"O Minho não resistirá sem a sua paisagem e cultura rurais, um dos marcos identitários mais fortes"
A realização de um congresso sobre a agricultura, a paisagem e a cultura rurais no Minho é uma das tarefas locais mais urgentes. A razão para tal é simples a agricultura minhota, quer como agro-indústria quer como empreendimento doméstico de cariz eminentemente biológico, está, simplesmente, em desaparecimento acelerado. A diminuição da população a trabalhar no sector primário é uma das razões maiores para este fim anunciado (ou uma sua consequência). Mas, claro, não é o único. O outro é a incapacidade local para reordenar o território e a sua produtividade agrícola, a que não é estranho o individualismo local, incapaz de pensar o mundo para além do mercado de vegetais mais próximo. Acontece que este triste egocentrismo territorial constitui uma profunda característica cultural das gentes minhotas, que não se muda por decreto. No entanto, e estranhamente, não bastou uma geração para a compreensão e substituição daquele pensamento e práticas autarcicos, como se a ancestral ligação das pessoas à terra fosse mais forte que as forças do mercado e da competitividade internacional. Feliz ou infelizmente, no entanto, essa ligação não foi suficientemente forte para se reconfigurar e teve de morrer, com o estado comatoso das explorações familiares e da agricultura em geral.Acontece que o Minho não resistirá sem a sua paisagem e cultura rurais, que são um dos seus marcos identitários mais fortes. O fim desta paisagem e desta cultura terá pesados custos. De todos os tipos. Alguns deles, os mais evidentes, já estão bem à vista trata-se da louca urbanização dos campos e do descontrolado desenraizamento cultural, que, abandonando as referências antigas de um estilo de vida, de família e de ligação intergeracional, ainda não é capaz de se adaptar às enormes exigências urbanas de solidão, televisão e desemprego.Os outros custos apenas se vislumbram. Poderão dizer respeito à criminalidade ou ao subemprego, entre outras práticas anti-sociais próprias de quem já deixou de ser algo sem ainda ter passado a ser uma coisa qualquer.O caminho mais óbvio para atalhar esta crise de dimensões alarmantes passa, necessariamente, pelo aprofundamento e generalização da associação entre a agricultura biológica e o turismo rural, seja ele ecológico ou cultural. No entanto, para isso, será necessário, por um lado, o empenhamento dos agricultores e das associações profissionais ou cooperativas do sector e, por outro (e dada a situação limite a que chegamos), apoio do Estado, através de incentivos à restruturação das "empresas" familiares em associações de famílias que sejam capazes de se impor comercialmente com os bons produtos que, em escala microfamiliar, ainda existem entre nós. No entanto, aqui como em nenhum outro lado ou empresa, existe um deficit de gestão, já que é exactamente no mundo rural familiarmente fraccionado que mais persiste quer o analfabetismo completo quer o analfabetismo funcional. Assim, um "choque" de gestão ou, mais modestamente, o destacamento de alguns jovens gestores para administrar e promover projectos de agricultura biológica e turismo rural no Minho seria uma daqueles medidas com um longuíssimo alcance. Para isso, claro, os projectos teriam de aparecer e as pessoas teriam que ser convencidas a investir, não tanto o seu dinheiro como o património afectivo da sua terra, sem o que a única coisa que os espera é, simplesmente, a morte e o mato In Correio do Minho por Francisco Teixeira, Doutor em Filosofia.
A realização de um congresso sobre a agricultura, a paisagem e a cultura rurais no Minho é uma das tarefas locais mais urgentes. A razão para tal é simples a agricultura minhota, quer como agro-indústria quer como empreendimento doméstico de cariz eminentemente biológico, está, simplesmente, em desaparecimento acelerado. A diminuição da população a trabalhar no sector primário é uma das razões maiores para este fim anunciado (ou uma sua consequência). Mas, claro, não é o único. O outro é a incapacidade local para reordenar o território e a sua produtividade agrícola, a que não é estranho o individualismo local, incapaz de pensar o mundo para além do mercado de vegetais mais próximo. Acontece que este triste egocentrismo territorial constitui uma profunda característica cultural das gentes minhotas, que não se muda por decreto. No entanto, e estranhamente, não bastou uma geração para a compreensão e substituição daquele pensamento e práticas autarcicos, como se a ancestral ligação das pessoas à terra fosse mais forte que as forças do mercado e da competitividade internacional. Feliz ou infelizmente, no entanto, essa ligação não foi suficientemente forte para se reconfigurar e teve de morrer, com o estado comatoso das explorações familiares e da agricultura em geral.Acontece que o Minho não resistirá sem a sua paisagem e cultura rurais, que são um dos seus marcos identitários mais fortes. O fim desta paisagem e desta cultura terá pesados custos. De todos os tipos. Alguns deles, os mais evidentes, já estão bem à vista trata-se da louca urbanização dos campos e do descontrolado desenraizamento cultural, que, abandonando as referências antigas de um estilo de vida, de família e de ligação intergeracional, ainda não é capaz de se adaptar às enormes exigências urbanas de solidão, televisão e desemprego.Os outros custos apenas se vislumbram. Poderão dizer respeito à criminalidade ou ao subemprego, entre outras práticas anti-sociais próprias de quem já deixou de ser algo sem ainda ter passado a ser uma coisa qualquer.O caminho mais óbvio para atalhar esta crise de dimensões alarmantes passa, necessariamente, pelo aprofundamento e generalização da associação entre a agricultura biológica e o turismo rural, seja ele ecológico ou cultural. No entanto, para isso, será necessário, por um lado, o empenhamento dos agricultores e das associações profissionais ou cooperativas do sector e, por outro (e dada a situação limite a que chegamos), apoio do Estado, através de incentivos à restruturação das "empresas" familiares em associações de famílias que sejam capazes de se impor comercialmente com os bons produtos que, em escala microfamiliar, ainda existem entre nós. No entanto, aqui como em nenhum outro lado ou empresa, existe um deficit de gestão, já que é exactamente no mundo rural familiarmente fraccionado que mais persiste quer o analfabetismo completo quer o analfabetismo funcional. Assim, um "choque" de gestão ou, mais modestamente, o destacamento de alguns jovens gestores para administrar e promover projectos de agricultura biológica e turismo rural no Minho seria uma daqueles medidas com um longuíssimo alcance. Para isso, claro, os projectos teriam de aparecer e as pessoas teriam que ser convencidas a investir, não tanto o seu dinheiro como o património afectivo da sua terra, sem o que a única coisa que os espera é, simplesmente, a morte e o mato In Correio do Minho por Francisco Teixeira, Doutor em Filosofia.
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