Minho: Sector têxtil em crise pode originar “graves problemas sociais” no Vale do Cávado



Dias difíceis na vida das empresas têxteis do Vale do Cávado. No último ano, 32 empresas faliram em Barcelos, na sequência de uma crise sectorial que se vem arrastando nos últimos meses, agora agravada pela crise financeira nos mercados internacionais. O tecido industrial da região e as autarquias queixam-se de falta de apoios do Governo de José Sócrates e procuram soluções.

Segundo dizem, os últimos executivos investiram noutros pólos industriais do país, como o do Vale do Ave, e esqueceram as dificuldades em que vivem milhares de pessoas no Cávado. “O que eu sinto é que o actual e os anteriores governos nunca olharam para o Cávado como, numa altura, entre 1990 e 1995, olharam para o Vale do Ave”, sublinhou Fernando Reis, presidente da Câmara de Barcelos. “E o Ave tinha problemas idênticos aos que o Cávado tem agora”, continuou. “Seria necessário atender aos problemas como fez no Ave”, disse ainda ao PÚBLICO o autarca do PSD.

Além de Barcelos, os concelhos de Esposende, Vila Verde, Amares e Terras de Boura completam, juntamente com Braga, a lista de autarquias do Vale do Cávado. Entre estes concelhos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Ministério do Trabalho, “o de Barcelos abarca cerca de 74 por cento das indústrias têxteis, sendo responsável por cerca de 62 por cento do emprego ao nível da indústria têxtil existente na região”. Ao todo, quase 3200 empresas do sector assentam arraiais em Barcelos, onde vivem uma situação que, segundo Fernando Reis, “começa a ser insustentável”.

No final de Setembro, a empresa Tor encerrou e 200 trabalhadores foram para a rua. A têxtil contava dívidas que ascendiam aos três milhões de euros e, além dos despedimentos, deixou os antigos funcionários com salários em atraso, que receiam nunca vir a receber. O encerramento da empresa pôs, uma vez mais, a nu a fragilidade do tecido industrial do Vale do Cávado. Contudo, a preocupação do poder local não é de agora. “Há cerca de três semanas, estive numa reunião com deputados da Comissão de Economia e Finanças, onde alertei para a necessidade de criar um programa que apresentasse soluções para os problemas do Cávado”, informou o autarca barcelense. “Ficamos de continuar a conversar, em Braga”, em nova reunião, ainda sem data definida.

Dados de 2004 indicam que o Vale do Cávado açambarca um total superior a 7500 empresas, das quais 4333 exercem actividade no sector têxtil. Estes valores, equivalentes a 57 por cento do total de empresas, tornam evidente a excessiva dependência das indústrias de vestuário. Se o sector acabar por falir na região, mais de 50 mil pessoas terão os respectivos empregos em risco, o que, segundo realça Fernando Reis, poderá originar “graves problemas sociais na região”. “O diagnóstico está feito. Mas não vemos resposta por parte do Governo”, reforçou o autarca.

O secretário-geral da Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB), João Albuquerque, disse à Lusa que o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) pode ser uma das ferramentas utilizadas, devendo conter programas e medidas dirigidas à modernização do sector têxtil. A este respeito, o presidente da Câmara de Barcelos disse existirem “possibilidades no QREN para ajudar a resolver o problema”, mas, segundo refere, pouca importa de onde vêm os apoios. “QREN, Orçamento de Estado... Não me interessa de onde vêm os fundos. Isso não me compete decidir”, afirmou. Fonte Jornal Público por Luís Lima


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