Um estudo sobre minorias de origem africana e de etnia cigana no distrito de Braga revela que as ‘maiorias’ discriminam, são preconceituosas e têm atitudes racistas. “Sem generalizações abusivas há uma dominante por parte da maiorira dos inquiridos, de uma de forma mais brutal ou mais subtil, que ainda denotam formas de racismo, de estereotipos, preconceitos relativamente às minorias éticas, mais com os ciganos do que com os africanos”, justificou Manuel Carlos Silva do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho (UM).
O seminário internacional, que termina hoje, pretende discutir questões da xenofobia e do racismo. Durante toda a manhã de ontem foram apresentadas as conclusões do estudo ‘Relações inter-étnicas: portugueses, portugueses-ciganos e imigrantes dos PALOP’, que começou a ser elaborado em 1998 e ficou concluído no final do ano passado. O estudo, que foi financiado pela Fundação de Ciência e Tecnologia, serviu de mote para que durante o seminário sejam criadas parceirias de estudos com especialistas nacionais e estrangeiros que trabalham na área das minorias étnicas.
Manuel Carlos Silva adiantou, entretanto, que o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que acolhe o próximo seminário internacional sobre etnicidade e racismo, que é o outro parceiro da UM, neste projecto internacional.
Para o estudo foram entrevistados 2018 pessoas, a maior parte portugueses, sendo 142 inquéritos feitos a ciganos e 168 a africanos. “Chegamos à conclusão que em Portugal, não obstante a retórica e que Portugal é um país tolerante, multi-racial, multiétnico e que não discrimina, continuam a existir estereotipos e preconceitos relativamente às minorias étnicas”, sublinhou o investigador, salvaguardando, que “há parcelas da maioria que continuam a ter um grande empenho, uma atitude de cidadania e civismo no sentido de contrariar estas lógicas de exclusão face às minorias”.
Manuel Carlos Silva vai mais longe: “Não há por essência portugueses racistas e portugueses não racistas. Por norma temos o comportamento fruto das circunstâncias, que tem a ver com a classe, o estatuto social o nível de instrução e habilitação e a capacidade de conseguir dialogar com o próximo e o diferente”. A situação é mais acentuada quando estão em causa relações sexuais ou parentais, porque “não admitem que filhos ou filhas casem com africanos ou ciganos”.
Muitas vezes, os africanos e ciganos não falam em discriminação “como forma de dizerem que estão integrados para não serem mal vistos, sendo também uma forma de sobrevivência e de levar a vida”, explicou aquele responsável, admitindo que “quando estão num clima de confiança dão respos- tas sinceras”.
Embora com diferenças, os problemas ocorrem mais onde há mais contactos. “É curioso dizer que os portugueses com mais baixas possibilidades económicas são aqueles que à partida têm que enfrentar as situa- ções de convivência e nem sempre vêem de forma positiva”, frisou Manuel Carlos Silva.
E atirou: “Muitas vezes vêem os africanos e, sobretudo os ciganos, como concorrentes no mercado e em situação de de precariedade têm tendência procurar um bode expiatório. Mas isto acontece em todos os países”. Já as classes que têm mais recursos económicos e escolares “não convivem directamente com eles e não se importam nem preocupam com este tipo de problemas e acabam por dizer que não são racistas, mas na verdade e na prática são racistas de forma mais subtil”, salientou.
Estudo abrangeu comunidades de vários concelhos do distrito
O estudo abrangeu comunidades de vários concelhos do distrito de Braga, com especial destaque para Famalicão, Guimarães, Braga e Barcelos com estudo de casos concretos, junto de bairros sociais com ciganos e não ciganos. Mas o estudo abordou, também, comunidades de concelhos como Esposende, Póvoa de Lanhoso, Vila Verde e até Cabeceiras de Basto e Vieira do Minho.
Em Braga, o estudo incidiu sobre os moradores do bairro do Picoto, S. Gregório, entre outros, em Guimarães no bairro de Atouguia e em Barcelos em Barqueiros e na cidade. “Foram feitos inquéritos a famílias ciganas e no âmbito da comunidade africana houve muitos estudantes, mas nas conclusões tivemos isso em conta, mas estão também representados os empregados do comércio e construção civil”.
Por exemplo, dos imigrantes dos PALOP em Braga inquiridos, 72% afirmaram já terem sido vítimas de discriminação racial. Mas o estudo apresenta outros dados curiosos. No caso das famílias de etnia cigana “já há uma maior abertura à escola”, revelando, ainda, que apenas “uma minoria se dedica ao comércio da droga” e que os mais velhos se “preocupam” com os jovens que consomem. Fonte Correio do Minho por Patrícia Sousa
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