómetro, o Gallup e muitos outros que foram surgindo quando se percebeu que sim, a felicidade dá dinheiro (as pessoas felizes produzem mais), saúde (as pessoas felizes adoecem menos e reagem melhor à doença) e paz social (as pessoas felizes não andam a massacrar inocentes, nem disparam sobre o infeliz que lhes bateu no carro).

A primeira conclusão a que chegam é que é preciso distinguir a felicidade no momento da percepção de se ser uma pessoa feliz. Por exemplo, os pais com filhos em casa, quando questionados sobre se «ontem estavam felizes», respondem maioritariamente que estavam zangados ou irritados, o que podia levar a supor que os filhos provocam infelicidade, contudo, quando se lhes pede que avaliem a sua vida como um todo, dizem-se mais felizes do que aqueles que não têm filhos.

A conclusão seguinte é que se as circunstâncias externas pesam, as internas têm um papel tão ou mais preponderante. Ou seja, um desempregado (o indicador mais certo de infelicidade) pode sentir-se mais ou menos em baixo, dependendo do seu temperamento. Se for neurótico, ou seja, tendencialmente culpabilizado, ansioso e enraivecido, terá uma percepção mais dramática do que lhe aconteceu do que um extrovertido, que domina melhor as competências sociais que lhe permitem receber apoio emocional de quem o rodeia. Quanto à riqueza, os estudos provam que é melhor chorar um desgosto num Mercedes do que num carro a cair aos bocados, mas garantem que os mais felizes são os «remediados», que têm a sua segurança financeira assegurada. A partir daí, a felicidade não sobe em proporção com a conta bancária.

Mas talvez a informação mais relevante é que se a felicidade decresce até à meia-idade (46 anos é o fundo do poço), a partir daí cresce consistentemente. Segundo explica um artigo da revista The Economist (The U-bend of Life, a ler obrigatoriamente), é exactamente quando se começa a perder a vitalidade, a acuidade mental e a ganhar rugas que a felicidade aumenta. Explicação: já viveram o suficiente para saber o que vale realmente a pena, estão menos zangados com o mundo, mais tolerantes, já se aceitam como são, controlam as emoções, conformam-se com as fatalidades e resolvem mais rapidamente os conflitos. Acima de tudo, a morte de muita gente querida dá-lhes a noção de que a passagem pela Terra tem um prazo e que por isso há que aproveitá-la bem. A descoberta serve para todos. Boas férias.

Fonte Jornal Destak por Isabel Stilwell

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