Pico de Regalados: Vindima é "um trabalho alegre"



Os cestos de uvas já não se carregam às costas, mas a vindima mantém, em muitas quintas, as características de outros tempos. Vindimar ainda é sinónimo de alegria e de convívio.

O dia começa cedo em época de vindimas. Antes das 8 horas da manhã e até à 1 da madrugada, é grande a azáfama entre as vinhas e a adega para produzir o 'néctar dos deuses'.
Mais de 40 pessoas foram chamadas só para vindimar as uvas na Quinta de Silvares, em Pico de Regalados, Vila Verde, uma das várias explorações cultivadas pelo produtor de vinho verde, José Carlos Costa, de Amares.
As vindimas são motivo de convívio e de alegria. "É um trabalho alegre" descreve o vitivinicultor.
Com 75 anos feitos, Maria de Nazaré Pereira já perdeu a conta às vindimas que já fez e nem mesmo a bronquite a impede de fazer o trabalho.


Confessa que gosta muito do campo e das vindimas em particular. Por isso, todos os anos, participa neste momento das colheitas com o entusiasmo de uma jovem.
A azáfama dura 15 dias e há anos em que são precisas três semanas. O papel de Domingos Cerqueira é "olhar pelo trabalho dos outros". É a ele que cabe constituir os grupos que asseguram a vindima e controlar o andamento do trabalho.
Domingos Cerqueira confirma que "é um trabalho que as pessoas gostam". Antigamente, era de escada, o que era mais difícil.
Domingos Cerqueira conhece bem o trabalho do campo. Oriundo de uma família de 15 irmãos, foi servir para a agricultura com seis anos. Garante que enquanto puder continuará na lavoura.

Trabalho sazonal para muitos


As vindimas dão emprego sazonal. E se muitos dos trabalhadores já são jornaleiros que se dedicam ao trabalho agrícola, outros são desempregados.
É o caso de Manuela, de 31 anos. Ficou desempregada há um mês e está à procura de emprego. Enquanto isso, aventurou-se, pela primeira vez, nas vindimas.
Durante os últimos dez anos, trabalhou num escritório, entre quatro paredes. Longe dos papéis e ao ar livre, concorda que vindimar “é um trabalho fixe” e até o aconselha como terapia para quem sofre de depressão.
Gostou tanto que já decidiu: para o ano, se já estiver a trabalhar, irá tirar férias, nesta altura do ano, para fazer as vindimas.


O grosso dos trabalhadores vindima, mas o trabalho estende-se ao carregar e despejar dos cestos e ao transporte até à adega, na freguesia de Carrazedo, concelho de Amares.
“É um trabalho em cadeia” descreve o vitivinicultor amarense, José Carlos Costa, que aponta que o carregar dos cestos é uma das tarefas mais difíceis, pois ao final de um dia de vindima são toneladas de uvas.
Com o sistema adoptado por José Carlos Costa, num dia, uma pessoa pode vindimar uma tonelada de uvas, se a vinha estiver em plena produção.
Mas não basta a arte de plantar e de vindimar. Já na adega, é preciso técnica, garante este vitivinicultor, que sublinha que “nem sempre de boa uva se faz bom vinho”.
Prensagem, decantação, trasfegas, armazenamento e engarrafamento são etapas a cumprir, já na adega, com o apoio técnico de um enólogo e outros profissionais, para que o vinho chegue à nossa mesa.

Produção integrada rentabiliza colheitas


José Carlos Costa colhe vinho de 18 explorações, cultivando, em muitos casos, quintas que estavam abandonadas.
Este vitivinicultor prepara-se para alargar a área de vinha e aponta que "o mal da agricultura foi não haver profissionalismo".
"Tem de ser a cultura certa e o sistema de cultivo certo para rentabilizar a produção" afirma.
O ano passado, cortou 15 hectares de vinha para repor com outro sistema de condução.
Este ano, prepara-se para arrancar mais quatro hectares para plantar o dobro.


José Carlos Costa já experimentou o modo de produção biológico, mas é difícil controlar as doenças.
Por isso, optou pela produção integrada em que recorre apenas a adubos orgânicos e correctivos. Tem vinhas em que não faz adubação química há mais de 10 anos e onde consegue boa produção, revela ao 'Correio do Minho'.
Quanto mais se planta, mais postos de trabalho se criam e melhor ambiente e paisagem se preserva, sublinha.
O eno-turismo é uma das vertentes que se pode associar à produção vitinícola, havendo já turistas que assistem e participam nas vindimas.
José Carlos Costa tem um projecto nesta área que permitirá mostrar aos turistas todo o ciclo do vinho.

Este ano, a produção das várias explorações deverá ascender a 350 mil litros, mas já chegou a ter 450 mil.
Produtor da marca de vinho verde ‘Terras de Amares’, revela que escoa mais de metade da sua produção à porta, para consumidor final e restaurantes.
A outra metade vai para a distribuição e para exportação para países como França, Luxemburgo e Guiné.
Além daqueles três países, josé Carlos Costa está a encetar contactos para exportar a China. Fonte Correio do Minho por Teresa Marques Costa

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