Vila Verde: Agricultores idosos não se protegem dos químicos


Estudo revela que há falta de formação e de cumprimento das regras de segurança Lavradores do Minho esgrimem tradição, mas há excepções.
"É difícil comprar os equipamentos de protecção, são caros e de curta duração", desabafa António Gonçalves, agricultor há 10 anos, em Goães, Vila Verde, confrontado com os resultados de um estudo sobre o manuseamento de produtos químicos que dá conta de a maioria dos agricultores da região de Entre- Douro e Minho não cumprem regras na área da segurança e higiene.Da responsabilidade da Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas (Anipla), o projecto "Cultivar a Segurança" apurou a realidade através de inquéritos em vários concelhos. Os resultados não são surpreendentes poucos usam o equipamento adequado, sendo que a maioria ainda recorre a umas calças e camisas velhas quando realiza os tratamentos fitofarmacêuticos nas suas produções (pôr o sulfato, os herbicidas, entre outros procedimentos).António Gonçalves, de 43 anos, protege-se como pode. Não é dos que resiste às mudanças, nem dos que liga demasiado a novas regras, mas garante usar "uma máscara de dois filtros e impermeável" sempre que se justifica. "Tive alguma formação na área dos químicos, enquanto estive em França e, de acidente de trabalho, só tive uma queimadura há alguns anos".No entanto, sabe que os agricultores mais idosos apenas se valem da sabedoria tradicional, trabalham com algum descuido e carecem de formação na área que, segundo o estudo, apenas seduz uma minoria. A Anipla apurou que 74% dos 200 inquiridos nunca teve qualquer formação. "Já tive, mas foi uma desinformação", atira, algo cáustico, Paulino Dias, agricultor em Marrancos, no mesmo concelho."Não uso nada para me proteger", admite. E acrescenta "As pessoas que fazem esses estudos não percebem nada de agricultura. Normalmente, aprendem com os agricultores e não o contrário". A falta de dinheiro é argumento comum, bem como o estado da agricultura actual. "Ganha-se mais de barriga ao sol", acrescenta o agricultor, ainda jovem. "Todos se aproveitam do nosso gosto pela terra. Esses estudos são mais uma forma de manipulação", remata. Avesso a qualquer paranóia securitária, refere que os agricultores sempre souberam lidar com o cultivo, uma tendência que não se coaduna com a chegada constante de novos produtos que os mais velhos não sabem manusear. De acordo com o estudo, são, de facto, poucos os que lêem os rótulos das embalagens na totalidade (44%). Os restantes lêem só "o que interessa" e, desses, só 26% lêem as precauções de utilização. "Se eu tiver duas horas para sulfatar, tenho de gastar uma a ler aquelas letras pequeninas", sustenta António Gonçalves. "E essas letrinhas são sempre uma ratoeira", considera.Para o presidente da Associação de Defesa dos Agricultores do Distrito de Braga (ADADB), José Lobato, nas cerca de 18 formações anuais prestadas por aquela estrutura associativa os agricultores mais idosos ficam quase sempre de fora."São pessoas que já nem vivem em exclusivo da agricultura, porque já não dá para subsistir. Fazem-no em part- time e não têm tempo para essas coisas", esclarece. Fonte JN por Denisa Sousa e Alfredo Cunha

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